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Amigos e parceiros se despedem de Américo Vieira Junior

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Américo Vieira Junior posou para as lentes da Tribuna em sua última entrevista, para o repórter Mauro Morais, em janeiro de 2020 (Foto: Fernando Priamo)
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A morte de Américo Vieira Junior, assassinado a facadas no último domingo (28), foi um choque para amigos do músico, vocalista da banda Raul Queixas & Mágoas, conhecida em Juiz de Fora e região por homenagear a vida e a obra de Raul Seixas. Foi a abreviação da existência do artista e fã do cantor baiano, que o conheceu ainda em 1972 e do qual passou a comprar todos os discos a partir de 1978. Entre 1989 e 2016 foi o frontman da Raul Queixas & Mágoas, dividindo-se entre o palco e a carreira na Polícia Federal. Mesmo após descobrir um câncer na próstata, em 2019 – que já havia se espalhado pelos ossos -, Américo ainda tinha fé na vida para tentar mais uma vez, como ficou claro no “Outras ideias” dedicado a ele, em janeiro de 2020, escrito pelo ex-repórter da Tribuna Mauro Morais.
E é sob o impacto da tragédia que levou um dos mais conhecidos personagens da música juiz-forana que diversos amigos e músicos da cidade lembram e homenageiam não apenas o artista, mas a figura humana que se descobriu cantor durante o show de outra banda cover de Raul Seixas, no Rio de Janeiro, quando o vocalista não pôde atender ao pedido de “Ave Maria da Rua” e Américo se ofereceu para cantar “não estou cantando só, cantamos todos nós, mas cada um nasceu com a sua voz.”
A voz se silenciou, mas a lembrança continuará viva.

“Eu o conhecia há quase 30 anos. Era um cara muito amigável, com um coração muito bom. Tratava todo mundo superbem. Fui a vários shows dele. Era um policial que virou ‘fora da lei’. Um cara que não teve nem medo da chuva e nem medo da morte.”
Tuka, músico (Tuka’s Band)

“Eu conheço o Américo desde 1993. Eu tinha um bar em São Pedro que se chamava ‘No Meio do Mato’. Eu não me lembro como cheguei até ele, mas eu sempre gostei muito de Raul. Por acaso, ele começou a tocar no bar aos finais de semana. A gente foi ficando cada vez mais fã, porque ele gostava muito do Raul. Ele sempre foi um cara de sorriso, descontraído. Separava totalmente a parte artística da profissão que ele tinha. Eu comecei a produzir alguns shows dele, da banda. Ele começava 22h e parava 7h. Fazia isso amarradão, porque nem tinha grana rolando. Era o que ele gostava realmente de fazer. Há pouco tempo ele estava tocando em algum bar, eu senti que ele estava debilitado. No ano retrasado, quando rolou de ele ficar hospitalizado, a gente foi ficando mais próximo. Eu o vinha acompanhando no processo de tratamento, na esperança de que ele voltasse com a banda. Vai fazer uma falta enorme, porque a banda, na região, era referência. Durante muito tempo ele tocava em muitas cidades, e era um grande representante do ‘Raulsseixismo’.”
Eduardo Scaldini, produtor

“O Américo era um cara de intimidade diária. Nós vivemos juntos, aprendemos juntos tudo. Ele foi um pai, um filho e um irmão. Uma hora ele era um adulto que te ensinava a coisa mais bonita do mundo, e em outra hora ele era uma criança que precisava tomar uma bronca. Ele gostava da graça na vida dele, era um brincalhão, um fanfarrão. Ele deixa um legado de ensinamentos para as pessoas que conviveram com ele, que faz com que ele se torne uma pessoa apaixonante. Ele deixa uma quantidade muito grande de amizades. Na Raul Queixas & Mágoas, ele falava: ‘nós não somos cover de Raul Seixas, porque nós não estamos aqui para tentar nos igualar ao Raul Seixas. Nós estamos aqui para levar adiante a obra desse mestre’. Ele falava uma frase do Raul, que era: ‘antes de ler o livro que o guru lhe deu, você tem que escrever o seu’. Ele falava da liberdade de você ser quem você é e buscar o seu próprio caminho. A frase grande da Sociedade Alternativa do Raul é: ‘faz o que tu queres pois é tudo da lei’. Porque você tem a liberdade de escolher e de viver a vida da forma que você queria. O Américo fez isso. Escolher viver a vida da forma que você quer e da maneira que você quer não significa invadir o espaço do outro. Você pode ser um libertário e um anárquico, mas você tem que viver sua liberdade dentro do seu espaço, é isso que Raul pregava. E o Américo pregou isso muito bem. Ele fazia o que queria, era um absurdo vivo, mas era um absurdo que não feria ninguém. O Américo nunca feriu ninguém.”
Rodrigo Bastos, guitarrista do Raul Queixas & Mágoas

“Durante todo acontecimento do Raul Queixas, palco de nossa convivência, Américo foi Maluco Beleza. Não porque incorporasse uma personagem: não era seu papel, mas sua existência no mundo. E, se cada um de nós é realmente um universo, este tinha coração, sem dúvidas: em cada música, sua voz o dedicava, cantando nosso repertório, ou tudo que vinha na cabeça _ não foram poucas as vezes em que, mesmo à capela, ou com um violão improvisado, iluminou de emoção aqueles e aquelas que com ele formavam coro na plateia. Com um copo de whisky e a força da imaginação, dividia a cor do luar com cada um de nós, enquanto tocávamos nossa banda invisível, transformando água em vinho, cuspe em mel. Porque também era um pouco disso, nosso show, que ia lá de novo, com sua teimosia: em tempos em que todo jornal nos dizia que já não era mais primavera, aquilo era ouro, mas não de tolo. Eu sei que nossa cidade não tornará a ouvir sua voz, mas sua maluquez, misturada com sua lucidez, em nossa memória, ainda ecoará também o sonho de uma sociedade alternativa: quando acabar, o maluco seremos nós.”
Diogo Dadalti, violonista e tecladista do Raul Queixas & Mágoas

“Foi uma brutalidade sem tamanho com o nosso amigo. Eu conheci o Américo por conta do Raul Queixas & Mágoas, por ser fã do Raul e por ser uma banda que já era conhecida na cidade na década de 1990. Eu fui chamado pra entrar na banda em 1999. A partir daí, eu comecei a ter contato com o Américo. Foi um lance muito especial, porque eu gostava muito da banda, e fazer parte daquilo era muito maneiro. O Américo era um cara que me dava carona para os ensaios, para os shows. Ele estava sempre conversando das coisas, era meu amigo tricolor, então a gente estava sempre falando do Fluminense. Era um cara sempre muito alegre, ele chegava em qualquer local e transformava o ambiente, sempre fazendo piada, sempre muito feliz. E esse era o ambiente do Raul Queixas. Você podia ter passado um dia horrível, mas no ensaio era contagiante. O Américo sempre tinha alguma coisa para contar, sempre fazia piada. As várias vezes que eu estive com ele era sempre uma alegria, todo mundo gostava dele e queria estar perto. O Américo é a alma do Raul Queixas, ele era tudo de bom na banda. É uma perda inestimável para todo mundo. O Américo era um cara de muitos amigos. É um exemplo a ser seguido como pai e como amigo. Eu conheço os filhos dele e sei como a convivência era linda. Essa perda vai ser muito difícil de passar.”
Camilo Rangel, baterista do Raul Queixas & Mágoas

 

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“O Américo foi sempre uma referência muito bacana de paixão pelo rock and roll e, principalmente, pelo Raul. Ele era um dos caras que sempre trabalhou para conservar a memória do Raul e as ideias dele. Logo que ele encerrou os processos do Raul Queixas, eu acabei fazendo um tributo ao Raul com a minha banda. No primeiro tributo que eu fui fazer no Cultural, eu vi que ele estava presente. No final do show, ele foi falar comigo. Ele chegou com a cara séria e falou: ‘cara, eu quero falar contigo’. Depois, ele foi no camarim, me deu um abraço e falou: ‘parabéns, tem que fazer isso mesmo. Estou passando o bastão para você porque você manda muito bem fazendo o tributo. Gostaria que você mantivesse isso, porque a memória do Raul e o trabalho dele não podem ser esquecidos’. Com isso, eu fiquei emocionado, por ser uma referência para mim. Foi a última vez que a gente se encontrou.”
Rhee Charles, músico (Acoustic N’ Roll)

“Pela primeira e única vez que tive a honra de dividir o palco com um dos meus mestres, que me inspiraram e foram exemplos pra mim de como um frontman deve atuar em cima do palco, num dado momento ele me olhou com muito respeito e se ajoelhou diante de mim e eu mais do que depressa me ajoelhei diante dele também e seguramos forte nossas mãos e fizemos uma reverência à música, pois ela nos colocou ali. (…) Vai na paz, mestre Américo Vieira Junior, e muito obrigado por ter me ensinado tanto mesmo sem saber que ensinava. Queria muito aquele encontro e ele aconteceu.”

Eminho, músico (Muamba)

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