Mais que trilhos, locomotivas e memórias que fazem referência à ferrovia, uma veia tão pulsante na história de Juiz de Fora, o Museu Ferroviário é, atualmente, um dos polos culturais mais relevantes da cidade. Este fim de semana coroa um agosto marcado pelas comemorações dos 16 anos do espaço, com uma série de atividades culturais, incluindo exibição de filmes, oficinas, feira de alimentos e produtos artesanais, piquenique compartilhado e visitas guiadas, além do atendimento estendido todos os sábados, das 10h às 17h (ver programação deste sábado). A programação é livre para todos os públicos e integra a campanha “Todos Juntos, Sempre em Frente”, que tem como objetivo destacar a participação de diversos segmentos sociais na manutenção do equipamento cultural urbano. “Num grande abraço com a comunidade, a campanha faz menção ao movimento dos trens, em que a locomotiva puxa os vagões, e todos chegam ao mesmo destino, com o mesmo objetivo”, explica o coordenador de espaços da Funalfa Luiz Fernando Priamo.
Para ele, o sucesso do museu como um espaço cultural plural vai ao encontro da política de ocupação dos ambientes institucionais da cultura. “Os espaços culturais são terrenos muito férteis para que a gente os torne um lugar que seja comum a todas as pessoas. Porque ainda se tem uma visão da cultura como sendo um tanto distanciada da população. Quando abrimos o Museu Ferroviário para um aulão de hip-hop, ou para uma feira de agricultura familiar no mesmo ambiente em que há um acervo de ferrovia, isso já ajuda a desmistificar o espaço.”
Segundo Priamo, a intenção é incluir cada vez mais dispositivos da Funalfa nesta lógica de ocupação, algo que já acontece com o CCBM e agora também com a a Biblioteca Municipal Murilo Mendes, que recebe o projeto “Redemoinho- Diálogos que transformam”. A proposta é promover rodas de conversa todo último sábado do mês, estreando neste dia 31 com o tema “Relação Jovens LGBTQ+ e família”. “Na contramão do que se espera atualmente no que tange a cultura, com a política permeando as discussões, temos hoje uma efusão de produção cultural. O CCBM está programado até janeiro do ano que vem com exposições que vão desde a primeira mostra de um artista estreante até o trabalho de medalhões da cidade, convivendo no mesmo lugar. Isso só com abertura de edital, o que mostra que havia uma demanda reprimida de circulação da produção artística. A ocupação do museu (Ferroviário) abriu muito nossas perspectivas, foi a prova de que a população pode ter um novo olhar para um espaço, e existem demandas culturais do público que podem ser atendidas por ele. Nessa leva, a gente pretende transformar a biblioteca nesse espaço de conversa também, coisa que não se imagina normalmente para uma biblioteca. A biblioteca de Benfica também vai se tornar a Casa de Leitura. A ideia é sempre essa, tornar estes espaços cada vez mais públicos e vivos, espaços de conhecimento e não guardiões de acervos de objetos”, pontua Priamo.
Ainda de acordo com o coordenador de espaços da Funalfa, a intenção é dar um olhar especial para o público infantojuvenil. “Porque a gente pensa muito em formação de público para além da formação de plateia. É o fomento cultural e a vivência da cultura por parte desse público que vai garantir a continuidade dos projetos e a longevidade dos espaços. Com eventos como o ‘Redemoinho’ , por exemplo, é este público que permite que estes espaços continuem sendo agregadores de conhecimento, e é isso que a cultura precisa fazer. Fomentar o conhecimento positivo, baseado em fatos e não em fake news, esse é o nosso papel”, pontua Priamo.
Relembrando a própria trajetória pessoal de “fazer show de punk botando o pé na porta”, Luiz Fernando acredita que é preciso ter os dispositivos de cultura abertos tanto ao público quanto aos produtores. “Ninguém faz cultura se estiver isolado. A cultura é uma série de significados que caracterizam um povo, e isso só acontece de mão em mão, de cabeça em cabeça. Não acho que seja possível manter um espaço cultural relevante se ele não se abre para quem produz e para quem consome cultura – e não digo isso só sobre os espaços da Funalfa, mas sobre todos da cidade de modo geral. Acho que tem um pouco a ver com minha bagagem de começar a ocupar espaços para fazer show de punk, botando o pé na porta para a galera vir atrás (risos). E é mais ou menos por aí com a gestão cultural, se não formos chutando e derrubando as porteiras, a coisa não anda.”
Programação Museu Ferroviário
Sábado, dia 31
– 10h às 17h – Visitas espontâneas ao acervo
– 11h às 16h – Feira de Alimentos e Artesanato
– 14h às 16h30 – Aulão aberto + bate-papo + espetáculo do grupo de dança Remiwl Street Crew
– 15h – Visitas guiadas ao acervo
Redemoinho- Diálogos que transformam
Sábado, dia 31, às 14h
Roda de conversa “Relação Jovens LGBTQ+ e família”, com Rosângela Gonzaga, coordenadora da Associação Mães pela Diversidade; Coletivo Maria Maria e Dartagnan Abdias, que debate temas como diversidade e bullying com a juventude.
Biblioteca Municipal Murilo Mendes (Praça Antônio Carlos)