Diversidade no repertório do canto coral. Essa é a aposta do Ars Nova, grupo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que se apresenta no 28° Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga nesta quinta-feira (27), no Cine-Theatro Central, às 20h. Com 24 cantores e um músico no palco, o coral, fundado em 1959, foge à regra, e apresentará um programa que contempla, principalmente, a música do século XX. O grupo traz a Juiz de Fora parte do novo repertório ao qual estão se dedicando este ano.
O programa do concerto inclui composições de José Maurício Nunes Garcia, numa homenagem aos seus 250 anos de nascimento. Dividido em três partes, terá início com músicas sacras, como o moteto “Ave Maria” do austríaco Franz Biebl (1906-2001) e “Ave Maris Stela”, do norueguês Trond Kverno (1945).
Na segunda parte, estão obras corais brasileiras, como “Judas Mercattor Pessimus”, de José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), “Duas Lendas Ameríndias em Nheengatu”, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – nos seus 130 anos de nascimento -, “Ponto de Oxum e Yemanjá”, de Carlos Alberto Pinto da Fonseca (1933-2006), que regeu o Ars Nova por mais de 40 anos e deu ao grupo um reconhecimento internacional, e “Sabiá Coração de uma Viola”, de Aylton Escobar (1943).
Na terceira e última parte, o Ars Nova convida o violonista mineiro Celso Faria para juntos interpretarem “Romancero Gitano, opus 52”, de Mario Castelnuevo-Tedesco (1895-1968), um concerto para violão e coro em forma de suíte, em sete movimentos com poemas de Federico Garcia Lorca.
O maestro do coral, Lincoln Andrade, conta que a mudança do programa, anteriormente voltado a obras barrocas e europeias, teve início quando ele assumiu a direção do grupo em março deste ano. “Resolvemos mostrar a capacidade que o coro tem de cantar outras coisas além da música antiga. Apesar de o festival ser tradicionalíssimo, estou preocupado em levar um repertório que tenha diversidade.”
Memória musical
Na opinião do maestro Lincoln Andrade, o Festival de Música Antiga e Colonial Brasileira é um marco na busca pela preservação de nossa memória musical. “Talvez seja um dos festivais mais importantes no Brasil atualmente, que oferece a possibilidade de discutir a produção musical brasileira a partir da música colonial, principalmente daquela produzida e descoberta em Minas Gerais”, afirma.
Para ele, a inclusão de grupos como o Ars Nova na agenda incentiva a criação de grupos semelhantes. Apesar de o Ars Nova não desenvolver um repertório exclusivo e específico de música antiga e colonial, sua presença no evento “mostra que o festival abre sua área de atuação e sugere que se existem grupos no Brasil hoje que fazem um repertório como esse, é porque a música brasileira evoluiu a partir de fonte e base bastante sólidas.”
Na estrada
Projeto para 2018, o “Ars Nova na estrada”, é uma turnê que percorrerá cidades do interior de Minas Gerais, inclusive Juiz de Fora, com a proposta de divulgar a possibilidade de trabalhar a diversidade em canto coral. “Queremos despertar a vontade de arriscar um programa diferente em outros corais, também muito capacitados”, ressalta, empolgado, o maestro.
O Ars Nova é referência na área de canto coral no Brasil e no exterior. Sob a regência do maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca, de 1962 a 2004, o coro conquistou inúmeros prêmios e condecorações em importantes festivais nacionais e internacionais e realizou mais de 1.400 apresentações no Brasil e em outros 17 países.
Desde a sua retomada, em 2013, sob a regência da maestrina Iara Fricke Matte, o Ars Nova realizou 96 concertos no Brasil e exterior, alcançando um público de mais de 18 mil pessoas. Destacam-se, ainda, dois prêmios recebidos em 2016: o Troféu JK de Cultura e Desenvolvimento e a conquista do terceiro lugar, na categoria Coro Misto, no 34º Festival Internacional de Música de Cantonigròs, realizado em Vic, Catalunha, Espanha.