Andar pelas cidades, desde as pequenas vilas até a capital, ao som de música instrumental mineira em espaço público é um privilégio de quem vive entre as montanhas de Minas Gerais. O projeto “Sessão instrumental”, idealizado e organizado por Gibran Lamha, traz quintetos, quartetos, duos e trios em belíssimas apresentações em praça pública desde 2015. A primeira edição deste ano integra a programação do Corredor Cultural, que viabilizou os shows de Estêvão Teixeira, Márcio Guelber Quarteto, além da discotecagem totalmente instrumental do DJ Pedro Paiva, do projeto Vinil é Arte. O som acontece ao longo de toda a tarde de domingo (28), na Praça Armando Toschi, a pracinha do Bairro Jardim Glória, do meio-dia às 17h.
A primeira apresentação, em torno das 13h, é com Márcio Guelber. Ele tocará acordeom e violão de 7 cordas e planejou uma reunião inédita com músicos da cidade para apresentar composições de sua autoria, bem como alguns arranjos criados por ele de músicas populares brasileiras, duas delas são “Pau de arara”, de Luiz Gonzaga, e “Santa morena” do Jacob do Bandolim. O quarteto, que desse primeiro encontro pretende atravessar muitos outros palcos, é formado ainda por Caetano Brasil (clarinetista e saxofonista), Berval Moraes (contrabaixista) e Gladston Vieira (baterista). O repertório perpassa por composições novas de Márcio, ainda não gravadas, sendo que algumas inéditas ao público. É o caso de “Trovoada”, música trabalhada no compasso 10/8, incomum na música brasileira, e “Cainã”, composta recentemente em homenagem ao nascimento de seu filho.
“Sessão Instrumental é um evento de resistência, é uma preciosidade para a gente como músico, um espaço de audição em que podemos preparar arranjos mais elaborados, para se ouvir e não só para se tornar uma música de fundo, abre muita possibilidade para se criar e pensar a música de forma universal. E tem público para isso, que se interessa, o que falta muitas vezes é o espaço”, defende o compositor Márcio Guelber, que ainda contará em seu concerto ao ar livre com a participação da flautista transversa Nara Pinheiro.
Mais autorais e homenagens
O flautista Estêvão Teixeira começará por volta das 15h e será acompanhado por Juninho de Sá (violão), Edinho Viana (contrabaixo) e também por Gladston Vieira (bateria). O repertório é grande parte autoral, mas também faz homenagem a Noel Rosa e Dorival Caymmi, com as músicas “Feitiço da Vila” e “Maracangalha”, dos dois compositores brasileiros respectivamente. Haverá ainda um momento mais intimista apenas em duo na execução de uma música do “Cinema Paradiso”.
Para enriquecer o palco, Fernando Drummond (trombone), Salim Lamha (guitarra) e Bruno Teixeira (flauta), filho de Estêvão, farão participações em algumas músicas. No final das contas, tudo se transformará em uma grande homenagem à música, sob as árvores e o vento de outono.
Estêvão acaba de receber as cópias de seu DVD, que estará à venda no domingo, e planeja para o começo do próximo semestre uma noite especial de lançamento com a presença de musicistas que participaram deste trabalho. O show é uma compilação de músicas dos quatro álbuns autorais do flautista, arranjador e compositor, além de contar com “Vera Cruz”, de Milton Nascimento e “O belo e o mal”, de Danilo Caymmi. Renomados músicos brasileiros estão neste projeto, entre eles o pianista Cristovão Bastos, o contrabaixista Adriano Giffoni e o percussionista Marcos Suzanno.
Além disso, Estêvão Teixeira foi convidado pelo Sesc Consolação SP para oferecer, em junho, um curso de formação de professores. Ele explicará o método Tedem, desenvolvido por ele em seu mestrado, e a partir de então essa técnica começará a ser usada para lecionar música por lá. O músico juiz-forano também vai ministrar oficinas de musicalização e alfabetização musical para crianças do projeto Curumim. O Sesc descobriu seu trabalho de educação musical utilizando o Tedem como alternativa ao ensino clássico e tradicional. Em sua teoria de mestrado, Estêvão se inspira no educador brasileiro Paulo Freire para ensinar música: ele valoriza a música tocada de ouvido, como fazem os músicos populares, e não apenas o ensino que impõe a leitura da partitura, apesar de ser um professor de conservatório.
Financiamento coletivo
“Sessão instrumental”, como bem falou Márcio Guelber, é um oásis em meio a tantos outros formatos de eventos musicais, por isso Gibran Lamha vem buscando apoio para que o projeto continue. A primeira edição em 2015 foi financiada por ele mesmo com a ajuda de patrocinadores e dos próprios músicos e técnicos de som, já a edição 2016 contou com apoio da lei Murilo Mendes. A ideia é que a apresentação de domingo seja sucedida por novas datas nos próximos meses deste ano, porém, para isso, ele busca o financiamento coletivo como solução.
Foi lançada uma campanha na plataforma Catarse (catarse.me/sessaoinstrumental), em que o público pode escolher qual valor poderá doar para ser destinado à edição de julho/2017 do “Sessão instrumental”. No texto de apresentação do projeto, Gibran esclarece que são gastos R$ 7.471 a cada evento mensal, esse valor é distribuído entre cachês dos músicos, dos DJs que abrem e encerram a tarde, equipe de produção, estrutura de palco e equipamentos, além da produção de conteúdo em vídeos e fotos dos shows.
A recompensa é tornar possível a realização de mais um evento democrático com música instrumental em espaço aberto a todos, sem restrição. E o público poderá assistir a concertos de músicos virtuosos de Juiz de Fora e região. Um mergulho no universo de uma música que explora cada detalhe, complexidade, sem fronteiras, com execução impecável, passando por choro, samba, jazz e demais tradições brasileiras e universais.
Sessão Instrumental
Com Márcio Guelber Quarteto, Estêvão Teixeira Quarteto e DJ Pedro Paiva – Vinil é Arte. Neste domingo, 28, do meio-dia às 17h, na Praça Armando Toschi – Jardim Glória