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Doce lisergia

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Banda é formada por Raphael Vaz (baixo), Benke Ferraz (guitarra), Dinho Almeida (vocais e guitarra) e Ynaiã Benthroldo (bateria). Foto: Ann Alva Wieding/Divulgação
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Fruto de uma engenharia ascendente entre arranjos, nasce o Boogarins. Há cinco anos, os garotos do ensino médio Dinho Almeida e Benke Ferraz “viviam perigosamente” matando aulas para fazer algumas jams (sessões improvisadas). Lá se foram várias horas de experimentações, misturas e descobertas. Nesse caleidoscópio sonoro, as características de Syd Barrett (ex-vocalista do Pink Floyd) em seu primeiro disco solo, as composições do músico Júpiter Maçã e elementos da Tropicália surgiam como um encontro nas canções primogênitas, recheadas de melodias com os traços do eixo da psicodelia despretensiosa, componente considerado de destaque pela crítica nacional e internacional. Após um ano de síndromes nada convencionais sendo gravadas, como uma bateria captada com o microfone do notebook, os goianos chegavam ao seu primeiro álbum com a gravadora nova-iorquina Other Music Records. “Nunca fomos direcionados para fazer um som psicodélico. O que aconteceu é que a gente gravava de um jeito totalmente improvisado. A questão dos efeitos e texturas era um meio de superar as dificuldade de gravar um som normal”, conta o vocalista Dinho Almeida em entrevista à Tribuna.

Antes mesmo de escolher um nome para a banda, que logo depois recebeu Hans Castro na bateria e Raphael Vaz no baixo, o nome do disco de estreia era anunciado: “As plantas que curam”, lançado em 2013 em vinil, CD, LP, download digital e até fita cassete. A viagem bucólica começava a se encaixar em um conjunto de diálogo lírico orquestrado por Dinho. O título do trabalho era homenagem para a avó de Benke, que tomava uma garrafada/aguardente medicinal. E seguindo o “baile”, surgia o Boogarins, com referência encontrada em um livro botânico. Lá estava a flor branca “Bogarim”, que, segundo os ditados populares pesquisados no Google, remete a “um amor puro que existe dentro de uma pessoa”.

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A partir daí, caíram na estrada em tour pelo país, e já no ano seguinte deixavam as terras tupiniquins para pousar no Estados Unidos em sua primeira turnê internacional. Nessa época, o quarteto começava a colecionar elogios da imprensa norte-americana e europeia através de comparações com Mutantes, Clube da Esquina (será que Arnaldo Baptista e Milton Nascimento vão aparecer no show aqui em JF?), Tame Impala, Beatles e até Tom Jobim. Foram mais de 180 shows em 2014 e convites para tocar no South by Southwest no Texas e Primavera Sound em Barcelona, acompanhado de um lineup com artistas como Caetano Veloso, Arcade Fire, Kendrick Lamar e Queens of Stone Age.

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“A gente tocou muito e entendeu que é possível trabalhar com música se botar a cara para isso. Pegamos um gosto de improvisar no show. Às vezes chego com uma música no violão, mas quando vamos desenvolver, estendemos e fazemos de várias formas, sendo músicas longas e proporcionando um show diferente. Essa rotina de turnê extensa permitiu que brincássemos com nossas próprias músicas e nos ajudou a mesclar texturas e som no próximo disco”, explica o vocalista.

 

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Amadurecimento musical

Passando pela Espanha, nascia o segundo álbum, “Manual ou guia livre de dissolução dos sonhos”. Hans Castro deixava o grupo, e Ynaiã Benthroldo (ex-Macaco Bong) ficou com as baquetas. Já não era mais dois garotos em um quarto brincando com o som. Dessa vez, o currículo conta com a experiência absorvida em festivais na “terra do Tio Sam”, um estúdio e grupo completo. A contribuição de Rafael em “6000 dias ou mantra dos vinte anos”, por exemplo, e a bateria de Ynaiã em “Tempo”, alinhada à sintonia de Dinho e Benke, evidenciam o crescimento e o entrosamento da banda. “No ‘Manual’, a gente brincou mais com o ritmo. Por exemplo, ‘Avalanche’, não é o exatamente o rock ali, é uma brincadeira na parte de modernizar e trazer ritmos tradicionais para uma linguagem mais nova, com efeito.” No meio de riffs cíclicos e distorções, a canção “Benzin” revela “um espírito de comunhão” na cena musical de Goiás. A sétima faixa do disco tem a parceria de Salma Jô, vocalista da banda Carne Doce, também de Goiânia. Na composição de Dinho e de Salma, a música flutuante fala de um lugar da fuga de onde você vem (no caso Goiânia), e ainda tem a participação da cantora no clipe cheio de imagens de cartões-postais goianos, como a Chapada dos Veadeiros. Além disso, a canção também faz parte do segundo disco da Carne Doce, álbum homônimo. Lançado novamente pela Other Music no Estados Unidos e distribuído pela Skol Music aqui no Brasil, “Manual” foi considerado pela crítica como um dos melhores discos de 2015.

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Novas ondas e Rock in Rio

Boogarins e Céu estiveram juntos em estúdio para gravar a nova música “Foi Mal”. Foto: Fabio Piva/Red Bull Content Pool

Em processo de produção para o terceiro álbum, o Boogarins já começou as gravações e lançou o primeiro single neste mês, “A pattern repeated on”. Além da parceria com o vocalista John Schmersal, das bandas Enon e Brainiac, essa é a primeira vez que o quarteto gravou uma música em inglês. Com influências de canções como “Amigo, amiga”, de Milton Nascimento, e “Do the astral plane”, do americano Flying Lotus, o novo som retrata as mudanças que vem por aí no próximo trabalho. “Conseguimos cruzar as experiências do ‘Plantas que curam’ e do ‘Manual’. O Benke trouxe umas influências do hip-hop americano, que brinca com a desconstrução da estrutura da música e ritmo. A gente se dividiu mais e desconstruiu a ideia da canção. No próximo disco, temos o Rafael participando mais e o Ynaiã saindo da bateria. Queremos deixar as músicas mais fluidas, fazer qualquer um se sentir parte dela e ouvir junto”, explica Dinho. A nova canção é o pontapé inicial para a turnê “Boogarins North America Summer Tour 2017”, que começa após o show deste sábado em Juiz de Fora.

E os caras não param. Se apresentaram no Rock in Rio Lisboa em 2016 e, neste ano, vão subir no Palco Sunset do Rock in Rio, no dia 15 de setembro, para um show com a cantora Céu. A parceria não é novidade. No último disco da paulista, “Tropix” (2016), o vocalista Dinho Almeida é quem assina a lírica da faixa “Camadas” com a artista. Para aquecer esse encontro na sétima edição do festival brasileiro, eles se encontraram para gravar a música “Foi mal”. A nova faixa será lançada antes do festival como parte de um projeto do Rock in Rio com o Red Bull Studios.

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Estreantes na Manchester Mineira, a banda de indie rock psicodélico faz seu último show no Brasil às 23h no Cultural Bar antes da turnê internacional. Segundo Dinho, o setlist terá o mix de músicas que eles experimentam em suas performances. “A gente sempre quis muito tocar em Juiz de Fora. O Ynaiã, que já passou por aí quando tocava na Macaco Bong, sempre disse que a cidade é bem bacana e que tem um público cheio de energia, e parece que falta algumas bandas independentes passarem por aí, então vai ser bem interessante”.

Parece com: Mutantes, Tagore, The Outs e Tame Impala
Escute: Lucifernandis, Doce, Benzin e Mario de Andrade/Selvagem

 

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Boogarins

23h no Cultural Bar
Avenida Deusdedith Salgado, 3955

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