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Mostra de Tiradentes: confira os filmes vencedores do Festival

aquele que viu o abismo Divulgacao
“Aquele que viu o abismo” ganhou o Troféu Carlos Reichenbach pelo Júri Jovem do festival (Foto: Divulgação)
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Ao iniciar a sessão do filme “Aquele que viu o abismo”, que integrou a Mostra Olhos Livres da Mostra de Cinema de Tiradentes, Negro Léo, que assina a direção junto com Gregorio Gananian, avisou que se tratava de um filme para ver e ouvir. Puro e simplesmente. E isso fez toda a diferença. Por obviedade, um filme é mesmo para ver e ouvir, mas sempre há essa vontade de se fixar nas entrelinhas, buscar o por trás. No entanto, o filme que ganhou o Troféu Carlos Reichenbach, pelo Júri Jovem do festival, se instaura exatamente na narrativa do encontro entre o que se escuta e o que se vê. As construções, amarradas pela montagem de João Dumans (diretor de “Arábia” e “As linhas da minha mão”), junto com Gregorio, entregam um filme noir futurista e, principalmente, um filme jazz. 

“Aquele que viu o abismo” é filme coletivo. E a turma toda, dançante, subiu, na noite de encerramento, para pegar o troféu. A justificativa do Júri Jovem destaca, entre outras coisas, exatamente a liberdade da construção que renega a linearidade que se espera de uma narrativa e do tempo – o tema deste ano da mostra. O corpo e a voz de X, personagem vivido por Negro Léo, a câmera de Gregorio, a montagem de João, a presença de Ava e Uma Gaitán Campelo Rocha Gonçalves, a voz desconcertante de Clara Choveaux, a trilha de Henri Daio e Negro Leo – tudo é pretexto da descontinuidade. E, por isso, é um filme para ver e ouvir. 

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E eles entregam: o filme começou a ser feito a partir de uma viagem da turma para a China, uma das locações do longa, junto com um outro espaço (esse fechado) onde cabe de tudo. Lá, gravaram algumas imagens seguidas pelo primeiro contato de Negro Léo com um livro sobre escrita telegráfica. Léo, que é músico, se rendeu à interpretação intuitiva, dando vida à X de maneira conturbada, como é mesmo o personagem. Trêmulo, era seguido pela imagem, guiada por Gregorio Gananian. Uma câmera nada estática de propósito. Trêmula como quem é perseguido. 

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Imagens feitas, na China, recentemente deram início ao que chamaram de “inventário”. “A gente levantou um inventário, porque não sabia exatamente o caminho do roteiro e da montagem. Foram  uns caminhos possíveis. Quase uma brincadeira: o cinema tem trem, então vai ter, e mais o que tiver. Foi uma coisa quase paranormal de supor e ver as histórias que dá para contar”, assume Gregorio. Uma das histórias possíveis é que X se voluntaria para um recrutamento da Prolife, empresa que testa remédios neuropsicológicos em seus pacientes. O efeito é uma série de paranóias e caminhos. Além das locações, efeitos de laser se sobrepõem sobre as imagens para garantir a viagem – e a trilha é um caso à parte. 

Negro Leo reitera: “O cinema é para ver e ouvir. Se você quiser montar uma estrutura na sua cabeça, é com você. Mas é evidente, como é um filme de ficção, é preciso estruturar para fazer um filme de ficção. Tem uma história ali. Obviamente. Mas o menos importante talvez é tentar entender a história”. Ele ainda segue ressaltando que a grande chave de “Aquele que viu o abismo” é observá-lo a partir dos sentidos. “Aí, sim.” E Gregorio completa: “A gente não quer encerrar nada. A gente quer abrir portas”. 

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E Ava percebe que é exatamente na entrega à ficção que “Aquele que viu o abismo” se destaca. “Para mim, ficção está muito mais conectada a um processo de invenção, em que eu vou realmente inventar um novo mundo do que ficar colada a representação da realidade, de uma história, que tenha linha do tempo realista, que está mais ligada à realidade. O que é um filme de ficção? Contar uma história? Acho que não. Um filme de ficção é você extrapolar todos os limites da realidade. Nesse sentido, uma verdadeira ficção. É uma ficção total. Se existe um filme de ficção, é esse”, ri, a filha do cineasta Glauber Rocha. 

Equipe de produção do filme  “Aquele que viu o abismo” se reúne para receber o troféu (Foto: Leo Lara/Universo Produção)

A turma ainda confessa que o filme foi finalizado recentemente mesmo, semanas atrás. E foi um processo de primeiro montar o filme, fazer a trilha, voltar para a montagem. Construir intuitivamente mesmo, dando espaço às diversas possibilidades. E um dos caminhos é, sim, ver o filme de olhos fechados. A trilha e a edição contam uma história. Gregorio brinca que queria ser músico e, talvez por isso, se aproxima tanto dela. Mas explica: “O cinema brasileiro tem que aprender com a capacidade da música brasileira de internacionalização, e com biscoito fino, inventividade, sem se render ao que eles esperam, pelo inesperado. E isso sempre tomou a existência no cinema, e a gente sempre se manteve perto desses músicos. Você se sente honrado de trabalhar com pessoas que admiro. Para mim, o cinema é um altar para a música. A tela de cinema é uma janela acústica. É esse lugar: o cinema é um lugar para a gente ouvir música”. 

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Negro Leo compôs a trilha e a própria edição de Henri é outra trilha. “Tem um lado que a edição de som se mistura, dá para ver de olhos fechados, conta história. Se assistir de olhos fechados, você vai entender os lugares. É um processo de música concreta. E vira música. Foi uma sacada do Gregorio e que a música do Leo se apresenta com a radicalidade da canção. Foi um encontro muito único, mágico”, conta Henri. E Ava acaba contando que foi montando filmes que descobriu que se estava fazendo música. “Montagem é música.” 

Outro grande destaque do filme é a música cantada por Ava. Uma música profunda, um momento de alívio no meio de um turbilhão na vida de X. Ela foi composta por Negro Leo, que, como conta Ava, faz música em cinco minutos. E foi assim com essa. “Muitas coisas acontecem de uma hora para outra. A coisa estava fermentando na minha cabeça. A Ava estava em uma reunião, fui lá para baixo, e voltei com três músicas. E a noite eu mostrei ao Greg, eu achava que era a música. O título não fazia sentido. E a gente foi descobrir qual ia ser o eu lírico da canção. E a gente sabia que era a Ava cantando. E o Greg teve a solução de falar que é o homem livre. A letra já estava pronta, só faltava saber que era o homem livre.” E ela encaixou perfeitamente no que “Aquele que viu o abismo” se empenha a contar.

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