O curta-metragem “A lenda do cavaleiro da meia noite e outras histórias” recebeu o prêmio de melhor filme de até 7 minutos na mostra competitiva Terra Bernardo do Festival de Cinema de São Bernardo. O filme estava concorrendo na categoria curta-metragem documental brasileiro, e conta a história de uma lenda local do distrito São José dos Lopes, da cidade de Lima Duarte, sobre um cavaleiro que passa nas noites da quaresma e deixa um rastro de histórias, medos e ‘causos’ capazes de assustar as comunidades rurais do entorno. Este tema foi escolhido por jovens que participaram do curso audiovisual de Introdução ao documentário “Desvendando a Serra Grande”, em que os alunos foram incentivados a encontrar formas de registrar as culturas, memórias e patrimônios da região.
Durante esta oficina, como explica Céline Billard, uma das professoras do projeto “Ponto de Memória Vozes da Serra Grande”, foi feita uma introdução ao gênero do documentário. O objetivo do curso era justamente capacitar duas turmas de jovens dos distritos de São José dos Lopes, Laranjeiras, Conceição de Ibitipoca e Rancharia no âmbito do audiovisual. Ao longo dessa experiência, foram produzidos sete curta-metragens documentais sobre a região do entorno da Serra de Ibitipoca, que estão inclusive disponíveis no canal de Youtube Vozes da Serra Grande. Os jovens que participaram tiveram oficinas de história oral e memória com a professora Danielle Arruda, de cinema documentário com o professor Daniel Couto, direção de fotografia com o professor Kiko Barbosa e produção com o professor Luciano Piza e oficinas práticas de produção de documentário com Fred Fonseca e Céline Billard.
Os alunos aprenderam com exercícios práticos o manuseio dos equipamentos, as técnicas de entrevistas e foram apresentados os diferentes tipos de documentários, como explica Céline, em um curso com duração de seis dias. Essa é uma iniciativa patrocinada pelo Fundo Estadual de Cultura através do edital Exibe Minas do Governo do Estado de Minas Gerais, e que permite também um resgate da cultura local. “Foi muito proveitoso tanto para os alunos quanto para a equipe do projeto, que aprendeu muito dos próprios alunos. As turmas mostraram muito empenho em registrar as histórias, tradições e memórias das comunidades, interagindo com os mais velhos. Muitos talentos se revelaram ali”, conta.
Entre a equipe do curta, no roteiro, direção, som e câmera, estavam Ana Carolina Delgado Costa Carelli, Ana Cataryna Delgado Costa Carelli, Adauto José Ávila Moreira, Alisnanda de Jesus Ribeiro, Andreison José Clemente de Paula, Arielly Figueredo dos Santos, Cassiano Heitor de Almeida Silva, Claudiane Aparecida Rodrigues da Silva, Claudineia de Fátima Rodrigues da Silva, David Rodrigues, Deydvania de Fatima Ribeiro, Dheobranio Moreira Ribeiro, Gabriel Henrique dos Santos Silva, Gabriela de Oliveira Silva, Isabella Clemente da Silva, Isadora Ribeiro Toledo, Joao Miguel Rodrigues Ferreira, Juan Carlos da Silva Reis, Layslla Martins Moreira, Lucas de Ávila Coutinho, Lucas Rodrigues, Leidilaura Aparecida de Assis Moreira, Luiz Vitor de Souza Mendes, Maria do Carmo, Maria Rita Reis, Mariana Luana da Silva, Matheus Ávila Moreira, Pedro Henrique, Tales Rezende Motta, Tauany de Oliveira, Thaillayne Vitoria e Thiago Roque da Silva Clemente.
‘Autoestima e crescimento’
Além do prêmio sinalizar a qualidade do material audiovisual, para Céline, também contribui para que os jovens tenham vontade de desenvolver suas habilidades e para que a região tenha suas histórias contadas. Esse prêmio e também a seleção de outros curtas em outros festivais (‘Rancharia’ selecionado no Festival Primeiro Plano, “Jatão, buzão, caixote, baú, caquinho” selecionado no Festival Mobifilm e para o Festival de curtas de Campos Jordao) contribui para o que ela chama de revitalização da autoestima local e do sentimento de pertencimento e do protagonismo dos jovens. “Mostra a importância histórica da região, bem como as tradições das comunidades, fundamentando assim o turismo histórico da região”, destaca.
O desejo dos que participaram, como ela explica, é de poderem continuar capacitando os jovens a desenvolver essa atividade audiovisual, conseguindo também desenvolver uma cadeia de produção cultural local “através da democratização do acesso a esses conhecimentos e recursos e ampliando o projeto para outras comunidades rurais e periféricas”. Para ela, é algo que também honra as histórias de quem participou e viveu as narrativas – os habitantes da região que também se emocionaram e tiveram reações diversas, conforme ela conta, ao se verem nas filmagens. “Recebemos o prêmio com muito orgulho dos jovens diretores. É um reconhecimento muito importante não somente pelo trabalho de produção do documentário, mas também na valorização da identidade cultural das comunidades que sofrem um processo de gentrificação acelerado pelo turismo ligado ao Parque Estadual Ibitipoca e ainda mais com a concessão à iniciativa privada do parque”, diz.
Leia mais sobre cultura aqui