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Juiz de Fora é uma das cidades com mais teatros no Brasil

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ATO VIII
Entre o otimismo e o pessimismo

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Somando cerca de 33 mil habitantes por teatro, Juiz de Fora possui um índice bastante elevado se comparado até mesmo com as capitais do país. Considerando a segunda edição do levantamento “Cultura em números”, realizado pelo Ministério da Cultura, a cidade só perde em números de habitantes por teatro para a capital Vitória, que possui 24 mil vitorienses por espaço. Todas as 26 demais capitais apresentam índices inferiores, como Belo Horizonte, com 53 mil habitantes por casa de espetáculos. Na terceira posição, o Rio de Janeiro soma 39 mil pessoas por teatro. A partir desta sexta-feira, com a inauguração do Teatro Paschoal Carlos Magno, no entanto, a cidade, cuja estimativa de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta para uma população de 563.769 pessoas, passa a contar com um índice ainda melhor, de cerca de 31 mil habitantes por teatro. O estudo, ainda sem atualizações desde sua publicação, em 2010, denuncia a alta concentração das salas na região Sudeste do país e nas capitais. Em Minas Gerais, apenas 19% dos municípios possuem teatros, sendo que 34% deles estão localizados em Belo Horizonte.

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Dos 17 teatros contabilizados pela Tribuna, incluindo espaços multiuso e anfiteatros já utilizados pelas artes cênicas, 14 deles se localizam no Centro, um na Zona Sul e dois na Zona Norte. Do total, apenas nove pertencem à iniciativa pública, dois deles atualmente fechados e sem previsão para reabertura, indicando, assim, as sombras que o índice puro e simples é capaz de escamotear. Os cerca de 5.200 assentos presentes na cidade agonizam com a poeira ou com usos para além do artístico. Com sua ocupação restrita há quase um ano e meio, a Sala de Encenação Flávio Márcio, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, configura importante perda para a expressão contemporânea, haja vista sua possibilidade múltipla de uso.

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Após diferentes reuniões com técnicos do Corpo de Bombeiros e embates que vão da flexibilidade necessária à vistoria de bens tombados até a impossibilidade de alteração da escada de madeira do espaço cultural, o superintendente da Funalfa Rômulo Veiga é pessimista em relação a um consenso. “Não consigo enxergar, num horizonte, uma anuência do Corpo de Bombeiros. Falta uma sensibilidade em relação aos tombamentos. Mas entendo, também, que eles têm que ter responsabilidade, e precisamos encontrar uma solução conjuntamente”, argumenta ele, que defende outra destinação para uma pequena sala do Paschoal Carlos Magno, anteriormente projetada para servir como um auditório com 32 lugares. Sua proposta, que está em análise, é que o lugar seja licitado para uma livraria que deveria comportar uma biblioteca com publicações da Lei Murilo Mendes.

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ATO IX
À espera de um auto

Em obras desde 2016, o Centro Cultural Pró-Música/UFJF, com seu teatro para 500 lugares – o segundo maior da cidade ao lado do Teatro Solar – junta-se ao centro cultural do complexo Mascarenhas na ausência de previsão para reabertura. Segundo a assessoria de comunicação da Pró-reitoria de Cultura da UFJF, responsável pela gestão do local, alterações já foram feitas, como a troca de carpetes e cortina, mas a obra atravessará 2018. Também sob tutela da universidade, o Cine-Theatro Central continua com seu Balcão Nobre e Galeria fechados, o que representa 650 lugares a menos no maior teatro da cidade. Licitada e contratada, a empresa que fará as adaptações a fim de que o lugar conquiste o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros, aguarda aprovação do projeto pela corporação.

 

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ATO X
O que restringe também alimenta

Os 17 teatros que colocam Juiz de Fora como referência nacional em número de casas num país onde apenas 23,4% dos municípios possuem teatro ou sala de espetáculos, segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais divulgada pelo IBGE em 2015, não configuram agenda teatral regular para a cidade, mas esporádicos e inconstantes eventos, como o agigantado Central, que nos 31 dias de março apresenta somente três espetáculos artísticos. Iniciado no próximo dia 4 de março, o projeto “Caravana da alegria”, desenvolvido pelo Teatro Solar, busca manter uma frequência despertada pelo projeto “Diversão em cena”, promovido pela Fundação ArcelorMittal Brasil, que leva, há anos, famílias para espetáculos infantis nas tardes de domingos. “Nossa ideia é preencher essa lacuna”, aponta o produtor Gil Berbari, anunciando a programação que se estende até o final de abril, sempre às 16h e a preços populares.

Apontando para uma manutenção custosa, Berbari defende a locação do teatro para eventos como fundamental para ter “uma vida financeira saudável”. “Temos feito locação para formaturas e também espetáculos daqui e de fora. Para ser uma casa totalmente voltada para o aspecto artístico, fica difícil. Tem que diversificar com palestras, cerimônias. No ano passado tivemos até festa de encerramento de escolas de capoeira. Funcionamos o mês todo porque temos locações”, observa, afirmando uma prática que se faz presente na maioria das casas privadas da cidade, do Centro Cultural Benfica à Casa D’Itália. Tombado pelo município, o Teatro Academia não pratica aluguel, mas se volta prioritariamente para a comunidade escolar, abrindo-se para o restante da cidade esporadicamente, como para as apresentações gratuitas da Cia. de Atores da Academia. De acordo com a assessoria de comunicação da instituição, o uso do espaço para eventos externos é avaliado pontualmente pela diretoria.

Os custos técnicos, com equipamentos de iluminação e sonorização, bem como aluguel dos espaços, para o diretor Hussan Fadel, do Corpo Coletivo, acabam por encarecer a produção local, sempre às voltas com baixos orçamentos para erguer suas peças. “O empreendedorismo do ser artista está em ter que contar que o trabalho vai dar retorno, sem ter garantia para isso. Um técnico de informática pode ter dificuldade de arrumar um grande número de clientes, mas não vai deixar de ganhar, porque sempre vai ter alguém que precisa. Já um técnico de luz para teatro é a primeira coisa que o artista vai cortar, porque o aluguel de um spot custa R$ 50 a diária. E ninguém usa só um. E, ainda, precisa da mesa, que custa R$ 150 por dia. Cortamos isso, porque em três dias de espetáculo já gastamos R$ 1.000. Então, começamos a trabalhar de uma forma mais enxuta”, comenta, referindo-se à frequente prática de adaptação dos artistas das muitas cenas que conformam o teatro de Juiz de Fora.

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