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Turismo em Minas Gerais: cidadezinhas do interior guardam a história e a riqueza do estado

Minas Gerais
Jornalistas da convidados pela Secult junto com os violeiros de Santana dos Montes (Foto: Nereu Jr)
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Era junho. Quarenta jornalistas desembarcaram em Belo Horizonte. Eram pessoas de diversos estados – todos ali com uma missão: conhecer mais Minas Gerais. Tinha gente que nunca nem tinha pisado por ali. Com olhos curiosos, olhavam cada detalhe da capital. Questionavam as histórias, os sotaques, as gírias. Aos poucos, iam se conhecendo melhor: as pessoas e aquele espaço.

Tratava-se de uma viagem organizada pela Secretaria de Cultura e Turismo do Estado de Minas Gerais (Secult-MG). O primeiro passo foi um jantar no Palácio da Liberdade. Por lá, o chefe Léo Paixão apresentou um menu que contava uma pequena história de Minas Gerais, com ingredientes típicos – mas todos com uma cara moderna. Os vários vinhos servidos, inclusive, eram produzidos em terras mineiras. Aqueles que nunca tinham experimentado a nossa culinária, tiveram um bom cartão de visitas do que comemos por aqui com um toque de chefe.

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Mas logo cedo, no próximo dia, os 40 jornalistas se dividiram em quatro caravanas que adentraram os caminhos mineiros pelas rotas do estado. O intuito era mostrar cada cantinho e fazer com que Minas ecoasse em todos os cantos do Brasil. Eu, que achava conhecer bem meu estado, fui convocada para o Território da Estrada Real – bem perto de casa. Mas, dentro da van e junto de nove pessoas, descobri que conhecia pouca coisa, e que os olhos dos meus parceiros e daqueles que guiaram esse trajeto diziam muito mais.

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A primeira parada foi em Santa Bárbara, cidade histórica e superimportante para o desenvolvimento de Minas Gerais, sobretudo na descoberta dos ouros. Conhecemos um pouco da praça central da cidade. A igreja, tão resplandecente já por fora, estava passando por obras e não conseguimos entrar. O guia, Luan Lima Ribeiro, tentou nos contar como era por dentro, descreveu os espaços. No entanto, só quando se entra em um lugar tão histórico e bonito é que se entende como, de fato, ele é.

Mas, de lá, depois de uma pequena pausa, já partimos em direção a Brumal, um distrito de Santa Bárbara, para conhecer Associação Das Tecelãs da cidade. Com uma mesa farta, fomos recebidos pelas mulheres que coordenam o lugar com a missão de resgatar um costume que, por anos, manteve o vilarejo: a tecelagem. Lá, elas ensinam mulheres de diversas idades essa arte que conta a história do vilarejo e, dessa forma, da Estrada Real.

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Brumal é pequeno. Serve, inclusive, de passagem para chegar a outras cidades fazem divisa com Santa Bárbara. Mas o que ficou, por mais rápido que tenha sido, foi o carinho mineiro com que fomos recebidos; pelo queijo e café frescos e as histórias que, se deixassem, estariam sendo contadas até hoje. Os companheiros de viagem “estrangeiros” dessas terras teciam comentários como: “Que gente boa de conversar”; “Em Minas descobri que a gente abre o apetite comendo”.

Dentro dos Mares de Morros

E foi de lá que começamos a subir uma serra. Morros que pareciam não ter fim. O destino era o Santuário do Caraça, que fica bem na serra e que permeia as cidades de Santa Bárbara e Catas Altas. De fato, já tinha escutado falar do lugar, mas não imaginava, realmente, como era. A expectativa de todos era alta. Diziam que aquele poderia ser o lugar mais bonito que já vimos. E a estrada entregava isso.

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Algumas frestas de mata mostravam um imóvel enorme. Era ele que nos aguardava. Paramos a van e fomos logo em direção àquele lugar que nos atraia. De frente à entrada, era maior ainda. Luan nos contou como aquilo tudo foi construído. A história do Santuário que foi escola, internato, pegou fogo e, agora, recebia pessoas do mundo todo, curiosas, principalmente, com a edificação e o que já não está tão visível.

Cada parada nos corredores registrava alguma coisa que ia além mesmo do que víamos. Era como pisar na história. O final? A igreja, que faz um balanço interessante com seu estilo gótico bem no meio de construções barrocas – tudo pensado, como contou Luan. Um lobo-guará, todas as noites, come bem em frente a ela. Nossa expectativa era viver esse costume. No entanto, uma outra cidade nos esperava.

Nos pés da serra

Era Catas Altas. Apesar de ser de noite quando chegamos à cidade vizinha à Santa Bárbara, conseguimos ver um paredão que guardava a cidade: a Serra do Caraça. Mas o foco mesmo era a produção de vinho de jaboticaba. Conhecemos uma das produtoras desse costume que passa de geração em geração e atrai os turistas para além da história do município. Experimentamos a iguaria, diferente de tudo até então, e ficamos por horas conversando com Jesuína Pereira de Souza, que, além de falar sobre o seu trabalho, contou sobre a região e seus interesses. A noite fresca era um aconchego para o papo.

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Na cidade mesmo, no próximo dia, Luan nos mostrou o Centro de Catas Altas e, principalmente, a igreja. Toda diferente em seu conceito, ela é um retrato das eras do ouro na cidade que viveu e foi toda influenciada pela ascensão dessa descoberta, da mesma forma que foi abalada no seu declínio – isso justifica, inclusive, o atraso nas obras da igreja principal. Os que não conheciam uma igreja barroca mineira, ficaram ainda mais impressionados com sua beleza interior: as pinturas, os ouros, a divisão dos espaços. Ficamos lá por horas.

Mas outro lugar nos esperava, em Santa Bárbara, mais uma vez. A cidade vizinha é conhecida pela produção do mel. E quem nos mostrou isso foi Ronaldo Junior, um dos produtores. Mais uma vez com mesa farta, a conversa quase não teve fim. A mineiridade ficou tão clara ali que era como se todo mundo tivesse virado, de alguma forma, mineiro. Mel, claro, queijo, café, broa e muitas frutas foram o plano de fundo de um papo que tinha foco a produção, mas também a cidade e como era viver disso nos dias de hoje. Todo mundo queria ter ficado mais. Mas a estrada nos chamava novamente.

Novos lugares em Minas Gerais

Dessa vez, a distância era maior. A estrada era longa e igualmente bonita. Precisávamos ver o fim de tarde em Santana dos Montes que fica perto de Conselheiro Lafaiete. Outra pequena cidade, também histórica, mas com um tesouro exposto nas escadas da igreja principal da cidade: um grupo de violeiros que também tem resgatado o costume no lugar.

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Foi uma das noites mais emocionantes. Os violeiros nos aguardavam a postos, com a viola no braço, prontos para tocar. Tudo até ali já tinha mostrado a todos o que é Minas Gerais em junho. As matas mais secas, os dias ensolarados e as noites frias. Mas as músicas apresentadas ali, que falavam também dos reinados, congados e da folia de reis, já fechava com chave de ouro a viagem.

Uma última parada era aguardada também com ansiedade. Tiradentes: uma das cidades históricas mineiras mais conhecidas no Brasil. Mas, além de conhecer um pouco da cidade, tínhamos outro encontro marcado: a produção do Luiz Porto Vinhos Finos. Foi interessante ver de perto como o vinho é produzido e ainda tivemos a oportunidade de fazer o nosso. A experiência mais completa possível.

Acabando a viagem, laços criados, a despedida é tão sentida. Mais que conhecer de perto Minas Gerais, pudemos criar momentos que nos conectam ainda hoje. Mas as percepções foram bastante diferentes. E a que mais me atraiu foi a de um amigo, que disse: “Da capital ao interior, Minas Gerais me transmite marrom”.

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