
Fruto do encontro entre cinema e educação, o projeto É Tudo Criança lançou o filme “Receita de pão de queijo”, uma animação experimental criada por 100 crianças, de 6 a 10 anos, participantes do Laboratório de Cinema e Educação da iniciativa.
Com a infância no centro do processo criativo — valorizando o protagonismo infantil e a cultura mineira a partir do olhar das próprias crianças —, o trabalho foi desenvolvido ao longo do ano letivo na Escola Municipal Cirene Fernandes Valentim, em Leopoldina.
Já disponível nas redes sociais do projeto, o filme é resultado de uma vivência coletiva que reuniu história do cinema, colagem de lambe-lambes, experimentação audiovisual e reflexões sobre identidade cultural. Nas oficinas de cinema com o artista alagoano Paulo Accioly, as crianças usaram a tradicional receita do pão de queijo como ponto de partida para criar imagens, personagens e narrativas, transformando memórias afetivas em linguagem cinematográfica.
O diretor do projeto, Iano Almeida, explica que a ideia surgiu da necessidade de fazer com que crianças, escolas e professores experimentem o cinema no ambiente escolar. Segundo ele, esta é a primeira edição do projeto em que o festival tem sede em Belo Horizonte e, a partir disso, busca percorrer cidades do interior de Minas.
Iano afirma que a proposta do projeto é transformar a linguagem audiovisual no contexto da educação e que, ao se verem representadas nas telas, as crianças passem a vivenciar uma experiência de grande significado dentro da escola. Segundo ele, a iniciativa também adapta a cultura da infância aos objetivos do projeto, ao estimular a experimentação com o cinema.
“Trabalhamos junto com a cultura escolar e a cultura infantil para estimular aprendizado, trocas e experimentação com as artes, especialmente com o cinema. As crianças ficaram deslumbradas, porque é um filme que mistura técnicas do cinema de animação com a arte gráfica dos lambe-lambes.”
Professores como parte essencial
Além das oficinas com os estudantes, os educadores participaram de formações sobre a inserção do cinema infantil no contexto escolar, à luz da Lei 13.006/2014, que prevê a exibição de filmes nacionais nas escolas.
Para Iano, o engajamento de professores é decisivo para que a proposta tenha continuidade na comunidade escolar. “Sem os professores, o projeto não tem continuidade, aceitação e engajamento. E também é uma possibilidade de formação continuada em áreas contemporâneas, como o audiovisual e as novas tecnologias, para que eles adaptem conteúdos de forma mais educativa e conectada ao território.”
O diretor também faz críticas à forma como a legislação se concretiza na prática. Para ele, a lei abre caminho, mas depende da mobilização da sociedade civil e da escola para sair do papel. “O ideal seria que essas escolas tivessem um cineclube — da Educação Infantil ao Ensino Médio — para exibir filmes no cotidiano escolar, de forma contínua e aprofundada.”
Plano e sonho
O principal desafio para 2026, segundo a organização, é viabilizar a sexta edição do Tudo Criança — Festival de Cinema Infantil. A realização depende da articulação com apoiadores e parceiros no estado para aprovar e captar os recursos necessários.
“Esse é o nosso maior desafio, mas já estamos encaminhando para fazer uma grande edição do festival em seis cidades mineiras. Ainda é um sonho e um desafio garantir sustentabilidade ao Tudo Criança hoje.”
