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O gosto do mangue

mundo livre sa mostra fusao do rock com outros ritmos tipicamente brasileiros felipe martins

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Mundo Livre S/A mostra fusão do rock com outros ritmos tipicamente brasileiros (Felipe Martins)
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Mundo Livre S/A mostra fusão do rock com outros ritmos tipicamente brasileiros (Felipe Martins)

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Fred Zero Quatro, aos 51 anos, ainda é um caranguejo com cérebro. Mais experiente, com certeza. A adolescência, quando fundou a banda Mundo Livre S/A e alicerçou o movimento Mangue Beat, ficou para trás. O mangue persiste. O que é o mangue? “Parte terminal de rio ou lagoa. Porção de rio com água salobra. Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos das marés. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo”, diz o manifesto “Caranguejo com cérebro”, escrito por Fred Zero Quatro em 1992, o primeiro do gênero que nasceu em Pernambuco, no Recife.

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“Se for analisar pelo momento duas das principais bandas, resistentes até hoje daquela cena inicial, é um momento bacana”, comenta Fred. “O Nação Zumbi gravou um disco maravilhoso recentemente. Esse ano teve a celebração dos 50 anos do Chico Science, com um documentário muito benfeito. O Mundo Livre S/A está lançando um DVD com uma resposta muito boa do público”, completa o músico, que traz, nesta quinta, às 22h, no Cultural Bar, a turnê do primeiro registro audiovisual da banda “Mangue bit ao vivo”.

“O Mangue Beat, como uma cena, se insere no contexto de uma cadeia produtiva muito conturbada que existe hoje, talvez da cultura de uma maneira geral. Como o jornalismo, que enfrenta uma dificuldade imensa com seus grandes veículos, muito por conta da revolução digital, que põe em cheque toda uma forma de se consumir informação. A cultura e a música estão inseridas nisso. Não dá para dizer que o Mangue tem hoje, enquanto cena e conceito, a mesma relevância como era há 20 anos”, lamenta o líder do Mundo Livre S/A.

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Formada em 1984, num nordeste em ebulição – que logo mais viria a dominar o cinema nacional e ouras linguagens artísticas – a banda que teve Otto como percussionista até 1996 esperou décadas até se deixar focalizar pelas câmeras. “A gente demorou a se convencer da validade desse formato, que achávamos que era muito engessado. Por um tempo a gente tentou fugir e buscar algo mais original”, pontua Fred. “Precisávamos ter um capricho maior na questão cênica, de cenários e iluminação. Hoje em dia, para ser competitivo, tem que ter mais elementos na cena. Ao mesmo tempo começamos a trabalhar com uma nova produtora, com muita experiência em produzir e divulgar DVDs.”

Desde o início, segundo Fred, a ideia era resultar em um trabalho independente, por isso o financiamento coletivo, o que conferiu maior liberdade à produção na qual constam grandes músicas da banda e a inédita “Loló Luiza”. “O maior trabalho de repertório foi ter que cortar algumas músicas, porque não cabiam, já que mídia tem uma limitação de tamanho”, diz. Ao término, 20 faixas no DVD e 17 no CD, ajudando a contar uma história que ousou ao apostar na fusão do rock com outros ritmos tipicamente brasileiros.

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Ainda que já tenham composições suficientes para entrar em estúdio e gravar o sétimo álbum de inéditas da carreira, o grupo prefere apostar na experiência de colocar diante de um novo público, canções que revolucionaram o cenário musical brasileiro nos anos 1990, com uma pegada rock’n’roll e também regional, com uma postura firme e um sotaque quente de Pernambuco. “É um conceito e uma linguagem, que não teve prazo de vencimento”, comemora Fred.

“Rodamos o país inteiro com um show muito fiel da nossa carreira. Sempre revisamos o repertório, mas a essência do trabalho inicial permanece na nossa linguagem. Aliás, é interessante ver a garotada, uma geração que tem idade para ser meu filho, indo nos shows cada vez mais. De vez em quando entro no YouTube e vejo uma gurizada tocando a gente. Semana passada vi dois moleques postando versões para ‘Meu esquema’. Para mim é bacana ver essa resposta, de que não é algo datado, que ficou esquecido”, emociona-se o músico. “No carnaval tocamos pela primeira vez num trio elétrico do Galo da Madrugada. O homenageado foi o Chico Science e o Mangue Beat, e enfrentamos essa maratona, quase anti-humana em termos de esforço, mas aguentamos firmemente. Foi massa. A galera está, até, estudando termos um trio fixo”, acrescenta ele, confirmando que o gosto do mangue ainda permanece fresco e, por demais, saboroso.

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Papel de Seda

Silvia é uma solitária aposentada de pouco mais de 60 anos e vive para atormentar os vizinhos com sua música alta, seu ensurdecedor arrastar de cadeiras ou seus irritantes trotes. Um dia, a mulher e seu querido apartamento se aprontam para as lembranças. Melhor curta-metragem regional segundo o júri popular da última edição do Festival Primeiro Plano e vencedor nas categorias melhor direção (para Analu Pitta e Rodrigo Souza), melhor direção de arte (para Fernanda Roque e Ana Cláudia Gomes) e melhor atriz (para Sandra Emília Costa), o filme ganha nova exibição na cidade nesta quarta, às 19h, no Anfiteatro João Carriço, junto de outras duas produções locais.

Enquanto “Feminino”, de Carolina Queiroz, documenta os saberes e as práticas de drag queens juiz-foranas, desconstruindo os estereótipos de gênero, “Firma o guia povo do santo”, de Helena Frade, aborda as religiosidades afro-brasileiras a partir de religiosos de Cataguases e Leopoldina e suas histórias de conflitos, demandas e paixões. “Sou muito otimista em relação à cena atual. Tem sido produzida muita coisa boa. A própria Lei Murilo Mendes mostra muita gente nova fazendo. O que falta é espaço para exibição”, aponta a produtora Mariana Rebelato, uma das coordenadoras da Semana do Audiovisual.

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No debate que precede a exibição dos filmes, três jovens diretoras se encontram, discutindo o empoderamento da mulher no audiovisual e as diversas linguagens da contemporaneidade, focos de um festival que chega à sua sexta edição, anteriormente produzido pelo Coletivo Sem Paredes, depois pela Casa Fora do Eixo e, hoje, após a extinção dos dois coletivos, ganha a assinatura da produtora Cria – Cultura e Conhecimento, de Mariana, que também está envolvida no Grito Rock e no Festival Sem Paredes, propostas do Coletivo Fora do Eixo.

Em mais de 200 cidades brasileiras e se estendendo por outros endereços latino-americanos, o Seda, de acordo com a produtora, foca em formação, de público e conteúdo, seja com oficinas, seja com discussões e mostras. “Nossa programação pensa em fomentar e distribuir o audiovisual não só como cinema, mas como apreciação de outras linguagens, debatendo sobre como fazer para transmitir ao vivo shows ou manifestações”, explica Mariana, apontando para um presente de urgências, que consome um sem número de imagens e logo as dispersa na rede. “O Audiovisual pode estar em outros espaços para além das salas do cinema.”

SEDA

Oficina de produção de GIF

Nesta quarta e quinta, das 14h às 18h, na Casa de Cultura (Av. Barão do Rio Branco 3.372 – Centro)

Exibição e debate de filmes

Nesta quarta, às 19h, no Anfiteatro João Carriço (Av. Barão do Rio Branco 2.234 – Centro)

Show Mundo Livre S/A

Nesta quinta, às 22h, no Cultura Bar (Av. Deusdedit Salgado 3.955 – Teixeiras)

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