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Homens trabalhando (pela arte)

Parte significativa das obras já foi concluída, mas ainda há muitos detalhes a serem finalizados - Foto: Leonardo Costa
Parte significativa das obras já foi concluída, mas ainda há muitos detalhes a serem finalizados – Foto: Leonardo Costa
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A Funalfa realizou na manhã de sexta-feira, 26, uma visita guiada às obras do Teatro Paschoal Carlos Magno, evento que integra as atrações deste final de semana do Corredor Cultural, que comemora os 167 anos de Juiz de Fora. Cerca de dez pessoas, entre atores, arquitetos e estudantes de cursos de arquitetura, acompanharam as explicações dadas pelo diretor cultural da Funalfa, Zezinho Mancini, num tour que demorou cerca de duas horas e percorreu todas as instalações do teatro, do subsolo ao urdimento (conjunto de traves onde são colocados os spots de luz e parte do cenário, que fica no teto do palco), que impressiona com seus 17 metros de altura.

A expectativa da Funalfa é entregar as obras de conclusão do teatro, realizadas por uma empresa especializada na construção de estruturas do tipo, até setembro, com a inauguração sendo feita em outubro.

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Durante a visita, Zezinho contou um pouco da história da construção do teatro, iniciada em 1981 e que se arrasta desde então, sendo retomada em 2015. Ele falou, ainda, das mudanças feitas no projeto original, que incluem rampa de acesso para pessoas portadoras de deficiência e uma plataforma (elevador), galeria de arte, café, acesso para caminhões (no caso de espetáculos com estrutura cênica mais robusta), a transformação de espaços sob a plateia em salas de ensaio, palestras e oficinas, tudo com o objetivo de otimizar o máximo possível os espaços existentes e, assim, atrair um público para além dos espetáculos. Outro exemplo de tentar racionalizar espaços foram os deslocamentos das caixas d’água e geradores de luz para o subsolo da construção.

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A impressão ao se visitar as obras é de que há muito por fazer, mas essencialmente questões ligadas ao acabamento, como a colocação de pisos, luminárias, vasos sanitários e pias, as paredes de vidro da galeria, equipamentos de som, luz e refrigeração. No “coração” do teatro (palco e plateia), o primeiro está mais adiantado, com a parte do urdimento necessitando apenas dos equipamentos de iluminação e som.
O palco ainda não recebeu o piso de madeira. Na plateia, ainda há muito a fazer. Não foram colocados o piso, as 432 poltronas que compõem a capacidade do equipamento, a parte de som e luz. Na coxia (camarins etc.), os serviços estão adiantados. No total, o palco tem 170m² (17 metros de largura por 10 metros de profundidade), enquanto a plateia tem 480m² (20 metros de largura por 24 metros de profundidade), resultando num espaço com 650m².

Desafios futuros

Zezinho Mancini destacou a importância da conclusão das obras do Teatro Paschoal Carlos Magno para os artistas da cidade. “Nossa produção teatral é muito forjada pela realidade que temos, há anos muitos espetáculos são apresentados no formato de teatro de arena em espaços pequenos, sem palco italiano, com pouca iluminação. Um espaço como este amplia as possibilidades de produção, com espetáculos de médio porte, melhor estrutura de palco e iluminação, boa acústica e, até mesmo, salas de ensaio. Atualmente, são poucos os grupos que podem conviver diariamente no espaço das suas apresentações”, aponta Zezinho.

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Caso sejam concluídas dentro do prazo, as obras do Paschoal Carlos Magno, realizadas com verbas da Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais) e da Prefeitura, serão apenas o final de uma das etapas para o espaço se tornar referência para a atividade teatral juiz-forana. De acordo com Zezinho, a Funalfa trabalha com a estimativa de um custo mensal de R$ 70 mil para manter o teatro aberto – e este é um valor não previsto atualmente no orçamento municipal.

“Temos conversado com o Concult (Conselho Municipal de Cultura) sobre os modelos de gestão que poderíamos aplicar. Podemos manter o modelo de gestão direta, criar uma fundação nos moldes do Museu Mariano Procópio, ou uma OS (Organização Social). Também existe a possibilidade de estudarmos uma PPP (Parceria Público-Privada), mas aí seria preciso encontrar um grupo interessado em administrar o

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Da maquete ao concreto

Além de acompanhar as explicações de Zezinho Mancini, os visitantes fizeram diversas perguntas a respeito das modificações no projeto original, a utilização de espaços e como se deram certas soluções para a obra. Uma das mais interessadas era a arquiteta Natália Lopez, que, junto à amiga Carolina Ribeiro (também arquiteta e que fez a visita), participou de um projeto na época da faculdade, em 2009, que propôs alternativas arquitetônicas para a retomada das obras do Paschoal Carlo Magno. A maquete do projeto foi apresentada, com a de outros colegas, em uma exposição no CCBM.

“Nossa turma chegou a viajar até o Rio de Janeiro para uma visita técnica à sede da Funarte para aprendermos mais sobre as necessidade de um teatro. O que foi interessante, pois era uma novidade para todos e possibilitou discussões a respeito da funcionalidade do espaço arquitetônico do teatro, que é algo que não se costuma construir com frequência”, conta Natália, ressaltando que o projeto final do Paschoal Carlos Magno contém muitas das propostas imaginadas pelos então alunos, como o café e a sala de exposições. “É enriquecedor, sem dúvida, poder acompanhar o andamento das obras depois de toda a parte teórica que discutimos há quase dez anos.”

Para Carolina Ribeiro, realizar a visita não desperta apenas interesse, como também a ansiedade por ver o teatro funcionando. “É um tipo de projeto que gostaria de fazer, mas que certamente demanda mais experiência.”

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A classe teatral também acompanha as obras com atenção. Integrante da Cia. Sala de Giz, o ator Felipe Moratori acredita que Juiz de Fora está na contramão do que vem sendo feito no país, ao construir um teatro de médio porte em pleno centro da cidade. “É um privilégio ter um equipamento desses aqui na região central, que ocupa uma lacuna importante. Nós projetamos as possibilidades que o espaço proporciona”, diz Felipe, que sequer era nascido quando a primeira onda de obras foi interrompida, em meados da década de 80. “Sempre ouvia histórias sobre o teatro, de como ele não foi para frente, e agora parece que teremos esse tabu quebrado, inclusive tivemos a oportunidade de participar de reuniões e opinar a respeito de nossas necessidades.”

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