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18 anos do filme ‘Zuzu Angel’: participantes relembram gravações em Juiz de Fora 

18 anos do filme 'Zuzu Angel': participantes relembram gravações em Juiz de Fora 
(Foto: Divulgação)
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O filme “Zuzu Angel”, do diretor Sérgio Andrade, chegou aos cinemas em 2006. A obra contava a trajetória de uma estilista de sucesso, que teve a vida totalmente transformada após o golpe da ditadura militar de 1964 e o desaparecimento de seu filho. Enquanto ia atrás da verdade, a personagem, interpretada por Patrícia Pillar, se envolvia cada vez mais com a resistência a esse regime e percebia as dissimulações para encobrir os crimes. O filme, na época, foi gravado em Juiz de Fora, que também na vida real foi palco dos acontecimentos daquele período.

Durante as gravações, não só as ruas de Juiz de Fora ficaram mobilizadas, mas também boa parte da cena artística, que se envolveu com a história – seja em papéis de figurantes, seja contracenando com a protagonista. Dezoito anos depois, os participantes relembram o que ficou da história, apesar da passagem do tempo.

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A atriz Márcia Falabella, por exemplo, do Grupo Divulgação, de Juiz de Fora, foi escolhida em uma seleção de elenco para participar do filme. Quando fez a audição, no entanto, não era isso que esperava que acontecesse. “Lembro de pensar:  ‘Consegui fazer a pior coisa que eu já fiz na minha vida’.” Não sei por que cargas d’água me selecionaram para fazer a personagem que trabalhava na casa da Zuzu”, conta.

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Mas com a escolha, ela, que já tinha uma vasta experiência no teatro, pode viver a experiência de fazer um longa pela primeira (e também a única, até o momento) vez. E a experiência, ainda, fez com que ela contracenasse com a atriz Patrícia Pillar, um dos nomes mais consolidados da televisão brasileira. “É uma coisa que a gente coloca no currículo com muito orgulho e felicidade. Tenho um olhar muito carinhoso para o que foi essa produção”, conta.

Apesar de o papel ser pequeno, para ela, o mais significativo foi poder acompanhar de perto todo o processo. “Considero que a minha participação nesse filme era uma figuração de ponta: era muito pequena mesmo, mas como meu nome estava no elenco, eu ficava no set de filmagem. E estando no set, foi um grande aprendizado”, diz.

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Ter feito parte dessa história, ainda que mais às margens, também teve grande importância para Júlio Andrade, outro ator do Grupo Divulgação na época. “O filme me marcou de várias formas, tanto artística quanto de história. Poder contar uma das histórias de maior importância histórica da ditadura militar, a luta de uma mãe para encontrar o filho… Imagina quantas histórias como essa não foram contadas. Até hoje não se sabe muito. É uma busca pela verdade”, destaca ele. A sua experiência também foi de, após as filmagens que aconteceram em 2005, ajudar na divulgação do filme na cidade, já que tinha uma locadora e trabalhava com DVDs e games. Até hoje guarda os materiais de divulgação do filme, como banners e reportagens da época.

Há cenas do filme que mobilizaram  uma grande quantidade de pessoas para as figurações, já que se tratavam de manifestações, casamento e até passagens em baladas. No caso de Thais Oliveira, que é jornalista, não só ela, como boa parte de sua turma de faculdade, na época, trabalharam como figurantes, porque uma das colegas teve contato com a produção e ajudou a encontrar quem topasse. “A cena de que participei foi uma cena curta no filme, mas muito emblemática, de protesto, com a repressão da Polícia Militar e o enfrentamento dos manifestantes. Tinha cavalaria, barricada, bolinhas de gude lançadas no chão para desequilíbrio dos cavalos. O caos perfeito para uma cena de filme”, relembra.

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Para que a cena saísse perfeita e o mais crível possível, ela conta que todos receberam instruções até do elenco. “Daniel de Oliveira, que fez o Stuart Angel, e Leandra Leal protagonizaram a cena. Inclusive ela, além do diretor, foi quem deu o tom da cena para nós, figurantes, falando da tensão que deveria permear aquele take. Parece que, ao incorporar a personagem, ela quis passar isso para nós também e conseguir nos contagiar, com gritos de ordem e gestos de protesto. Foi uma experiência muito bacana”, diz. 

Júlio Andrade até hoje guarda os materiais de divulgação do filme, como banners e reportagens da época (Foto: Arquivo Pessoal)

Os bastidores de ‘Zuzu Angel’

Para Márcia e Júlio, apesar de já terem grande familiaridade com o teatro, a experiência de fazer uma produção nacional desse porte e dessa duração foi bem diferente. O que puderam aproveitar dos bastidores, por exemplo, é algo que permanece na memória. “Tenho feito algumas incursões também na preparação de atores. Então estar naquele set, com uma equipe daquele nível e com o elenco principal formado por pessoas com tanta importância dentro da nossa história da televisão, teatro e cinema, foi muito gratificante”, conta Falabella. Ela também se lembra, com carinho, da ajuda que Patrícia Pillar pediu a ela, na hora de ensaiar as falas. A atriz queria ajuda com o sotaque, e as duas puderam passar o texto juntas.

Cada um se lembra de um pedaço de onde o filme se passou na cidade – para Márcia, as cenas que ela fez com Patrícia em uma casa da Rua São Sebastião, na Câmara Municipal e na antiga Faculdade de Odontologia; para Júlio, a praça do Jardim Glória; e para Thaís, a Avenida Getúlio Vargas e a boate Sayonara. “Me chamou muito a atenção, por exemplo, o Alexandre Borges na cena da Câmara Municipal, extremamente concentrado naquilo que ele estava fazendo”, complementa Márcia. 

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Filme como espaço de reflexão história

Mais que uma história que se passa em Juiz de Fora e que aproveitou o cenário da cidade, “Zuzu Angel” se trata de um filme profundamente ligado à história recente do Brasil. E que, por isso, também tem uma função de reflexão sobre o tempo. “Me marcou muito. Especialmente por ver a busca incansável de uma mãe por justiça para seu filho, torturado e assassinado. O enfrentamento e a coragem de uma mulher, que já era à frente do seu tempo, e como sua voz reverberou na história brasileira, em um período tão sombrio”, diz Thaís. Para ela, o cinema, além de entreter, tem como objetivo documentar a realidade.

Da mesma forma, Márcia Falabella acredita que relembrar esse período é de máxima importância. “A gente vê que a vida é uma grande espiral, e que muitas vezes a gente passa pelos mesmos pontos, só que em tempos diferentes. São obras muito importantes para olhar e ver que aconteceu, mas que não deveria acontecer de novo. Pensar em uma mulher do porte da Zuzu Angel, tudo que ela sofreu e toda a luta que ela teve para poder não deixar a história do filho dela morrer. E como a história do filho dela, tantas outras”, diz.

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