Assim como tantos artistas das mais variadas expressões culturais, o pianista e compositor Guilherme Veroneze teve que suspender suas apresentações – fossem elas em grupo ou solo – por causa da onipresente pandemia do novo coronavírus. Assim também se deu com as aulas de piano, que precisaram se adaptar posteriormente para o mundo virtual. Com o isolamento, porém, o músico teve mais tempo para se dedicar às suas composições, e com isso aproveitou para lançar nas plataformas digitais seu primeiro single, a instrumental “Um pensamento (a thought)”, além de criar uma playlist no Spotify com vários artistas locais da música instrumental, nos mais variados gêneros. A estreia de Veroneze se deu depois de trabalhar como músico, produtor e arranjador nos álbuns de outros artistas, como Caetano Brasil, Wesley Carvalho e Danniel Goulart. Seu primeiro single é resultado de uma composição em que começou a trabalhar ainda em 2019, no esquema de registrar no gravador, dar um tempo, revisitar as ideias e aí ver quais valiam a pena dar continuidade.
“Com a quarentena, tenho desenvolvido muitas ideias e composições. ‘Um pensamento’ é uma música bem introspectiva, e a evolução que tentei trabalhar na melodia foi a respeito de quando somos tomados por um pensamento e ele nos leva para algum lugar, alguma pessoa, uma memória, e o fragmento desse pensamento retorna e nos transforma. O desafio foi trabalhar isso sem palavras, apenas com a música”, conta.
Música nas redes sociais
A partir desse processo de criar, registrar e depois retomar as composições, Guilherme Veroneze tem andado ativo nas redes sociais. Publica com regularidade em seu perfil no Instagram (@guilhermeveronezepiano) trechos de músicas, algumas delas de projetos futuros. O pianista pretende lançar um segundo single e pensa, ainda, em um EP até o final do ano, que reuniria os dois singles mais outras composições – tudo gravado em casa e com masterização de Aldo Torres.
“Outro projeto, que deveria ser o meu primeiro EP, foi aprovado este ano pela Lei Murilo Mendes, mas provavelmente só poderá ser realizado ano que vem. Seria uma gravação solo na Sociedade Filarmônica de Juiz de Fora. É preciso toda uma equipe para o projeto, que também vai ter videoclipe, livro-partitura e outras contrapartidas, então é preciso esperar”, diz.
Vida on-line
A Covid-19 tem influenciado a vida de Guilherme nos âmbitos pessoal e artístico/profissional, como se pode perceber, por exemplo, no andamento de seus projetos, mas de formas diferentes. Ele acredita que as notícias sobre a pandemia, por exemplo, influenciam os artistas de formas diferentes; no caso dele, o efeito mais forte vem do isolamento e do cancelamento de sua agenda de apresentações – grande parte delas em grupo -, que rendeu tempo para a criação. “Como estou sozinho, tenho me concentrado nas composições para manter o contato com o público. Mas tudo afeta um pouco de alguma forma; o clima em que vivemos, a falta de empatia das pessoas, tudo isso vai nos deixando mais introspectivos”, afirma.
Guilherme conta, ainda, que logo que foi confirmado o primeiro caso de Covid em Juiz de Fora, na primeira quinzena de março, preferiu cancelar todas as apresentações e aulas de piano. “Essa antecipação foi interessante para mim porque não tive essa frustração de ter show marcado e ter que desmarcar em cima da hora. Também aproveitei para me adaptar a dar aulas particulares on-line de piano, e criei um curso que está no Instagram. Pelo menos está sendo possível continuar com esse trabalho”, destaca.
“Tanto eu quanto a Eliza (Granadeiro, sua esposa) estamos isolados e saímos apenas para o que é necessário, até porque meus trabalhos como artista e professor de piano ficaram impossibilitados. Isso gerou uma série de reflexões e me levou a procurar outras vias, como o Instagram e o single”, prossegue. “Também nos fez pensar no coletivo, a fazer o possível para ficar em casa. Se todos tivessem seguido o isolamento, a situação estaria bem melhor. Quando vou ao mercado e vejo pessoas na rua sem máscara, em grupo, fico muito triste.”
Playlist
Esse pensamento no coletivo fez com que Guilherme aproveitasse o período para criar no Spotify a playlist “Instrumental Juiz de Fora”, que reúne artistas locais da música instrumental nos mais diferentes gêneros, incluindo grupos e artistas solo como Márcio Hallack, Nagô Reggae Instrumental, Dudu Lima, Romo, Dois Nós e João Cordeiro.
“Eu tinha percebido o crescimento das playlists reunindo gêneros ou temas, como ‘músicas para trabalhar’, e depois que lancei o single estava conversando com a Eliza sobre criar uma também. Ela então sugeriu uma de música instrumental de Juiz de Fora. Como não encontramos nenhuma, fizemos contato com os músicos, pedimos indicações de músicas, e tem sido um movimento bem legal, muita gente interessada em participar”, anima-se, explicando que o objetivo é divulgar a música instrumental juiz-forana nos mais variados gêneros.