Ícone do site Tribuna de Minas

‘Minha geração faz música diferenciada’, diz Ivan Lins

ivan divulgação
Ivan Lins: “Para um compositor, por exemplo, a internet foi um desastre” (Foto Divulgação)
PUBLICIDADE

“Um espetáculo emocional e vibrante.” É isso que Ivan Lins promete quando subir ao palco do Cinte-Theatro Central neste sábado (26), em seu retorno a Juiz de Fora. “A banda que estou levando é um quinteto espetacular, com teclado, baixo, bateria e dois sopros, além de mim, é claro, com a voz e no teclado também. O repertório é de 70% de conhecidas do público, seleção que eu fiz, e algumas coisas vão parecer novidade, porque acho isso bacana”, diz o artista em entrevista à Tribuna.

Com mais de 50 anos de carreira, Ivan Lins é um daqueles artistas que se confundem com a própria história da MPB, tantas são canções suas que habitam o imaginário popular e as trajetórias de vida das pessoas. “Eu me sinto na obrigação, e mais que isso, tenho o prazer, o enorme prazer em dividir meu trabalho com meu público. Isso é fundamental na minha carreira, talvez uma das razões pelas quais eu me mantenha produzindo e por isso mesmo colocando bastante gente nos teatros onde eu vou”, diz o cantor.

Sem apresentar saudosismo ou conversas atravessadas de que “no meu tempo que era bom”, o músico vê sua relevância e também a de outros nomes de sua geração sem falsa modéstia: “Minha geração faz uma música diferenciada”, afirma, categoricamente, sem, é claro, deixar de reconhecer o talento das novas gerações quando tem “oportunidade de escutar”.

PUBLICIDADE

Na entrevista, o músico fala sobre sua trajetória, as transformações da indústria musical, a internet e coisas que não mudam, como a beleza incontestável das canções, dessas que perduram através dos tempos. Falou, ainda, sobre a necessidade de sua obra ser aberta a transformações, ser plural. “Sou um compositor que faz música baseado em várias fontes de inspiração, em tudo que me cerca, em minha própria vida, nas diferentes formas de a música ser. Vai desde o forró brasileiro ao pop, ao jazz, à música erudita. Tenho muito interesse pela música em sua totalidade, e isso faz, de certa maneira, eu ter mais facilidade de trabalhar. A minha música é muito adaptável a vários gêneros e a várias formas de se tocar, para mim isso é muito importante: saber que minha música é plural, e não singular, eu me sinto muito bem assim.”

Tribuna – Com tantos anos de carreira, a sua música atravessa gerações. Como é ver pessoas de tantas idades compartilhando os significados da sua música, tendo canções suas como a “trilha da vida delas”?

Ivan Lins – Sempre com muito prazer de ver. É muito prazeroso quando você faz músicas e elas se eternizam, porque têm qualidade. E também porque as letras realmente podem ser absorvidas espiritualmente pelas pessoas. Talvez esse seja o grande motivo de a gente ainda estar aqui trabalhando. Eu continuo produzindo porque eu amo a música e não a discrimino. Eu acho que ela cura, ela salva, ela inclui socialmente. A música ajuda as pessoas, dá prazer, é uma atividade extremamente importante para a sobrevivência humana. Eu digo que três coisas se faltarem no planeta ele acaba: o ar, a água e a música. Pena que os políticos não conseguem entender isso, mas isso faz parte da natural mediocridade política que assola o planeta.

PUBLICIDADE

Você e contemporâneos seus como Caetano, Chico, Gal, Bethânia, Paulinho da Viola e tantos outros nomes se mantêm desde a juventude como as referências mais importantes da MPB. A que você atribui a atemporalidade dessa geração?

Eu acredito que pela beleza das canções. A temporalidade de uma canção está diretamente ligada à beleza dela e ao texto dela. Acho que isso chega às novas gerações, mas quando elas têm tempo, porque tem isso também. O consumo da música mudou muito desde a minha época. Hoje ela funciona como background, enquanto as pessoas estão fazendo atividades prioritárias, muitas vezes, ela começa a passar despercebida pelo fato de que ela tem mais profundidade do que as pessoas disponibilizam à sua fruição. Com a internet, a profundidade passou para a superfície. Mas na medida em que as novas gerações conseguem ter tempo, a música entra na vida delas e torna-se uma referência para o seu próprio, no caso de artistas, e também para as próprias vidas.

PUBLICIDADE

Qual foi o impacto da internet para a produção musical?

A internet e a tecnologia têm duas faces e a gente tem que saber usar para que se possa conviver harmonicamente com elas. É claro que progresso é irresistível, o futuro não vai parar. Mas para um compositor, por exemplo, a internet foi um desastre porque as plataformas que lidam com música e as gravadoras que se incorporaram a estas plataformas realmente estão com uma grande fatia do direito autoral mundial. A matéria-prima foi para o final da fila. Na verdade sobraram para o artista apenas 3% do total de 100% arrecadados na internet. Três por cento! Isso é um absurdo, uma inversão de valores. Pelo menos 50% deveriam ir para o direito autoral, para artistas que produzem a matéria-prima para enriquecer esses grupos, que são empresas que não sabem fazer música, apenas exploram: ela e quem a faz. Agora, por outro lado, eu mesmo sou extremamente interessado em tecnologia: uso no meu processo de composição, no palco, nos estúdios e, de certa forma, ela melhorou qualidade do som, deu, por exemplo, a possibilidade de produzirmos coisas acústicas de bastante qualidade.

Há algo que ainda não tenha realizado como artista e que pretende fazer?

PUBLICIDADE

Eu praticamente já realizei quase tudo que eu possa imaginar em música. Mas evidentemente há coisas que quero realizar, como algumas parcerias, Gil, Milton Nascimento… adoraria fazê-las. Também tenho muita vontade de fazer mais música para filme, para cinema, já que eu fiz bastante em novelas. Quero continuar produzindo e cantando. Para onde a vida vai me levando, eu vou junto com ela, eu concordo e vou fazendo, fazendo música.

Ivan Lins
Neste sábado (26), às 21h, no Cine-Theatro Central

Sair da versão mobile