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Conheça grupo que organiza jogos de tabuleiro

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Felipe Coelho, Igor Tancredo e Juan Barezzi formam o grupo Covil, que ajuda interessados em aprimorar ou simplesmente se divertir com mais organização nos jogos de RPG (Foto: Rafael Bouças)
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Se você viveu os anos 1980, 1990 ou início dos anos 2000, deve se lembrar de um dos mais populares desenhos animados da TV brasileira, “A Caverna do Dragão”. Nele, seis jovens são levados a um mundo épico em que cada um assume uma personalidade e, na tentativa de retornar ao mundo real, vivem aventuras mágicas guiadas por um baixinho que desaparece nas horas mais necessárias, o Mestre dos Magos. O sucesso televisivo, que deixou fãs órfãos e um final nunca contado, é baseado em outro grande sucesso, mas dos tabuleiros, o jogo Dungeons & Dragons (D&D).

Ao contrário da versão televisiva, o jogo de RPG (Role-Playing Game), ou jogo de interpretação de papéis em tradução literal, criado na década de 1970, não ficou perdido na memória dos nostálgicos telespectadores dos programas televisivos que animavam as manhãs. D&D se tornou não só um dos mais conhecidos jogos de tabuleiro de todos os tempos, como ajudou a popularizar o RPG, que atrai cada vez mais fãs. De acordo com dados da Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), quase 10% de todas as vendas de brinquedos em 2018 foram de jogos (tabuleiro, cartas, figuras e memória).

Três desses apaixonados pelo gênero observaram não só uma chance de atrair um público mais diversificado para o entorno dos tabuleiros, como também de empreender. Assim surge o Covil, a criação dos estudantes universitários Igor Tancredo (22 anos), Felipe Coelho (22) e Juan Campos Barezzi (21).

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A iniciativa partiu de uma demanda observada por Igor. Segundo ele, era cada vez mais difícil encontrar alguém disposto a ocupar uma função crucial para o jogo, a de mestre ou narrador – similar ao que o personagem Mestre dos Magos desempenhava em Caverna do Dragão. Convidado a “mestrar” para um grupo de conhecidos, imaginou que outras pessoas poderiam estar precisando do serviço. O próximo passo foi trazer Juan e Felipe para o projeto e divulgá-lo por meio do Instagram.

Foto: Rafael Bouças

“Mestrar é como se você estivesse contando um conto ou livro para as pessoas”, explica Juan. Reunidos em torno do tabuleiro, os jogadores criam seus personagens, seguem um sistema específico de regras e imergem em uma história, que pode variar entre uma infinidade de temas, contada e construída pelo mestre. “O jogador cria um personagem com dada personalidade e pensa o que quer viver com ele. E o mestre vai trabalhar com isso para te dar uma história que agrade e que todo mundo se divirta. E no meio disso você vai passar por problemas, porque tem outras pessoas que têm motivações diferentes”, complementa Juan.

Os pacotes oferecidos pelo Covil vão dos mais básicos aos mais sofisticados (com miniaturas dos personagens), girando em torno de R$ 5 a R$ 15 por pessoa. A atividade ainda inclui ir até a casa dos jogadores ou em bares, levando o material necessário para o desenvolvimento de one shot (partidas curtas), ou campanhas (desafios longos com encontros semanais). Além da função no encontro, existe uma espécie de pré-produção, que exige o planejamento das histórias e horas de leitura dos livros que contêm os sistemas de jogo.

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Jogando fora de casa

Foto: Rafael Bouças

Além de compor a “mesa” daqueles que já têm contato com o gênero, o trio observa uma curiosidade crescente de pessoas externas ao nicho e estimulam esta inserção. “Nosso objetivo é fazer do RPG uma coisa diferente daquela que crescemos jogando. Jogávamos com amigos, dentro de casa, e agora a gente pode sair e ir para um bar jogar e ver isso como uma coisa normal e com as pessoas se divertindo”, relata Igor.

“O RPG é um nicho muito fechado. Normalmente é homem de certa idade que aprendeu com o pai ou o tio ou o irmão mais velho. É difícil de você ver uma mulher jogar, por exemplo. São situações de estar jogando e a pessoa ser preconceituosa com ela e não dar abertura para jogar”, denúncia Juan. “Com o Covil, eu posso difundir o que eu mais gosto e de uma forma não tóxica”, complementa observando que quase todas as mesas “mestradas” por eles possuem a presença de mulheres.

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O grupo observa que um imaginário negativo foi criado em torno do RPG por parte de algumas pessoas, por conta de episódios pontuais envolvendo alguns jogadores. Contra essa corrente, o trio se lembra das conquistas pessoais proporcionadas pelos jogos. “Eu era uma pessoa muito tímida. Por volta dos 14 para 15 anos,comecei a jogar e a conversar mais com as pessoas. Como eu não estava sendo eu, era mais fácil conversar. Eu era aquele personagem. Claro que o RPG não é uma terapia, não é um tratamento. Isso você faz com um profissional. Mas é uma ajuda”, conta Igor.

Aprendendo História

Foto: Rafael Bouças

Juan menciona as possibilidades que o RPG oferece para além do entretenimento, como por exemplo a aventura “A Bandeira do Elefante e da Arara”, desenvolvida por um autor brasileiro. “‘A Bandeira’ é sobre a história do Brasil, no período da colônia durante as expedições dos bandeirantes. O autor é um historiador brasileiro. O livro de interpretação de papéis possui um capítulo que mostra que ele é para ser usado em escolas, para ensinar História. As crianças jogam e vão aprendendo sobre folclore, os acontecimentos e personagens importantes da nossa história”.

Para Felipe, contar histórias e possibilitar a conexão entre as pessoas é o que traz mais satisfação. “Desde cedo jogo RPG, e eu sempre fui apaixonado pelo fantástico. Você poder criar várias histórias e estar no controle daquilo até certo ponto. É um universo que você consegue construir com várias outras pessoas, e isso é o mais legal do RPG. Você como jogador ou como mestre pode ter uma ideia e consegue desenvolvê-la com outras pessoas.”

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