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Capela de Santana: exposição homenageia 160 anos da primeira edificação religiosa do Bairro São Pedro

Capela de Santana
Capela de Santana
Capela de Santana é tombada pelo Município desde 2007 pela sua história e importância, principalmente ligada à imigração alemã em Juiz de Fora (Foto: Sami Roque)
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Hoje, o terreno que abriga a Capela de Santana está todo ocupado. É cortado pela Rua Hermam Tolêdo, na Cidade Alta. Mas, há 160 anos, todo o arredor daquele espaço era ocupado por, simplesmente, duas coisas: uma casa e a capela. Eram quase 200 mil metros quadrados só para essas duas construções, pertencentes à família Larcher, de imigrantes tiroleses que atravessaram o Atlântico e se ocuparam na Colônia Alemã Dom Pedro II, onde hoje é Bairro São Pedro. A casa onde moravam já não existe, e todo o terreno, anos depois, foi dividido em diversos lotes, onde existem casas e prédios e até uma igreja maior.

Mas a Capela Santana segue ali, pertencente atualmente à Paróquia Universitária Nossa Senhora de Fátima. Por ser indissociável à história da imigração alemã em Juiz de Fora, ela foi tombada. E, no local, neste fim de semana, será possível conferir a exposição “Santana da colônia”, com objetos e documentos que contam a história da presença dos tiroleses em Juiz de Fora, a partir da construção da capela e da família Larcher. A mostra é feita em comemoração aos 160 anos da Capela de Santana, dentro das atividades em homenagem à santa padroeira, e organizada pela jornalista e historiadora Rita Couto.

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Promessa

A Capela Santana surgiu a partir de uma promessa, como conta Rita, que pesquisa a imigração alemã em Juiz de Fora há 20 anos. De acordo com ela, em 1858, a família Larcher estava na barca Gundela, vindo para o Brasil, e foi atingida por um vento contrário, em direção à África. A travessia da Áustria para o Brasil foi, então, conturbada e demorada. O tifo ainda assolava os passageiros, e a esposa de David Larcher esperava mais um bebê.

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Com medo, o homem e sua família fizeram uma promessa: se chegassem bem ao Brasil, ergueriam uma capela em honra a Santana, no local onde se fixassem. Nas vésperas do Dia de Santana, em 25 de julho de 1858, eles chegaram ao Brasil. Instalados na Colônia Alemã, em 1964, eles cumpriram a promessa e construíram a Capela, sendo ela a edificação religiosa mais antiga do São Pedro.

A Capela Santana é singela e pequena. Mas segue no mesmo lugar. Ao vender o terreno, a família disse que só faria isso se ela não fosse destruída, para que a promessa seguisse sendo cumprida. O que foi feito. Sua presença, no entanto, não garante que as pessoas saibam sua importância e sua história.

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Rita lembra, por exemplo, de ter a visto pela primeira vez aos 5 anos. Achou, a princípio, tratar-se de uma casinha. E só na adolescência é que conseguiu entrar e entender o que, de fato, ela era. E, ao estudar a imigração em Juiz de Fora, era impossível não passar pela Capela de Santana.

“As pessoas mais antigas aqui do bairro até sabem da capela. Elas têm a consciência de que é muita antiga, porque às vezes ouviam contarem as histórias. Mas a questão é que o bairro tem crescido muito nos últimos anos, especialmente em função da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e muitas pessoas de fora estão morando aqui. As pessoas até frequentam e não fazem ideia. Não sabem que aqui era a parte principal da Colônia Alemã, que a capela é a mais antiga do bairro. Mas, com esse crescimento, acaba que ela fica sufocada ali. Só quem conhece, de fato, a história, sabe.”

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Em busca da história

Rita precisou viajar para a Alemanha e para Áustria em busca de alguns documentos para conseguir traçar esse trajeto. “Porque, até então, ninguém tinha conseguido fazer essa ligação. Quem pesquisava aqui, era sobre a chegada do Rio de Janeiro para frente. Na Alemanha e na Áustria têm alguns trabalhos a respeito da Colônia, mas poucos. Os que citam, pesquisam até chegar no porto da Hamburgo.” Nas viagens, ela conseguiu encontrar cartas e documentos que mostravam como era o cotidiano da Colônia Alemã e ainda curiosidades sobre as viagens e as estadias. Como um quebra-cabeça, como fala, que, quando se conecta, tudo faz sentido.

Família Larcher, construtora da Capela de Santana, em foto de 1896 (Foto: Acervo Instituto Teuto-Brasileiro William Dilly)

Algumas marcas são registros desse tempo. “Muitas pessoas contam que na subida do Morro do Cristo já se sabia que se estava em um lugar diferente, por causa da arquitetura. Porque as casas da Colônia foram construídas com tijolos aparentes. Essa foi a marca da Colônia em Juiz de Fora: os tijolos aparentes.” Marca essa estampada na própria Capela de Santana. Alguns detalhes, ainda, ela conseguiu através de relatos orais, colhidos de descendentes diretos que ainda moram no bairro e lembram de como era a colônia. Mas muitos documentos, no caminho, se perderam.

E o motivo da perda é, também, de acordo com Rita, o mesmo de essa história seguir velada, de alguma forma, na cidade. Tanto que poucos conhecem, realmente, a Capela de Santana. E isso tem a ver com as guerras e o posicionamento brasileiro. Em 1917, por exemplo, quando o Brasil entrou na Primeira Guerra, vários estabelecimentos de alemães em Juiz de Foram foram apedrejados. Aqueles que ainda falavam a língua eram xingados na rua. O que aconteceu também na Segunda Guerra Mundial. “Tudo o que tinha, eles tentaram esconder. Por causa da perseguição, muita coisa foi queimada. E, além disso, eu já percebi que algumas vezes as pessoas não entendem que um pouco de material histórico que tem, quando junta com o outro, monta a história.”

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Ela ainda pontua uma cultura que existe, no Brasil, sobretudo, de um esquecimento do passado. “Acaba que essas pessoas até sabem que teve Colônia Alemã em Juiz de Fora, mas não se aprofundaram. Aqui no bairro, eles podem saber falar que a capela existe desde a época da Colônia, mas não é aprofundado. É um apagamento a partir de uma série de fatores.”

A exposição na Capela de Santana

Contrato de trabalho assinado entre a Companhia União e Indústria e David Larcher, construtor da Capela de Santana (Foto: Instituto Teuto-Brasileiro William Dilly)

A exposição “Santana da colônia” é uma tentativa de recuperar tudo isso e apresentar essa história, ainda velada, de certa forma. Rita já a realizou outras vezes. A primeira foi em 2007. Outras foram feitas nas Festas de São Pedro, típicas no bairro. Mas tem tempo que não faz. “A minha pesquisa tem se aprofundado muito mais, e ganhando corpo. Eu estou trazendo documentos que eu ainda não tinha apresentado. É um assunto do passado, mas tem sempre uma novidade”, afirma, sobre essa edição.

São documentos, principalmente, sobre a família que construiu a capela, como o passaporte deles, o contrato com a União Indústria, além de máquinas de costura, instrumentos de trabalho – tudo o que mostra a influência tirolesa na cidade e sua importância na construção de Juiz de Fora, com foco na Capela de Santana. Alguns deles pertencem ao Instituto Teuto-Brasileiro William Dilly, outros foram emprestados para a exposição. Juntos, reconstroem o trajeto que culminou na primeira edificação religiosa do bairro São Pedro.

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Serviço
Exposição “Santana da Colônia”
Inauguração: sexta-feira (26), às 16h
Visitação: sábado (27), após missa das 19h, e domingo (28), a partir das 14h
Capela de Santana (R. Hermam Tolêdo 85 – Santana)

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