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Em comemoração aos 50 anos, Forum da Cultura prepara semana de eventos

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Forum da Cultura festeja 50 anos de atividades na centenária Villa Cecy (Foto: Leonardo Costa)
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O casarão de número 1.112 na Rua Santo Antônio sempre foi lugar de abrigo. Há mais de cem anos, foi inaugurado como residência, recebendo o nome de Villa Cecy, em homenagem à moradora Cecília Schlobach Vale, esposa do proprietário Clóvis Guimarães Mascarenhas. Tempos depois, passou a ser sede da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), adaptando-se a essa nova forma de abrigar, aumentando sua extensão quintal adentro. Em 30 de julho de 1972, o espaço se torna, então, lugar não só de uma entidade ou família, mas de várias formas de pensar e fazer arte, ciência e cultura – sendo esses os moradores mais antigos que fazem perpetuar o passado, com vislumbre de um futuro plural, como no seu começo, há 50 anos, quando foi inaugurado o Forum da Cultura, primeiro equipamento cultural da UFJF.
Em agosto de 1971, em um processo de ampliação do campus da UFJF, a Faculdade de Direito subiu para o Bairro São Pedro. Gilson Salomão estava nos seus últimos meses atuando como reitor da universidade e decidiu fazer do espaço um lugar de reunião cultural. Naquela época, a UFJF ainda não tinha seu terceiro pilar, as atividades de extensão, atuando apenas com a pesquisa e o ensino. O casarão foi adaptado para receber alguns grupos que tinham ligação com as faculdades e já carregavam suas histórias.
Junto com a inauguração, foram ocupar o espaço, a convite do reitor, o Coral da UFJF, o Grupo Divulgação, o Teatro de Comédia Independente (TECI), o Centro de Estudos Sociológicos e o Pró-Música. “A casa, de cara, recebeu várias entidades culturais. Elas já vieram com expertise e nome conhecido, o que deu força para esse começo. Imagina o impacto que foi para a cena cultural juiz-forana juntar em um mesmo espaço todas essas forças”, diz Flávio Lins, diretor do Forum da Cultura e professor da Faculdade de Comunicação da UFJF (Facom).

Flávio Lins, diretor do Forum da Cultura, acredita que o espaço é um “caldeirão efervescente” (Foto: Leonardo Costa)

Primeiros moradores

A inauguração aconteceu durante o governo de Emílio Garrastazu Médici, na ditadura militar, com fortes repressões. José Luiz Ribeiro, um dos fundadores do Grupo Divulgação, lembra que, na época, apesar das censuras, tinha-se vontade, por parte inclusive do presidente, que fosse comemorado o aniversário de 50 anos da Semana de Arte Moderna através de algumas apresentações, também com o intuito de valorizar uma arte puramente brasileira. José Luiz, que tinha sugerido a Gilson Salomão adaptar o Salão Nobre da Faculdade de Direito em teatro, aproveitou a deixa para pensar em um texto dos modernistas para ser apresentado já na inauguração do Forum da Cultura. “A morta”, de Oswald de Andrade, mesmo carregando críticas à conjuntura, passou pela censura e foi apresentada na primeira noite de casa aberta.
José Luiz, que foi diretor do Forum da Cultura entre os anos 1998 e 2012, é, junto com o Grupo Divulgação, um dos “moradores” mais antigos daquele prédio. Os companheiros de inauguração foram saindo de casa, sendo remodelados ou reacomodados. O Coral da UFJF também permaneceu, apesar de já ter funcionado em outros lugares. “Quando a gente veio para cá, disseram: enquanto vocês trabalharem, terão espaço. A gente nunca parou e aqui está”, explica José Luiz, que, em um passeio pelo casarão, abre as portas do espaço, mostrando o acervo que guarda entre aquelas paredes, comprovando que, mais que tudo, o Forum da Cultura é lugar de memória e afeto pelos tantos que já caminharam por aqueles corredores.

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José Luiz Ribeiro escreveu uma adaptação de “A morta”, de Oswald de Andrade, para estrear o teatro do Forum da Cultura  (Foto: Leonardo Costa)

Mas não só o Grupo Divulgação e o Coral da UFJF fizeram do casarão um abrigo. Em 1973, o Museu do Folclore transferiu-se para o Forum da Cultura, com um acervo de mais de três mil peças. Anos mais tarde, ele recebe o nome de Museu de Cultura Popular, por sugestão do professor e escritor Edimilson de Almeida Pereira, com a finalidade de aumentar o raio de ação. É deste acervo, por exemplo, que saem algumas mostras anuais, como de presépios, de brinquedos e com imagens de Nossa Senhora.
Já em 1981, foi criada a Galeria de Arte. Seu espaço, no segundo andar, próximo à entrada do anfiteatro, foi pensado de maneira que funcionasse como lugar para aguardar o início dos espetáculos. Editais de ocupação são constantemente abertos para diversos tipos de mostras no local. Nos anos 1990, por outro lado, Delma Rocha e Solange Brandão se juntaram para fundar a Pinacoteca do Forum da Cultura. Através de doações de artistas e da própria UFJF, é possível encontrar obras que ficam em exposição permanente nas paredes do casarão. Por causa dessas tantas vertentes, Flávio considera o espaço como um caldeirão efervescente que, apesar de poucos recursos, sempre contribuiu para a cena cultural de Juiz de Fora.

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Programação cultural

Para celebrar esses 50 anos, a casa preparou uma semana de atividades que englobam as entidades que atuam na casa. Nesta terça-feira (26), às 19h, acontece a abertura com uma mostra feita pelo grupo A Ponte. Nela, os artistas Flávia Guimarães, Igor Hollanda, Paola Sayão, Ramon Brandão, Sandro Ibrahim, Tarsila Palmieri e Wesmmley Monteiro apresentam desenhos que refletem o patrimônio cultural material que ocupa as cidades. Ainda está em exibição, no Museu da Cultura Popular, a mostra “E por isso eu canto”, que retrata diversos instrumentos musicais feitos em cerâmica.
Na quarta-feira (27), às 20h30, o Grupo Divulgação apresenta o espetáculo “A morta insepulta”. José Luiz readaptou a obra que marcou a inauguração do Forum da Cultura. Mesmo 50 anos depois, ele enxerga a peça atual, da mesma forma que era em 1972, apesar de ter sido escrita por Oswald de Andrade em 1937. Pela primeira vez o grupo vai unir os três núcleos de trabalho no palco: o infantil, o universitário e o da terceira idade. Já na quinta-feira (28), às 19h30, Cacáudio e Carlos Fernando apresentam o show “Bons navegantes”, às 19h30, também no teatro. O encerramento acontece na sexta (29), com o Coral da UFJF e entrega de homenagens a nomes importantes para a manutenção do Forum da Cultura. Toda a programação é gratuita.

Os outros anos

Para os próximos anos, Flávio revela que tem o desejo de tornar o casarão mais acessível, além de modernizar o teatro para receber mais espetáculos. Mesmo com as dificuldades, avalia que o Forum da Cultura segue atuando na mesma missão de quando foi criado: ser um espaço multicultural que, além disso, une os três pilares da UFJF: extensão, ensino e pesquisa.

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