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Dia Mundial do Teatro: grupos refletem sobre a reconquista do público

DESTACADATEATRO Sala de Giz
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No dia 27 de março se comemora o Dia Mundial do Teatro. A data começou a ser celebrada em 1962, como forma de divulgar e difundir essa arte que existe desde a Antiguidade e que, para os especialistas da área, é inerente ao ser humano. Se essa é uma data comemorada em todo o mundo, em Juiz de Fora não poderia ser diferente – principalmente considerando o cenário rico e diverso de grupos que há na cidade.

Quando se fala em teatro juiz-forano, imediatamente vem à cabeça o Grupo Divulgação, fundado em 1966 e laureado patrimônio imaterial da município. Para José Luiz Ribeiro, fundador do grupo, a definição dessa arte não poderia se desassociar do sentido de esperança. Em muitos casos, inclusive, ele acredita que o teatro possa funcionar como uma janela para um mundo mais crítico. “A partir do momento em que você tem uma sociedade organizada, que discuta seus problemas, que reflita sobre esses problemas, ali está presente o teatro. O teatro é o lugar que mostra para aquele que não quer ver”, ele diz.

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Para Márcia Falabella, professora e integrante desse grupo, a experiência é mesmo revolucionária. Ela afirma que o palco é “um espaço onde as pessoas podem mergulhar numa gama de experiências e sentimentos tão variados que torna o ser humano mais complexo”. Mas, nesse cenário de experimentações e liberdade, ela enxerga que a experiência não é apenas para quem faz – mas também para quem assiste. “Você vê a vida representada nos palcos. Os conflitos, os sentimentos, todo esse aprendizado. Ser público também é muito importante”, reflete.

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Para Carú Rezende, uma das criadoras do grupo Corpo Coletivo, que existe desde 2013, nesse dia é preciso “valorizar o encontro que o teatro proporciona”. Nesses tempos de isolamento, ela percebe ainda mais a falta que faz esse encontro de olhos nos olhos, que coloca um ser humano na frente do outro. Em sua visão, o teatro é um ambiente de encontro e que “cria um espaço onde a diferença é bem vinda e existe a disponibilidade para troca”. Ela ressalta que essas diferenças servem para que as pessoas entendam umas às outras, “entrando em um novo universo e se transformando um pouquinho”.

Grupo Divulgação é o mais tradicional da cidade, e volta a se apresentar nos palcos dia 1º de abril. (Foto: Divulgação)

Construindo a cidade

Para Felipe Moratori, do grupo Sala de Giz, que está com turmas e apresentações desde 2016, a relação do teatro com a cultura de Juiz de Fora é clara – até porque essa arte também tem força para criar formas de se olhar para a cidade. “Podemos questionar e propor outras narrativas diante do imaginário que temos sobre ser juiz-forano, sobre permanecer aqui e ter o desejo de construir a cidade”, diz. Para ele, fica impossível pensar na cidade sem considerar isso, já que é o teatro que permite o contato genuíno com a identidade das pessoas enquanto sociedade e indivíduos.

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Natália Possas, do Close Formação Artística, fundado em 2011, concorda com essa ideia e continua: “sem arte, o corpo continua funcionando, seguimos a vida, mas algo falta, e a arte se encarrega disso”. Em uma sociedade em que as pessoas vivem em precariedade e fome, no entanto, ela acredita que a arte precisa, por uma questão de sensibilidade e responsabilidade ética, “comprar uma ‘briga social’ e ser esse agente em favor da comunidade em que está inserida”. Para ela, ainda, é de extrema importância que o artista tenha uma antena “que capte as necessidades da cidade em que produz seu trabalho”.

Antes da pandemia, o grupo Sala de Giz apresentou “Não Vão Além”. Agora, se preparam para estrear novas peças no segundo semestre de 2022. (Foto: Brenda Marques/Divulgação)

Dificuldades na pandemia

Se o teatro é uma arte do encontro, o que fazer quando as pessoas não podem mais se aproximar fisicamente? Essa foi uma das principais questões para os grupos entrevistados que, assim como a maioria dos demais coletivos do país, sofreram com esse afastamento causado pela pandemia. Para Carú, foi difícil não poder efetivar esse encontro presencial. “Tivemos que aprender a usar essa tecnologia a nosso favor, tentar dialogar com a linguagem audiovisual para construir algo cênico, que valorizasse a presença.”

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Parte dessa experiência, no entanto, trouxe aprendizados que vão permanecer mesmo nessa retomada. José Luiz Ribeiro conta, por exemplo, que o Grupo Divulgação fez 236 lives, dois cursos on-line e “não se desconectou de pensar o teatro”. O mesmo aconteceu com o Close, e Natália conta que uma das saídas encontradas foi realizar a décima edição do Close Festival num formato totalmente digital.

Mas os impactos não acabaram. Natália também relembra que esse setor foi um dos mais impactados pela pandemia, porque foi um dos primeiros a “parar” e um dos últimos a poder “retomar” as atividades presenciais. Por isso mesmo, ainda há muita incerteza sobre como os grupos vão podem se manter e continuar. Felipe ressalta o mesmo. “O primeiro ano foi de muita incerteza. O segundo foi de disputa por editais e recursos emergenciais. Agora tem sido o momento de conquistar o público novamente e mostrar que permanecemos, que estamos vivos e estamos produzindo”, diz.

Grupo Corpo Coletivo ensaia peça “EspaçoNave: uma odisseia poética”, com orientação de Amir Haddad. (Foto: Thais Valencio/Divulgação)

‘O homem é teatral na essência’

Para os grupos entrevistados, apesar do forte golpe que representou a pandemia, o teatro não vai acabar. Márcia Falabella explica: “o teatro já passou por crises, é verdade, mas o homem é teatral em sua essência”. A principal problemática atual, em sua visão, é tentar trazer esse público para as peças, ainda mais depois da pandemia. “O público está ainda mais conectado, nas redes, nas bolhas. A gente precisa trazer as pessoas para fora de casa, para elas terem essa experiência do arrepio que o teatro causa”, diz. Para ela, no entanto, a arte está viva e vai se transformar mais ainda – assim como tudo à nossa volta.

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Nesse cenário, o teatro resiste e continua, até porque ele existe para muito além dos palcos – estende-se pela vida e transforma os caminhos de quem passa por ele. Não à toa, Márcia e José Luiz ressaltam essa importância do teatro na socialização, para o conhecimento e para uma vida reflexiva. “Estou completando 59 anos de teatro”, afirma José Luiz. “Ele praticamente me deu um caminho. Me permitiu ser um professor melhor, um educador melhor, um jornalista melhor e mais informado e me permitiu ser um homem do teatro a vida inteira, dando sempre um suporte de alegria a todo momento. Para os dois, os benefícios dessa arte não encontram limites e não fecham as cortinas jamais.

Em peça “A heroína idiota”, o Close Formação Artística celebrava a troca entre os atores. (Foto: Trajano Amaral/Divulgação)

Programação

No Dia Mundial do Teatro, a Funalfa vai contar com uma apresentação de “Música para criançada”, de Daniel Prazeres, às 11h, no Teatro Paschoal Carlos Magno. No dia 1º de abril, o Grupo Divulgação também vai realizar uma apresentação com os alunos do mergulhão. Os demais grupos se preparam para estrear no segundo semestre.

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