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Santa Bárbara: cidade histórica é conhecida como ‘Terra do mel’

Santa Bárbara mel

(Foto: Nereu Jr)

Santa Bárbara mel
Igreja Matriz de Santo Antônio, em Santa Bárbara, ocupa a região central da cidade e é uma das mais importantes do século 18 (Foto: Nereu Jr)
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Com pouco mais de 30 mil habitantes, a cidade de Santa Bárbara acumula histórias. Importante rota da Estrada Real, ela foi fundada em 1704 e preserva, ainda hoje, um rico patrimônio arquitetônico e cultural, a partir de seus casarões e suas igrejas, que seguem preservados. Aos pés da Serra do Caraça, ainda possui circuitos naturais que apresentam diversas cachoeiras, inclusive bem próximas do Centro. Ao entrar na cidade, que fica a cerca de 100 km de Belo Horizonte, é possível perceber seu passado e seu presente sendo contados, seja pela divisão do território, pelas marcas do ontem e do hoje, ou pela conjunção de momentos e estilos arquitetônicos que dizem mais que muita coisa. É essa a cidade que os leitores da Tribuna conhecem nesta reportagem, dando continuidade ao especial da Estrada Real, feito através do convite da Secretaria de Cultura e Turismo do Estado de Minas Gerais (Setur-MG) a jornalistas de todo o país.

Um dos patrimônios mais interessantes de Santa Bárbara é a Igreja Matriz de Santo Antônio, localizada em uma praça central que é rodeada de prédios tombados. Já do lado de fora, ela chama atenção pelos detalhes de sua porta, as três janelas que ocupam a parte logo acima da entrada, os sinos decorados e os ornamentos que fazem dela uma típica igreja setecentista, movimento artístico que predominou na Europa e foi trazido ao Brasil pelos portugueses – características ainda predominantes nas cidades históricas da Estrada Real.

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E, como de costume nessas construções, a parte interior da matriz de Santa Bárbara merece destaque. Isso porque, já em sua entrada, ela desvela um exagero de detalhes, com pinturas e tintas que remetem ao ouro. Nela, destacam-se, ainda, as pinturas feitas por Mestre Athayde, presentes tanto no teto quanto na lateral. Uma das mais conhecidas é a pintura da “Assunção a Nossa Senhora”, bem no teto, no centro da construção. Os detalhes são tantos que é necessário parar e olhar cada canto, para entender e perceber as formas, porque, até elas, contam sobre o auge do ouro em Minas Gerais, a presença dos portugueses e do catolicismo, sobretudo. Neste ano, a Paróquia Santo Antônio celebrou 300 anos de criação.

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Singela, Igreja Nossa Senhora do Rosário, durante anos, recebia exclusivamente negros, mulatos e mestiços (Foto: Nereu Jr)

Além da Igreja Matriz, outra mais singela, mas igualmente importante, é a Igreja Nossa Senhora do Rosário, conhecida em Santa Bárbara como Capela Rosário dos Negros. Sua construção foi iniciada em 1756 pelos escravizados e para os escravizados. Durante um bom tempo, por imposição do Vaticano, inclusive, ali só eram celebradas missas para negros, mulatos e mestiços. Em seu interior, ela não tem esculturas, mas, sim, obras pictóricas que fazem até referência ao ilusionismo, diferente da fachada, que é barroca. Recentemente, ela, que fica no centro histórico da cidade, foi restaurada, incluindo o piso, que é de tabuado corrido. É um outro costume, inclusive, que as igrejas que foram construídas, nessa época, pelos negros escravizados, recebessem o nome de Nossa Senhora do Rosário – como aconteceu em Ouro Preto, Tiradentes e até Juiz de Fora.

Essas igrejas são pontos de parada obrigatórios por resumirem as histórias tanto da fundação de Santa Bárbara quanto do próprio estado mineiro. Mas, além delas, a cidade guarda a memória de um de seus filhos mais estimados, Affonso Penna: o sexto presidente do Brasil e o primeiro mineiro a ocupar o cargo. A casa onde nasceu na cidade é preservada e, desde 2009, abriga um memorial dedicado à sua história. A própria arquitetura do lugar é também um convite à história, já que é uma das representantes preservadas do período colonial. Em seu jardim, é possível ver ainda o seu mausoléu, também imponente.

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O mel de Santa Bárbara

A mineração segue como uma das principais fontes econômicas de Santa Bárbara. Mas há outra atividade econômica: a produção de mel. Estima-se que, na cidade, existam cerca de 400 famílias apicultoras, que produzem, juntas, quase uma tonelada de mel por ano. Várias marcas ocupam as prateleiras do mercado e ficam disponíveis para a compra na Casa do Mel, que fica também em um casarão típico do século 18 e foi restaurada pela prefeitura para essa função. Lá, é possível conferir a diversidade de produtos feitos no município e ainda sua importância econômica na região, bem como uma pequena colmeia da espécie Jataí.

Mel é uma das principais fontes de recurso em Santa Bárbara (Foto: Nereu Jr)

Alguns produtores em Santa Bárbara abrem suas portas para apresentar sua produção de mel, como é o caso de Ronaldo Junior, responsável pelo Apiário Flor de Mel. A recepção é feita com um cafézinho, bolos, e, claro, um favo com mel escorrendo nas frutas. “Minha proposta aqui é mostrar a diversidade de mel”, avisa, na entrada. Atualmente, ele trabalha com 15 espécies de abelhas, tanto sem ferrão, que são as meliponíneos, quanto com ferrão, que são chamadas de apis.

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Sua produção começou em 2017, quando ainda trabalhava em mina subterrânea, em Santa Bárbara. Ronaldo tinha uma área rural parada e, por ter conhecidos que já produziam, decidiu montar ali mesmo um apiário. Sempre ligado à natureza, o interesse já existia. Ele começou como hobby, com poucas abelhas, produzindo para consumo próprio. “Começou, mas virou uma paixão. Um vício. Não teve volta.” A partir do momento que começou a produzir mais que consumia, passou a vender para conhecidos que divulgaram seu trabalho. Há dois anos, depois de um acidente na mina, quando correu risco de vida, decidiu sair e se dedicar exclusivamente à Flor de Mel.

Produção do mel

Desde 2017, Ronaldo Junior se dedica à produção de mel, no Apiário Flor de Mel (Foto: Nereu Jr)

Hoje, além de sua propriedade, ele ainda aluga outros espaços para seus apiários que têm, em média, 35 caixas de abelhas. De acordo com ele, seus méis vêm de mais 100 apis e 250 abelhas sem ferrão. E o sabor de cada um deles é totalmente diferente – inclusive entre as espécies e a florada. O processo é engenhoso. Começa com a abelha na flor, coletando o néctar. Ele explica que elas têm dois estômagos: um que exerce as funções naturais e o outro que estoca o néctar. Por ficar em sua boca, o néctar se mistura com as enzimas da saliva. Elas passam de boca a boca até chegar na porta da colmeia, onde uma outra abelha o deposita no favo, e o mel é estocado. “A saliva dela é a mágica de tudo”, resume.

Aquele mel fica estocado no favo. Quando a abelha percebe que ele está pronto, ela cria uma capa de cera para proteger o produto e preservar. E é exatamente ali que o produtor retira o excesso, aquilo que elas não usaram para se alimentar, para o consumo humano. Ronaldo explica que com uma ferramenta consegue tirar aquela casca fina, fazer o mel escorrer, e deixar o favo perfeito para que elas encham de novo com o mel, já que elas demoram cerca de 30 dias para concluir essa etapa.

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O processo é o mesmo, o que muda são os gostos e as floradas. Para saber qual é o tipo de mel, basta perceber as épocas do ano. “Por exemplo, eu estou preparando meus enxames para colher o mel de assa-peixe, que é em agosto. Então, quando ele abre, meu enxame precisa estar forte. Depois que fecha, é a vez da candeia. E tudo são floradas de 10 ou 14 dias. Eu já preparo com antecedência e o que der, eu sei que é do assa-peixe.”

Ele colhe cerca de 1 kg com colmeia. Mas com cuidado, porque, a partir do momento em que se colhe, a produção delas diminui de ritmo. “Então, eu reduzo minha produção, mas isso agrega valor ao produto”, explica. Isso significa que a abelha de uma mesma espécie, se coletou néctar em um planta diferente, produziu gosto diferente. Depois disso, os néctares passam por uma processo feito pelo Ronaldo, em sua própria casa, para a venda e o consumo.

E os méis, além de tudo, possuem propriedades que auxiliam na saúde. O da aroeira, por exemplo, que é de uma apis, ajuda com a queimação no estômago; o da candeia, o sono. O da copaíba tem um cheiro forte e típico, faz uma explosão na boca, enquanto o do velam é mais doce, quase defumado. É possível, ainda, que esses méis fiquem mais tempo na colmeia, o que os torna maduros – já é um outro gosto, mais apurado. Quando o enxame se mistura, chama-se silvestre. No caso das abelhas sem ferrão, o gosto muda de acordo com as espécies. A borá, por exemplo, tem um mel salgado naturalmente. O da mandaguarí, que também é salgado, chega a ser ácido.

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Visita no apiário

Nessas visitas ao Apiário Flor de Mel é possível conhecer a produção do Ronaldo e também ver de perto do trabalho das abelhas, que ficam em caixas estrategicamente guardadas e posicionadas de acordo com cada necessidade. É possível ainda perceber que, ali, elas não geram nenhum tipo de medo, já que não há ameaça alguma. Para agendar as visitas, basta entrar em contato através do Instagram.

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