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Juiz de Fora tem primeira ala de ‘pernaltas’ durante blocos do carnaval de 2025

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Grupo de ‘pernaltas’ encanta carnaval com malabarismos e brincadeiras em Juiz de Fora (Foto: Starly Kind/ Divulgação)
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Dá para ver de longe quando tem um “pernalta” chegando. Nos blocos, eles estão sempre ajudando a animar a festividade, sambando e fazendo malabarismos, mesmo a cerca de 80 cm acima das demais pessoas. Equilibram-se no meio da multidão. Isso porque esse grupo usa as tradicionais pernas de pau para animar a festa, com uma técnica que faz parte da arte circense. Em Juiz de Fora, é a primeira vez que o carnaval terá uma ala de pernaltas na programação, com um grupo de artistas que aprendeu a atividade no Circo Escola Lá na Lona, e passou então a se divertir e a levar para a folia todo esse encanto. A expectativa é de que passem a compor a programação de vários blocos da cidade e espalhem essa arte por onde atravessarem a passos largos.

Para Deborah Liboa, idealizadora da escola circense, a perna de pau foi a porta de entrada para esse mundo. Foi inclusive a origem de alguns de seus primeiros cachês. “Tenho um afeto gigantesco por essa arte. Eu gosto muito do equilíbrio”, disse. Ela aprendeu a andar nas pernas quando ainda era menina, por volta dos 15 anos, com Júlio Phenix, e seguiu com a curiosidade. Até que, aos 37 anos, a sua escola resolveu juntar um grupo de pessoas interessadas em se aprofundar na técnica e se reunir para levar o grupo de “pernaltas” para os eventos. Atualmente, são oito pessoas envolvidas diretamente com o grupo, dentre elas Carol Tagliatti, professora, e Melissa Guedes, produtora da escola circense.

Usar as pernas de pau no meio de um carnaval, com toda a multidão e agito, pode parecer desafiador pra muita gente, mas ela afirma que é “uma delícia”. “Lá de cima a gente vê toda a multidão e consegue interagir com o público a muita distância. É lindo ver a reação de encantamento que as pessoas ficam com a gente, enquanto estamos dançando, pulando e sambando com a perna de pau, brincando mesmo com todo o público.” A ala já desfilou, neste ano, nos blocos Filhas da Luta, Parangolé Valvulado e Xota Efe.

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A importância de levar uma ala de “pernaltas” para as ruas é que novas gerações conheçam essa técnica e mais pessoas queiram tentar aprender. “É para democratizar o acesso à técnica e à arte do circo, fazendo esse link com um movimento que é cultural. O carnaval é nosso. (…)  O circo sempre ocupou esses espaços, é uma forma de resgatar essa história e ocupar as ruas, dando visibilidade para a arte circense.” 

Aprender a andar de perna de pau leva tempo e dedicação, como conta Deborah (Foto: Starly Kind/ Divulgação)

Autoestima e coragem

Para quem encara uma perna de pau pela primeira vez, pode parecer impossível se sentir confortável daquela altura, com tanta gente perto – e, ainda por cima, dançando. Mas é justamente essa “impossibilidade” da arte das “pernaltas” que, para Deborah, também atrai as pessoas. “Quando você pensa em começar, você acha que não vai conseguir, que é impossível, mas quando descobre que não é, aquilo te dá uma força”, explica. Para ela, é algo que trabalha muito com a autoestima e essa autoconfiança: “Você se sente poderosa e capaz”.

Mas criar coragem para começar não é fácil, ainda mais quando é algo que realmente exige dedicação. Por isso, ela também acredita nessa aproximação com o público geral como benéfica, para que a partir desse primeiro contato tenham vontade de conhecer o trabalho mais a fundo. “Não é só o profissional do circo que pode aprender. Essa arte pode ser aprendida e vivida por todas as pessoas”, diz.

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‘A rua é nossa’

A ocupação da rua pelos artistas circenses também é, para ela, algo que está intimamente ligado com a existência do carnaval, essa festa a céu aberto que parece unir pessoas e criar uma atmosfera brasileira única. “A rua é nossa, o espaço público é nosso, é para cultura e para as pessoas”, destaca. Por isso, para quem encontrar com algum dos “pernaltas” na rua, Deborah também entende que esse momento é de trocar. “Somos instrumento de resistência com alegria. A gente deseja que tenha essa procura de mais pessoas querendo aprender com a gente, e então, em breve, vamos lançar mais oficinas para quem passar a ter esse desejo”, finaliza.

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