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Criando um mapa para a arte navegar

na comissao do circuito thiago berzoini petrillo nina mello andre lopes valeria faria e renato abud lancam reflexao sobre a arte contemporanea

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Na comissão do circuito, Thiago Berzoini, Petrillo, Nina Mello, André Lopes, Valéria Faria e Renato Abud lançam reflexão sobre a arte contemporânea
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Na comissão do circuito, Thiago Berzoini, Petrillo, Nina Mello, André Lopes, Valéria Faria e Renato Abud lançam reflexão sobre a arte contemporânea

Clima, relevo, localização, economia, cena cultural. Juiz de Fora tem características peculiares. Na cartografia das artes visuais, é, no mínimo, intrigante perceber um histórico fervilhante da pintura e uma quase esterilidade na cena contemporânea. Enquanto artistas se reuniam em torno de uma prolífica e profícua Associação de Belas Artes Antônio Parreiras, apresentando a paleta e a textura das artes juiz-foranas, um mercado ia se formando e uma geração se inscrevendo às bordas do Paraibuna.

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A escola, agora, é outra e se situa no alto das montanhas, na UFJF. O foco também mudou e se alinha muito mais às pesquisas de linguagens do que ao frêmito das cifras. Não há equilíbrio nessa equação formatada pelo tempo, e um fosso se criou entre academia e cubo branco. O que se vê nas paredes das exposições não é o que está sendo pensado entre as paredes das salas de aula. Pensando nisso, o 1º Circuito Arte Atual tem como primeira missão a reparação. Iniciativa da pró-reitoria de Cultura da UFJF, a espécie de feira de artes visuais que acontece entre 19 de novembro e 27 de dezembro integra galerias públicas e privadas no desejo de mapear o hoje, entendendo a atualidade tanto pela presença dos veteranos, quanto dos jovens nomes.

Prorrogada de 31 de outubro para 4 de novembro, uma convocatória convida artistas da cidade a inscreverem até três trabalhos. Da fotografia às linguagens híbridas, as obras serão distribuídas por sete galerias de Juiz de Fora: três públicas (o espaço da reitoria da UFJF, a Galeria Arlindo Daibert no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas e a Galeria Guaçuí no IAD) e quatro privadas (CasaVinteum, Espaço Manufato, Galeria Hiato e Bodoque). “Queremos ressaltar quem trabalha e vive das artes visuais. Nosso foco é dar visibilidade para os que têm muito tempo de carreira e para a moçada nova. Tem muita gente na cidade com trabalhos de muita qualidade”, destaca a pró-reitora de Cultura, professora e artista visual Valéria Faria.

Onde está a cena? Para a artista e coordenadora da CasaVinteum Nina Mello, ainda não há resposta para uma dispersão sem tamanho. “Sinto que na fotografia há uma efervescência muito grande. Tem muita gente jovem começando, com uma linguagem que não é nova mas se apresenta nova pelas possibilidades que traz. Sabemos que existe uma produção, mas ainda não identificamos onde está. Precisamos mapear a produção de hoje”, diz. Segundo Valeria, a proposta da grande exposição já abre caminhos para uma catalogação da produção, o que poderá, principalmente, abrir espaço para novas e urgentes pautas do setor. “Os artistas precisam se articular, porque sem isso é muito difícil dar continuidade às ações”, concorda o artista André Lopes, um dos coordenadores do Espaço Manufato.

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Vale quanto pesa?

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Visibilidade não basta se não vier ligada a um planejamento de sustentabilidade, que está no foco do circuito pelo viés da possibilidade de mercantilização. “Precisamos desmitificar essa questão do mercado da obra de arte. O artista cria um produto que pode ser vendável. E quem tem suas galerias na cidade sabe disso e precisa sobreviver assim. O artista não deve ter uma tabela de preços, não precisa vender pintura a metro quadrado, mas precisa lidar com os valores. A ideia de fixar uma faixa de preços, de R$ 100 a R$ 1.000, é para dar oportunidade de despertar a cultura da compra de obra de arte, que ainda é rara em Juiz de Fora”, comenta Valéria Faria. “E a cultura da compra cria a cultura do colecionismo”, completa o artista, professor e coordenador da galeria Hiato, Petrillo.

“A arte é resultado de muito trabalho, exige dedicação e demanda muitos investimentos do artista”, pontua Nina Mello. Segundo galeristas e artistas, é urgente pensar num mercado de arte que não se ampare nas casas de molduras ou lojas de decoração, como é corrente e histórico na cidade. “Hoje tem gente muito nova colecionando obra de arte no Brasil, principalmente no Rio e em São Paulo. É possível que isso exista aqui também”, sugere Valeria. Para ela, a saída é a opção por uma profissionalização, que inclui todo um sistema. “Não é o artista quem dá o enredo, mas uma figura – do curador ou do marchand – que enreda. Não é questão de se corromper ao mercado, mas se adaptar a uma realidade”, pondera Petrillo.

Abaixo o deserto

Ainda que pensar no fortalecimento de artistas e espaços seja uma questão imediata, o trato com o público faz-se muito mais importante nessa balança. “Há muita dificuldade de contato entre artista, espaço e espectador”, confirma o artista e co-coordenador do Espaço Manufato Renato Abud. “Nos vernissages há um movimento muito grande, que se mantém nos cinco primeiros dias, mas depois há uma queda enorme. Fico pensando até em outros eventos, para retornar com as pessoas para a galeria”, reclama André Lopes.

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“Juiz de Fora não é uma cidade sem espaços. Galerias, nós temos, mas não temos a cultura de visitação. Não digo que é uma falta de interesse das pessoas, mas ausência do hábito. O interesse precisa ser despertado”, aponta Valéria Faria, citando que a opção por múltiplos espaços ao mesmo tempo é uma forma de dar vigor e fôlego à divulgação da arte local.

“Sinto que o próprio IAD precisa criar esse hábito da frequência às galerias nos alunos. Eles precisam ver o que os colegas estão expondo”, sugere Petrillo. Nina Mello concorda, puxando para si tal responsabilidade: “Temos público, ele existe, e também temos as galerias, além de gente que está a fim de fazer. Só falta reforçar esse encontro para apontar caminhos”. Segundo eles, o costume da galeria como espaço social faz com que o lanche para as escolas seja o mesmo do vinho para os adultos. Nesse sentido, é preciso romper, estabelecer rotas, mas, antes, reconhecer o mapa.

Para acessar o edital da convocatória, clique aqui.

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