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MC Xuxú lança o videoclipe de ‘Liberdade’

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O afrofuturismo foi a principal referência para a concepção visual do clipe (Foto: Criolets/Divulgação)
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A cantora e compositora MC Xuxú lança nesta sexta-feira (29), em seu canal no YouTube, o videoclipe da música “Liberdade”. Canção que faz parte do álbum “Senzala” (2018), ela chega ao formato audiovisual para reforçar a mensagem do Dia da Visibilidade Trans, comemorado em 29 de janeiro.

O trabalho audiovisual tem direção de Paula Duarte e apoio do Coletivo Descolônia, além de contar com praticamente 100% de profissionais e artistas negras e negros. Ele foi gravado entre o final de 2019 e o início de 2020, antes da chegada da pandemia, e, além da letra sobre resistência e superação, imagina uma utopia de paz, justiça e liberdade para pessoas negras e/ou LGBTQIA+, com uma estética que remete ao afrofuturismo.

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O vídeo de “Liberdade” também busca homenagear diversas personalidades do movimento trans, como Tynna Medsan, uma das primeiras pessoas trans do Brasil a se formar no ensino superior, que enfrentou muitas barreiras para lecionar e morreu ainda jovem.

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“É muito importante falar de visibilidade e representatividade trans em todos os lugares, para não termos discussões como a que rolou com a Karol Conka no ‘Big Brother Brasil’, em que a galera começou a falar de travestilidade, sendo que não é o lugar de fala deles”, critica. “Precisamos de uma travesti no ‘BBB’, trabalhando numa farmácia, na escola; precisamos que nossos corpos ocupem espaços no jornalismo também. Quando temos essa visibilidade e representatividade nesses lugares, somamos nas vidas das travestis, ajudamos a fazer um mundo melhor para todos.”

Ao resgatar essas figuras e sonhar, a cantora destaca que é uma forma de se manifestar em um momento marcado por tantos retrocessos na sociedade e nas esferas governamentais. “Tem sido a fase mais difícil da minha vida e carreira. Antes da pandemia já era difícil ter oportunidades, mas agora tem sido mais complicado. Minha antiga conta do Instagram, que era uma das minhas principais ferramentas de trabalho, por me deixar mais próxima do meu público, sumiu sem aviso e justificativa há cerca de dois meses”, conta. “Na primeira semana fiquei sem chão, mas vi que não podia parar, então criei uma nova conta (@mcxuxureal). Enquanto isso, sigo tentando conseguir um contato mais fácil com o Instagram para tentar entender o que aconteceu e recuperar minha conta oficial.”

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MC Xuxú em cena do clipe, com arte de Renata Dórea sobre fotografia de Criolets

Engajamento
Se os percalços são vários, MC Xuxú não se deixa abater e segue engajada no movimento LGBTQIA+. “Além da divulgação diária de conteúdo no Instagram, fiz lives com várias travestis do Brasil para falarmos sobre visibilidade. E agora lançamos esse videoclipe, pois é muito importante falar a respeito dessa questão da liberdade”, afirma a cantora, que conversou com a Tribuna diretamente do Rio de Janeiro, onde grava o seu próximo single.

Ainda houve tempo para falar sobre a presença de tantos profissionais e artistas negros e negras na produção do videoclipe, no que ela volta a destacar a questão da representatividade. “Quando uma pessoa negra vê outra pessoa negra ocupando um espaço, ela passa a acreditar que também pode. Por isso convidamos o pessoal do Coletivo Descolônia, em que nem todo mundo é LGBT, mas todo mundo é negro. É importante ter nosso ponto de vista divulgado, pois muitas vezes ele é censurado, ocultado.”

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Influência do afrofuturismo
Diretora do videoclipe, Paula Duarte conta que ele teve um processo de construção diferente dos anteriores, pois a proposta foi levada para o Coletivo Descolônia, do qual faz parte, para um desenvolvimento em conjunto. “Nosso processo foi marcado por uma preocupação com trocas educativas e formação de artistas negras. A coreografia foi toda desenvolvida em oficinas. Também pudemos trabalhar com muitas artistas que admiramos, como a drag Lucy Alien, a figurinista Samanta Silva, a artista visual Renata Dórea e o grupo CEMulheres”, destaca.

A artista visual também falou sobre a influência do afrofuturismo no trabalho. “Não é uma estética nova, mas vemos muitos artistas contemporâneos revisitando elementos do afrofuturismo”, diz. Responsável ao lado de Paula pela fotografia do videoclipe, Renata Dórea lembra que a ideia principal do afrofuturismo é pensar um futuro para a população negra, o que já seria uma espécie de utopia. “Principalmente se a gente pensar todas as questões da diáspora africana, as nossas dificuldades num contexto de mundo que passou pelo contexto de colonização e escravidão”, analisa. “O afrofuturismo reinaugura alguns elementos bem antigos, é como se fosse o renascimento da africanidade. Se eles nos roubaram nosso passado, não podem roubar nosso futuro, acho que é a principal bandeira do afrofuturismo enquanto movimento estético.”

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