O Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) realiza na próxima sexta-feira, às 20h, a abertura da exposição “Coleção Murilo Mendes: 25 anos”, além do lançamento do catálogo homônimo e da inauguração de uma nova galeria no espaço, a Poliedro, que será uma das galerias do museu a serem ocupadas pelas obras que o escritor juiz-forano colecionou durante sua vida. A solenidade terá, ainda, apresentação da Orquestra Sinfônica do Pró-Música, sob a regência do maestro Victor Cassemiro. A exposição será aberta ao público no próximo dia 5, e o horário de visitação do Mamm é de terça a sexta-feira, das 10h ao meio-dia e das 13h às 18h, e sábados das 13h às 18h. A previsão é de que a exposição fique em cartaz até outubro.
Envolvendo também o tema “Itinerários tão vastos”, a exposição vai apresentar obras que, de acordo com a instituição, representam o maior e mais importante ingresso internacional de artes visuais no Brasil durante a segunda metade do século XX, além de refletirem aspectos do colecionismo de Murilo Mendes em diferentes épocas, divididas entre o “Período brasileiro” (1921 a 1953, dividido em duas fases), “Missão cultural” (1953 a 1956) e “Período italiano” (1957 a 1973). Dentre os artistas que fazem parte da coleção muriliana estão Pablo Picasso, Fernand Léger, Joan Miró, Max Ernst, Georges Braque, Arpad Szenes, De Chirico, Ismael Nery, Alberto Guignard, Lívio Abramo, Candido Portinari, Athos Bulcão e Jorge de Lima. A mostra é completada por uma linha do tempo e dois totens digitais sobre a vida e a obra de Murilo Mendes.
Um colecionador apaixonado
A pró-reitora de Cultura da UFJF, Valéria Faria, recorda que a exposição deveria ter acontecido em 2020, a fim de celebrar os 25 anos da chegada da Coleção Murilo Mendes ao Brasil, mesmo ano em que se comemorava os 15 anos do Mamm e seis décadas de UFJF. A pandemia, porém, adiou os planos de celebração do recebimento das obras do acervo de artes plásticas do escritor mineiro pela instituição, que ficou entre 1995 e 2005 no casarão da antiga Faculdade de Filosofia e Letras (Fafile), que abrigou o Centro de Estudos Murilo Mendes (atual Escola de Artes Pró-Música) até a criação do Mamm na antiga sede da Reitoria.
Apesar dos dois anos para tornar a mostra realidade, Valéria afirma que os visitantes verão que a espera valeu a pena. “O público vai encontrar uma exposição muito bem produzida, primorosamente organizada pelo setor de expografia do museu, que teve tempo de cuidar minuciosamente de cada detalhe da exposição. Esse tempo de reclusão também foi imperioso para o desenvolvimento do catálogo que registra a mostra. Todo o acervo do poeta foi refotografado, reorganizado e reeditado em arquivos digitais”, relata. “O Museu conta agora com um registro digital com um novo patamar de qualidade, em arquivos com alta resolução e definição de imagem. Tivemos tempo para realizar um trabalho profissional que retrata com maior precisão imagética as obras do acervo Murilo Mendes, agora muito mais próximo e fidedigno às obras originais.”
Colecionador apaixonado
Murilo Mendes é considerado um colecionador apaixonado, e sua coleção abarca artistas de estilos e épocas diferentes, que chamaram a atenção do intelectual sempre faminto e de um crítico atento ao que se passava no mundo. Questionada sobre a dificuldade em organizar uma exposição desse porte, a pró-reitora de Cultura é taxativa em dizer que não houve “dificuldade nenhuma”.
“Ao contrário, o olhar do poeta colecionador sempre foi muito coerente e possibilitou o desenvolvimento de um norte facilitador do ponto de vista da curadoria”, analisa. “Conforme pesquisa iniciada por Arlindo Daibert, a coleção do poeta divide-se claramente em três partes. A primeira abarca o período brasileiro, em que Murilo travou relações com artistas de renome no contexto da modernidade brasileira, a exemplo de Ismael Nery, que vai do início dos anos 1921 até 1934, ano do falecimento precoce de Nery. Daí por diante, até o ano de 1953, Murilo amplia sua coleção a partir de novas amizades com artistas de vulto nacional, dentre os quais despontam Candido Portinari, Fayga Ostrower, Oswaldo Goeldi.”
Na segunda parte, em que Murilo viaja para a Europa em missão cultural, Valéria observa que o poeta internacionaliza sua coleção com grandes vultos da modernidade, como James Ensor, Juan Miró, Giorgio de Chirico, Fernad Leger. “E por fim, a terceira parte da Coleção Murilo Mendes compreende um conjunto de obras com grande coesão conceitual e imagética, adquiridas durante os anos de 1953 a 1956, durante o período que o poeta passa na Itália, como Alberto Magnelli, Hans Arp, Cósimo Carlucci.”
Quanto a essa parte específica, ela destaca um fato curioso. “Estive recentemente em Roma, em visita à Galeria Nacional de Arte Moderna, e grande parte da coleção de Murilo Mendes está lá representada naquele museu. Encontrei diversas obras com características muito próximas ao nosso acervo em artistas como Gastone Biggi, Nobuya Abe, Hans Arp, Michelangelo Conte. Isso corroborou o fato de que Murilo era realmente um colecionador com ‘olho armado’, antenado com a contemporaneidade de seu tempo. Muito lhe interessava o protagonismo de artistas italianos ligados ao abstracionismo, à arte cinética ou à pintura matérica, por exemplo.”
Novo espaço
A abertura da exposição “Coleção Murilo Mendes: 25 anos” também marca a ampliação do espaço expositivo, com a inauguração da Galeria Poliedro. “A nova galeria já vinha sendo pensada há alguns anos, uma vez que o Mamm já conta hoje com um número muito expressivo de obras contemporâneas. Esse espaço representa mais uma oportunidade de apresentar ao público um pouco mais do rico acervo do museu, bem como acervos remanescentes de outras instituições. Outro fato muito importante é a ‘linha do tempo’ do poeta, afixada na entrada da Galeria Poliedro. Essa apresentação da vida de Murilo Mendes é essencial para a melhor compreensão de sua obra, além de contribuir muito para a formação de público no Museu.”