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Artista visual apresenta exposição de colagens que propõem um novo olhar sobre Juiz de Fora

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(Foto: Divulgação)

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‘A colagem, para mim, é uma linguagem que reorganiza o tempo’ (Foto: Divulgação)
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A artista visual Tais Marcato expõe no Forum da Cultura a mostra “Entre recortes e memórias”. São 32 obras presentes na exposição, entre colagens, assemblagens e intervenções, que transitam entre o íntimo e o coletivo, o analógico e o digital, o passado e o presente, tendo como foco Juiz de Fora, em celebração ao seu aniversário, a ser comemorado neste sábado (31). A entrada é gratuita e a mostra fica disponível para visitação até o dia 6 de junho.

Como consequência da exposição, o Forum ainda organiza a oficina “Colagem vintage afetiva”, ministrada pela artista. Ela acontece no dia 4 de junho, das 14h às 17h, sendo gratuita e aberta ao público a partir dos 16 anos. As inscrições podem ser realizadas em um formulário on-line, disponível no Instagram do Forum da Cultura.

A proposta da oficina é permitir que os participantes desenvolvam suas habilidades com a técnica da colagem, ressignificando imagens e objetos do passado, criando novas narrativas visuais. Cada participante deve levar para a oficina uma fotografia impressa, de preferência uma cópia digitalizada, com a qual tenha alguma ligação afetiva.

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A Tribuna conversou com Taís sobre seus processo artístico, sua relação com Juiz de Fora e a colagem pode ajudar a ressignificar tanto o passado, quanto o espaço em que se vive.

Tribuna: Como a técnica da colagem pode ser uma ponte entre o passado e o presente, para além de ser um elo entre o analógico e o digital?
Taís: A colagem, para mim, é uma linguagem que reorganiza o tempo. Ao reunir fragmentos, – sejam eles fotografias antigas, objetos esquecidos ou imagens digitais – ela costura ausências e presenças, fazendo coexistir diferentes épocas em um mesmo plano. É uma técnica que rompe com a linearidade e nos convida a revisitar o passado com olhos de agora. Mais do que um elo entre o analógico e o digital, a colagem é uma ponte sensível entre o que fomos e o que ainda pulsa em nós. Ela nos permite reconstruir narrativas a partir do que restou, do que guardamos, do que resistiu.

As lembranças costumam vir, muitas vezes, de maneira fragmentada, quase como uma colagem do que sentimos, vivemos e experienciamos. Como você traduz e transmite na exposição essa colagem interna, do cotidiano?
A memória nunca vem inteira. Ela vem em lampejos, em ruídos, em imagens parciais. E é exatamente isso que tento capturar nas obras da exposição. Por meio de recortes, sobreposições e silêncios visuais, proponho composições que não explicam, mas sugerem. Muitas vezes parto de uma imagem de família, de um objeto guardado ou de uma folha seca encontrada pelo caminho – elementos que carregam um tempo vivido e que, ao serem rearranjados, ganham novos sentidos. Cada obra é um espelho possível dessa colagem interna que todos carregamos: feita de lembranças misturadas com sensações, de ausências que ainda nos habitam.

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E o que a colagem do cotidiano refletida nas suas obras pode dizer sobre o espaço, a cidade em que vivemos? Você entende que ela pode contribuir para ressignificar, de alguma maneira, a forma como enxergamos e vivemos Juiz de Fora?
Sim, acredito que a colagem é também um gesto urbano. Muitas das obras dessa exposição nascem do meu desejo de homenagear Juiz de Fora, cidade onde minha família construiu sua história e onde eu mesma cheguei aos 9 anos de idade. Ao revisitar edifícios, documentos, fotos de acervo e símbolos da memória urbana, – como a antiga linha férrea, a Escola Normal, o Paço Municipal – proponho uma releitura poética da cidade. É uma forma de lembrar que os espaços que habitamos também são tecidos por afetos, histórias invisíveis e memórias silenciosas. Ao recortar e recompor essas imagens, convido o público a enxergar a cidade não apenas como cenário, mas como parte viva da sua própria trajetória.

Confira algumas obras da exposição que tem Juiz de Fora como protagonista

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'Tempo Suspenso: Praça da estação' (Foto: Divulgação)

O que mais te interessa ao fazer colagem? Quais técnicas você tem predileção em seu trabalho?
O que mais me encanta na colagem é seu poder de ressignificação. Pegar algo aparentemente simples – um recorte de revista, uma fotografia envelhecida, um objeto enferrujado – e transformo em poesia visual. É uma prática democrática, acessível e sustentável. Parte de restos, de sobras, do que foi descartado ou esquecido. E justamente por isso tem o poder de resgatar o que parecia irrelevante, de dar voz ao que estava silenciado. No meu trabalho, experimento com várias técnicas: colagem manual, digital e híbrida. A manual me conecta com a presença do gesto, com o toque; a digital me permite expandir repertórios, experimentar camadas, cores e recortes com liberdade. A híbrida é o encontro dos dois mundos – e talvez a que mais se aproxime da minha poética. Também uso técnicas específicas do universo da colagem como prollage, rollage, assemblage, colagem ao acaso e décollage, além de intervenções com objetos e elementos tridimensionais.

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A exposição conta com quais obras? Gostaria de destacar alguma?
A exposição apresenta 32 obras – entre colagens, assemblagens e intervenções – que transitam entre o íntimo e o coletivo, o documental e o poético. Muitas são inéditas, cerca de 25 obras, outras fazem parte de séries que venho desenvolvendo nos últimos anos. Gosto muito da obra “Tempo Suspenso: Paço Municipal”, em que utilizo a imagem da cúpula do Paço Municipal e insiro flores nas cores da bandeira de Juiz de Fora. É uma homenagem silenciosa ao tempo urbano e ao gesto de florescer, mesmo diante do implacável passar das horas. O relógio, imóvel em sua contagem silenciosa, torna-se o eixo simbólico entre permanência e transitoriedade, guardando o tempo que passa e o ritmo que estrutura a cidade. Também destaco as obras criadas com objetos afetivos, como folhas secas de cadernos antigos e cápsulas com fotografias da minha família.

Há algum motivo para escolha da data da exposição?
A data da exposição “Entre recortes e memórias” não foi escolhida por acaso. Ela foi pensada como uma homenagem aos 175 anos de Juiz de Fora, cidade onde minha história familiar se entrelaça com tantas outras. Foi aqui que meus pais nasceram, e foi para cá que me mudei ainda criança – cidade que me formou, me abriga e me inspira até hoje. Cada obra presente na mostra carrega, de alguma forma, um pedaço dessa cidade: seus edifícios, seus símbolos, suas memórias coletivas e suas histórias silenciosas. É uma exposição que convida o público a olhar Juiz de Fora com outros olhos – mais afetivos, mais atentos, mais poéticos.

Serviço

Exposição ‘Entre recortes e memórias’
Disponível até dia 6 de junho, de segunda a sexta, das 10h às 19h
No Forum da Cultura (Rua Santo Antônio 1112 – Centro)
Entrada gratuita

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*Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy

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