Yan Castro foi escolhido entre cerca de 700 bailarinos para compor o ballet da Ludmilla no Rock in Rio. O jovem tem 26 anos e é nascido em Viçosa, na Zona da Mata, e se interessa pela dança desde criança – hoje, já se tornou também cenógrafo e ganhou diversos prêmios por seu trabalho com o funk e o passinho. Participar de algo tão grandioso como o show da cantora, num festival que reúne cerca de 700 mil pessoas por dia, era algo que ele já sonhava há bastante tempo, inclusive por ser fã da artista, mas a preparação demandou anos de experiência. O show irá acontecer em setembro deste ano, e os ensaios para participar da coreografia de cerca de 1h15min já começaram.
Ao longo da sua carreira, Yan também esteve à frente de movimentos culturais para valorizar a dança do funk e dos passinhos. Em 2013, criou no distrito de São José do Triunfo, em Viçosa, o grupo de dança “Os Atuais”, que tinha como referência o Dream Team do Passinho, grupo de Dança da cidade do Rio de Janeiro. Logo depois, também se tornou diretor geral e coreógrafo desse grupo, participando de todas as montagens, coreografias e espetáculos de dança. Já em 2016 entrou para o Centro Experimental de Artes, na turma de danças urbanas, que é oferecida pela prefeitura de Viçosa por meio da Secretaria de Cultura. O viçosense também conquistou prêmios no Circuito Internacional da Dança em 2019, na cidade de Belo Horizonte, tendo ficado em 1º lugar com “Não sou o que você vê” dirigindo e coreografando o passinho e o funk na categoria estilo livre.
O processo seletivo para participar do ballet da Ludmilla incluiu uma audição on-line, em que era necessário enviar um vídeo de até um minuto dançando uma música da Ludmilla e outras informações sobre as características dos dançarinos. Também era preciso mostrar currículo e comprovações artísticas que atestassem atuação na área da dança. “A segunda fase aconteceu nos dias 10, 11 e 12 abril no Rio de Janeiro reunindo cerca de 700 bailarinos nos três dias em fase de peneira. No último dia foram escolhidos 30 bailarinos para compor a equipe de ballet da Ludmilla no Rock In Rio”, relembra. Para ele, foi até difícil acreditar na conquista: “Recebi a notícia por e-mail, estava bastante ansioso e pra ser sincero eu não imaginava que seria escolhido, existiam vários bailarinos ótimos na audição. Mas certamente minha dança chamou a atenção de alguma forma”, diz.
Passinho criando oportunidades
Apesar de Yan ter aprendido danças urbanas, contemporânea e até ballet, a paixão maior é pelo funk e pelo passinho. “Me identifico muito com a cultura da periferia, está enraizada dentro de mim”, conta. Para ele, se trata de uma cultura que está se tornando bastante presente nos dias de hoje. A importância da dança é tamanha que, como relembra, ela foi reconhecida como patrimônio cultural e imaterial do Estado do Rio de Janeiro. Também por isso, deixa claro que o passinho ajudou a abrir muitas portas para ele. “Minha maior inspiração na época e até hoje com toda certeza é o Naldo Benny, o Michael Jackson e o Dream Team do Passinho”, conta.
Fã da Ludmilla
Os ensaios para o ballet da Ludmilla já começaram e, para participar, Yan está se deslocando de Viçosa até o Rio de Janeiro, durante alguns finais de semana, para poder participar. “O Rock in Rio só arca com as despesas dos bailarinos a partir de agosto. Inclusive, sempre busco apoio de parceiros e empresas de Viçosa pois sou bailarino independente e não tenho patrocínio”, explica. A princípio, a participação de Yan é somente para esse show do Rock in Rio, mas ele confessa que gostaria de ser convidado para os demais shows e, quem sabe, poder fazer parte do ballet oficial.
Participar do ballet da Ludmilla é ainda mais significativo para o dançarino porque ele já era fã da artista por tudo que ela representa em sua vida. “Ela é muito guerreira. Uma mulher negra, LGBT, que saiu de Duque de Caxias atrás do sonho de ser cantora e hoje é uma das maiores artistas da atualidade no Brasil. Ela inspira todos os jovens pretos de periferia que buscam seus sonhos e objetivos, mais que uma cantora ela é um símbolo de resistência contra preconceitos”, afirma.