Realmente, não se evita a primavera: esses ciclos irretocáveis e irreparáveis que, por mais que exista algum esforço contra a força, hão de chegar. E, mesmo diante disso, dessa negação de ciclo, “ainda nascerão as flores que há em ti”, diz a música “Morte e vida“, de Alice Santiago, Sarah Vieira, Daniela Zorzal e Nicolle Bello, que compõe o primeiro álbum da banda Tata Chama & as Inflamáveis, “Fogo-fátuo”, que será lançado nesta sexta-feira (30) nas plataformas de streaming. Antes, para celebrar, o grupo recebe o público nesta quinta (29), no Muzik, para uma audição do disco, a partir das 21h. A noite terá discotecagem de Amanda Fie.
As autoras de “Morte e vida”, lá em 2017, talvez não imaginassem que o encontro entre elas extrapolaria amizades e rodas de violão e resultaria em uma banda que foi crescendo em alcance, ideia, formação e trabalho. Depois de “Despertar”, o primeiro EP delas (quando a banda era formada exclusivamente por mulheres), ainda com uma outra formação, muita coisa mudou: as idas e vindas de uma banda independente, que, agora, não tem mais Nicolle, mas, além das três supracitadas, é formada também por Tata Rocha, Pedro Brum, Bruno Targs e Eduardo Yroxe. Agora, “Fogo-fátuo” surge mesmo como o fenômeno gravado no nome do disco: “Em um sentido conceitual, ele (o fenômeno fogo-fátuo) representa os ciclos que regem a vida e o universo, e que mostra que todos os estágios da caminhada são importantes e bonitos, mesmo quando você acha que está tudo acabado, a vida ainda está acontecendo, independente de nós”, explicam, em conjunto, Tata e Daniela, ao lado de Maria Elisa Duarte, a produtora e, praticamente, oitava integrante do grupo.
Das 12 músicas que compõem o disco, sendo duas vinhetas, duas já foram reveladas em singles lançados neste mês: “Histérica”, de Alice e Daniela, e “Herança”, também das duas com Sarah e Laura Jannuzzi – esta ainda participa da faixa. As duas canções que de cara apresentam a mudança de Tata Chama & as Inflamáveis revelada em “Fogo-fátuo”, não por acaso, recuperam a ancestralidade e os pensamentos que, há tempos, rondam a ideia do que é ser mulher na sociedade. As outras músicas que fazem parte do disco, vez ou outra, já pintaram pelos shows da banda, como “Terra nova”, que surgiu e foi revelada durante a pandemia, como uma catarse, em um vídeo lançado por Alice e Pedro. Além de “Tierra y libertad”, a grande aposta do grupo, que ainda contou com vozes de Nicolle Bello e Léa Duez. Faz parte também um trecho de “A torre”, de Clara Castro e Laura, que já foi lançada por Clara em seu último álbum, “Ana”.
Um disco subjetivo e coletivo
Desde que o show do “Despertar” foi idealizado, o grupo foi passando por mudanças que já alteraram até a sonoridade e foram sendo encaminhadas para o que é “Fogo-fátuo”. No “Despertar – Ao vivo” isso já fica nítido. “A sonoridade do disco é resultado do desenvolvimento dessa junção que somos nós”, afirma Alice. “Fogo-fátuo” é a apresentação do que Tata Chama & as Inflamáveis é agora.
Gravado durante a pandemia, o álbum é composto por algumas músicas de outros tempos, outras, foram sendo concebidas nesse processo. “O disco permeia vários momentos, é um disco que traz densidade e esperança. Ele fala de ciclos e não necessariamente de uma forma proposital, com uma relação direta ao que passamos todos. Ter materializado esse trabalho também representa a resistência do nosso trabalho. Atravessamos juntos e agora esperamos abrir um novo caminho”, concorda a banda, em resposta coletiva enviada à reportagem. Uma banda formada por seis pessoas precisa do encontro para fazer com que o som seja também a união de cada um deles. E é tocando junto, de acordo com eles, que essas subjetividades se encontram, e deixam fluir o que, afinal, é Tata Chama & as Inflamáveis.
Futuro e além
O disco foi gravado através da Lei Aldir Blanc de Minas Gerais e finalizado com o apoio de um financiamento coletivo, que ainda permitiu fazer com que as faixas tivessem os “visualizeres” no YouTube, que vão ser lançados ao meio-dia também da sexta-feira (30), no canal da banda. Até que “Fogo-fátuo” fosse finalizado, foi preciso um processo, também permeado pelas mudanças. E tudo isso foi necessário para chegar ao lugar onde toda banda independente almeja: “expandir nosso universo conceitual e ter a chance de lançar este trabalho em níveis de alcançar uma projeção maior na cena musical da atualidade”, define Daniela.
Com essas tantas mudanças, reafirmando, ainda assim, o espaço que querem ocupar, é difícil abandonar o que “Despertar” significou na vida de cada integrante – muitas vezes a entrada oficial e de coragem no mundo da música. É um aprendizado diário conviver com outras ideias e fazer disso músicas. “Vamos aprendendo diariamente sobre os perrengues e as belezas de fazer música no nosso tempo, sobre relações, sobre alegrias e tristezas, amores e horrores. No fim das contas, o que ‘firmou’ mesmo o grupo foi o movimento da vida, o tempo e a convivência, cada coisa que passamos juntos nesse período”, declara Tata. E como forma de confraternizar esse momento, a banda preparou a audição de “Fogo-fátuo” no Muzik nesta quinta. O show oficial de lançamento está previsto para acontecer em outubro.