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Outras Ideias com: Rosângela Jamil Hadad

a frente da loja da seda rosangela trabalha com tecidos de

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À frente da Loja da Seda, Rosângela trabalha com tecidos de luxo
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À frente da Loja da Seda, Rosângela trabalha com tecidos de luxo

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Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete portas. Tudo, exatamente tudo, diante dos olhos de quem chegasse. Do lado de fora, uma rua movimentada, onde passavam carros e muitas pessoas, e uma galeria de pouco prestígio. Do lado de dentro, tecidos sofisticados, como as sedas que davam o nome do negócio. Assim foram as seis décadas da Loja da Seda, que só na terceira idade conheceu o luxo que sempre defendeu. Agora, do lado de dentro, uma butique de panos. Jamil Hadad, o homem à frente do comércio, se foi há cinco anos, aos 82. Ele permaneceu na memória dos fregueses e no nome da filha, Rosângela Jamil Hadad, 56 anos vividos entre estampas.

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“Quando fizemos 60 anos de loja, meu pai disse que queria que fechasse todas as portas, queria colocar vitrine, porque estava começando a ficar perigoso. Ele queria expor o que tinha. E é uma realidade. O pano exposto chama a clientela. Fizemos a divisória, e agora o estoque fica todo lá dentro”, conta a pedagoga e advogada por formação, empresária e vendedora por paixão, herdada de um homem que, com coragem, abriu as portas, há 64 anos, com apenas uma peça de tecido. “Só uma. Foi vendendo e adquirindo mais, até fazer um caixa. Ele dizia que queria sair daqui para o cemitério. Teve uma gripe muito forte, virou pneumonia, ficou internado um dia, apenas.”

Jamil, o homem que chegava em casa e folheava revistas para saber quais tecidos comprar, o homem que vestiu quatro gerações, o homem que só de olhar já sabia a medida do pano, legou não somente a loja e suas sete portas, mas um fascínio cheio de cores, formas e texturas. Como o bicho-da-seda, fez de seu casulo (com o qual se faz a seda) uma admirável arte. “A loja me deu tudo. É o bem mais precioso que eu tenho. Me ensinou a viver”, emociona-se Rosângela, uma mulher que, ao falar de si, fala do pai.

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A Milagrosa

A despeito do nome no feminino, A Milagrosa, na parte baixa da Marechal Deodoro, vendia apenas artigos femininos. Saído do Líbano aos 13, o pai de Jamil e outros cinco, então no comando do negócio, impôs ao filho, que tinha pouco mais de 30, um desafio. “Quando começou a parte de cima da rua, meu avô falou: ‘Jamil, agora vamos mexer com coisas de mulheres’. A loja iria se chamar Sedamil, mas a primeira freguesa da loja chegou e falou com meu pai: ‘Aqui que é a loja da seda?!’. Meu pai, então, disse: ‘A loja está batizada!”, conta Rosângela, descendente de libaneses, como muitos de seus colegas de ramo, que se espalham pela Marechal.

Carteira na porta

Rosângela, David e Semiramis seguiam, diariamente, com o pai, a avó, uma tia e a mãe, para a loja na esquina da Galeria João Pedro Hallack. “Antes a galeria não era bonitinha como é hoje. Tinha a fiação exposta, era chão de cimento queimado, cheio de quadradinhos. Apelidaram de Galeria dos Pobres, e pegou”, recorda-se Rosângela, que viu não apenas o endereço se transformar, mas a economia – “Não havia as facilidades de crediário e cartão, como é hoje”, pontua -, sua casa e a vida dos seus. “Estudamos para vestibular aqui dentro. Dois passaram em medicina na primeira vez que tentaram, e eu fiz pedagogia e depois direito. Aqui, nas portas, colocávamos uma carteirinha, onde fazíamos nossos deveres”, lembra, sorrindo.

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12 horas em pé

Jamil não conheceu a luxuosa poltrona na qual Rosângela e o único funcionário aguardam os clientes. “Meu pai entrava às sete da manhã e saía às sete da noite. Ia direto. E não sentava. Ficava em pé 12 horas. Foi sentar, depois de mais idade, porque o médico obrigou: ‘Seu Jamil, não pode ficar em pé assim tanto tempo. Senta nem que por uns 15 minutos’. Meu pai dizia que a gente tinha que ficar em pé para receber o freguês. O empregado, quando ia contratar, ele falava que, se encostasse, não servia. Era rígido, mas de um coração muito bom. Fez muita amizade na cidade”, diz. Enriqueceu? “Fez uma estrutura boa de vida. Sempre lutando muito. Nunca gostou de viajar, de nada. Só ia à Teresina visitar minha sobrinha, que era a paixão da vida dele.” Na verdade, duas paixões, então: a neta e os tecidos.

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