O ator, diretor e roteirista Gueminho Bernardes completa 40 anos de teatro em 2017 com muitos planos para festejar. E as comemorações começam hoje, às 18h30, com a apresentação do espetáculo “O fim do mundo é hoje!”, no Teatro Solar, dentro da programação da 16ª edição da Campanha de Popularização Teatro & Dança, com repeteco em 11 de fevereiro, às 21h. Outra peça de Gueminho que participa do evento é “Como fracassar na vida e ser infeliz no amor”, com apresentações nos dias 29 de janeiro e 5 de fevereiro, também no Solar, às 21h. Além dos espetáculos já conhecidos do público, Gueminho prepara outras atividades para este ano, como a estreia de um novo espetáculo, o lançamento de dois livros e a “reinvenção” do TQ (Teatro de Quintal), entre outras.
Ao subir no palco do Teatro Solar neste sábado, Gueminho vai manter a tradição de ser o único artista a ter participado de todas as 16 edições da Campanha. “É aquela sensação boa da resistência, da vitória. De ter atingido uma meta própria, de continuar fazendo o que gosta numa cidade que cria tantas dificuldades, inclusive e principalmente por aqueles que teriam a obrigação de apoiar. É como completar uma maratona, sem importar com quem ganhou a corrida, mas pelo prazer de enfrentar seus limites”, afirma o artista.
Sobre os dois espetáculo que vai apresentar, Gueminho adianta que “Como fracassar…” terá piadas novas. “Ele se ancora em muitos pontos do dia a dia. As piadas são sempre atualizadas. E depois, como é um show com muita informação, dificilmente a pessoa saboreia tudo vendo uma só vez. Recomendo duas ou três (risos). Já ‘O fim do mundo…’ é um show novo, em maturação. Não é tão conhecido. Estreei ano passado e fiz poucas apresentações. Nem eu sei como será nessa temporada. As ideias ainda estão se consolidando. É um show selvagem.”
Além dos espetáculos de sucesso, Gueminho aproveita a comemoração dos 40 anos de carreira teatral para colocar novos projetos adiante. Um deles é o livro inspirado em “O fim do mundo é hoje”, que, a princípio, seria financiado por meio do crowdfunding, mas que agora está em negociação para ser lançado pela editora Giostri. E há também planos para a dobradinha peça/livro de “Regras de etiqueta para um assalto feliz”, a serem lançados ainda este ano. “Quando fiz uma temporada em São Paulo, anos atrás, fui assaltado. E isso gerou uma ideia de um código de etiqueta para um assalto feliz. É um texto sobre a cultura brasileira de roubar e ser roubado. Esse foi encomendado pela Giostri, já está pronto em livro e em peça. E deve estrear esse ano.”
Também faz parte dos planos do artista a reinvenção do Teatro de Quintal, para suprir o seu desejo de voltar a fazer teatro de rua. “De tudo que fiz, foi a experiência mais prazerosa e revolucionária”, afirma. “Vou tratar disso com o grupo, mas, provavelmente, vamos ter que renovar o elenco, trabalhar outra dinâmica de atuação. Vou reinventar o TQ e me reinventar. Vou dar trabalho para os burocratas da Secretaria de Atividades Urbanas.”
O acaso que terminou nos palcos
A carreira de Gueminho Bernardes, iniciada há quatro décadas, foi – de acordo com ele – algo que aconteceu “meio por acidente”. Seminarista, foi chamado para trabalhar com formação humana e cristã no Colégio Academia, onde foi convidado a participar da montagem de “Morte e Vida Severina”. Quando se deu conta, tinha se tornado integrante do GTA (Grupo de Teatro Academia).
“Fiquei interessado e fui aprendendo. Eu era militante da Teologia da Libertação. Queria organizar o proletariado e derrubar a ditadura, e naquele tempo o teatro me pareceu uma ferramenta eficiente pra isso. Os primeiros anos do TQ tiveram esse sentido político revolucionário. Nesse processo eu conheci Amir Haddad e o Tá na Rua. Foi com eles que eu descobri que a revolução pode – e deve – ser feita com alegria. As coisas mais importantes que eu sei sobre teatro, devo a Amir Haddad.”
Depois de partir para o teatro de rua e ser um dos organizadores da Mostra de Teatro Popular, Gueminho e o TQ criaram em 1982 o projeto Teatro de Bar, iniciativa que durou 18 anos e passou por diversas casas de Juiz de Fora. Entre os espetáculos do grupo estão “Made in Piraúba” e “Mineiros on the beach”, além de programas de TV (“Paraybunna connection”) e rádio (“Os invasores”). Já a carreira solo teve início em 2009, com “Como fracassar na vida e ser infeliz no amor”. E a ideia é não parar.
“Não vejo um horizonte à frente de encerramento e nem qualquer indicação de que definitivamente vou me estabelecer em algum trabalho. Nesse momento, aos 60 anos, estou abrindo uma nova trilha profissional. Estou escrevendo shows de teatro para dois youtubers de 20 anos. Consegue imaginar o que é isso? Olho pra trás e me sinto um sobrevivente feliz. Ainda não realizado. Quanto mais velho e mais perto da morte me sinto, mais inconformado e angustiado, mais produtivo. Criei uma obra que ainda está incompleta. Tenho muito orgulho dela.”