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Giovana Castro: ‘Somos muitas’

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Giovana Castro é doutoranda em história pela UFJF e professora da rede pública, além de importante voz da militância local. (Foto: Fernando Priamo)
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Se as demandas persistem é porque não foram atendidas? Em sua pesquisa de doutorado, Giovana de Carvalho Castro contribui para a reflexão ao voltar seus olhos e seus ouvidos para as mulheres negras que integraram diferentes eixos dos movimentos sociais em Juiz de Fora, numa luta que se estende décadas a fio, que é de sua mãe, Verônica, de suas conhecidas e também de muitas outras mulheres negras que escreveram a história que a cidade insiste em não contar. Professora e historiadora, agora uma das integrantes do Laboratório de História Oral e Imagem da UFJF, Giovana ajuda a construir o centro de referência sobre a memória negra em Juiz de Fora, marcada por lutas, resistências e persistências.

Como se dá a presença feminina negra nos movimentos sociais de Juiz de Fora?
A mulher negra é e sempre foi um pilar de resistência na história da população negra no Brasil. Em Juiz de Fora, essa presença é fortíssima nas associações de bairro, nos conselhos de saúde, nos movimentos religiosos. Atribuo muito dessa participação à luta por direitos sociais básicos como educação, saúde, moradia, bem como a um senso de cuidado coletivo muito presente em famílias negras.

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Quem são as mulheres negras dos movimentos sociais na cidade de ontem e de hoje? E quais características elas compartilham?
São muitas. Cirene, Gabi, Sandra, Verônica (minha mãe), dona Antônia, dona Jandira, Zeneide, Maria Adelina, para lembrar das mais antigas. Das associações de mulheres negras temos a Chica da Silva, o Arauna, as Yalodes, as Candaces (da qual fui parte), as Ruths, o Cabeça de Nêga. Somos muitas. Acredito que o que nos una seja a luta por pautas que atingem pesadamente a população negra, pautas que num país de maioria Negra, numa cidade que assim também o é, deveriam ser tratadas como universais, mas não são: o combate à violência obstétrica, educação pública de qualidade, cobertura total em creches, o cumprimento efetivo à lei 10.639 (que obriga o ensino de “história e cultura afro-brasileira” em disciplinas dos ensinos fundamental e médio), o fomento a ações e políticas públicas de combate ao racismo estrutural, a valorização da nossa memória, só para um início de conversa.

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Como as demandas do passado chegam ao século XXI na voz dessas mulheres?
Jurema Werneck tem uma frase que amo: ‘nossos passos vêm de longe’. Somos ancestrais, oriundas de um projeto de exploração que tirou tudo de nós. A construção de subjetividades negras num universo atravessado pelos racismos (no plural, porque são muitas as suas faces) se perpetuam em nós, associadas a outras opressões de gênero e de classe. Ainda estamos na subalternidade, no trabalho braçal, na ponta mais frágil do sistema capitalista. Por outro lado, quando penso nas trajetórias de mulheres que vieram antes de mim, nas violências, nos estupros, no abuso do corpo e na destruição da psique imposta pela escravidão, penso que temos um legado de resistências a ser descortinado. E defendo que é no diálogo com a memória que construiremos na contemporaneidade outras estruturas para pensar nossas identidades individuais e coletivas.

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