No Dia do Soldado, comemorado em 25 de agosto, a Tribuna mostra a instituição militar mais antiga de Juiz de Fora: o 10º Batalhão de Infantaria Leve (10º BIL), no Bairro Fábrica, que abriga um museu com importantes registros da história do Brasil e do mundo. Em funcionamento desde 2011, o Espaço Cultural Marechal Guilherme Xavier de Souza é aberto à visitação pública e proporciona uma viagem ao tempo, inclusive com ambientação da época, em momentos decisivos em que militares do 10º Batalhão estiveram empenhados, como a Segunda Guerra Mundial.
Figurando como importante braço operacional das Forças Armadas, em julho desde ano, o 10º BIL completou 100 anos na cidade. Antes de serem transformadas em unidade do Exército Brasileiro, as instalações do batalhão já abrigaram uma escola agrícola, o Colégio São Salvador e, por um período, o Colégio Granbery. Diversas fotos expostas no museu mostram como era a região, praticamente rural e quase sem construções a seu redor. Porém, antes de se fixar estrategicamente em Juiz de Fora, o Décimo esteve em outras cidades, a organização militar existe no Brasil há 270 anos, sendo a quinta mais antiga do Exército Brasileiro.
Sua origem remonta à criação da Companhia de Dragões, em 17 de janeiro de 1749, em São Paulo. Depois de estar em solo paulista, foi deslocado para a fronteira Oeste do Mato Grosso para fazer frente à pacificação dos índios Guaicurus e também lá participou da Guerra do Paraguai. A partir de então, foi sofrendo algumas mudanças de denominação, desde a Companhia de Dragões, passando pela Companhia de Leais Cuiabanos e virou o 19º Batalhão de Infantaria Ligeira. O Batalhão já esteve estacionado no Sul, passou por Jaguarão, Joinville, Santa Catarina, chegando a Juiz de Fora em 1919. Ao longo deste tempo, a história do batalhão se confunde com a do país e do mundo. “Logo após a chegada do 10º Batalhão em Juiz de Fora, militares daqui já foram empenhados na segurança do rei da Bélgica, que ia visitar a capital federal na época, o Rio de Janeiro. Estivemos em outros importantes missões, entre elas, o combate ao movimento tenentista e à intentona comunista, campanha do Contestado, além do envio de 689 militares para compor Divisão de Infantaria Expedicionária na Segunda Guerra Mundial, que combateu em Montese, na Itália. Estivemos também em missões de paz sob a égide da Onu, em Suez, Angola e Haiti, onde foram enviados três efetivos de soldados. Nos grandes eventos recentes de nosso país, o 10º Batalhão esteve em todos, o mais recente deles, a Intervenção Federal de Segurança no Rio de Janeiro”, ressalta o comandante da unidade militar, coronel Guilherme Motinha, o 50º a comandar o batalhão.
Memória preservada
Como forma de eternizar a participação em eventos importantes, foi criado o Espaço Cultural. Dividido em dois pisos, o local guarda objetos históricos, como parte da esquife funerária do patrono da Infantaria brasileira, fardas originais usadas por combatente na 2ª Guerra Mundial, revistas da época, fotos de diversos momentos, materiais de comunicação e armamentos antigos em perfeito estado de conservação. “Seria uma pena se não tivéssemos um local como este, em que a gente conta em diversas áreas temáticas a participação do batalhão ligada à história nacional”, pontua o coronel Motinha.
No primeiro piso, é contada a história do Batalhão de maneira geral, desde o motivo de ter o nome de seu patrono, Marechal Guilherme Xavier de Souza, até a evolução das centenárias instalações e, especialmente, as participações em diversas missões. Estão expostos objetos e fotos de vários momentos, entre eles artesanatos trazidos de Angola. Sobre a Missão de Paz no Haiti, o espaço cultural remontou uma espécie de forte, como os existentes no país caribenho onde ficavam os soldados brasileiros, com fotos e objetos usados pelos militares.
Há também retratos de antigos integrantes, entre eles, o ex-presidente Costa e Silva. “Este batalhão é realmente especial. Antes de sua morte, Duque de Caxias, patrono do Exército, pediu que seis militares de excepcional conduta militar carregassem seu caixão, foram eles praças militares do 10º e do 1º Batalhão”, destaca Motinha.
Segunda Guerra Mundial
O pavimento inferior, que fica em uma espécie de porão, é dedicado a contar a história da Segunda Guerra Mundial e da Guerra do Paraguai. Armamentos históricos que vão desde a Primeira Guerra Mundial, rádios comunicadores da época, materiais médicos usados durante o combate e uma farda usada pelo ex-pracinha José Maria Nicodemus, que reside em Juiz de Fora e guerrilhou na Itália, então cabo Nicodemus, estão na área. “Esta segunda parte do museu, que muitos consideram a mais interessante, é toda tematizada. Parte dela é ambientada com base no combate de Montese, na Itália, que foi mais urbano, por isso o fundo com os temas de um centro urbano”, observa Motinha. Entre os destaques desta ala, estão uma submetralhadora Thompson, de origem americana, e uma pistola Walther a gás, doada pelo interventor federal, general Braga Netto, que era se seu avô. Também no espaço, está parte do esquife do Brigadeiro Antônio de Sampaio, patrono da infantaria brasileira, vinda de Fortaleza.
Já o corredor de saída do museu traz fotos de diversos momentos, como a famosa fotografia de um marinheiro norte-americano que aparece beijando uma enfermeira na Times Square, em Nova York, em comemoração à rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial. Há também imagens de soldados de várias partes do mundo celebrando o fim do conflito e ainda d Família Real no Brasil.
Hino Nacional
Com a Proclamação da República e por decisão do Marechal Deodoro da Fonseca, que governava de forma provisória o Brasil, foi promovido um grande concurso para a composição de outra versão do hino nacional. Participaram do concurso, 36 candidatos. O vencedor foi Leopoldo Miguez, mas o povo não aceitou o novo hino, já que o de Joaquim Osório e Francisco Manuel da Silva havia se tornado extremamente popular desde 1831. Através da comoção popular, Deodoro da Fonseca disse: “Prefiro o hino já existente!”. Deodoro, para não contrariar o vencedor do concurso, Leopoldo Miguez, considerou a nova composição e a denominou como Hino da Proclamação da República. Após sua escolha oficial, o hino nacional foi executado pela primeira vez pela banda do 23º Batalhão de Caçadores, em Fortaleza, que deu origem a banda do 10º Batalhão.
Um dos integrantes célebres da banda foi Luiz Gonzaga, conhecido como o Rei do Baião e considerado uma das mais completas, importantes e criativas figuras da música popular brasileira. Ele serviu como praça do 23º Batalhão, sendo conhecido pelos colegas de farda como “Recruta 122”. Logo depois, estourou a Revolução de 1930 nos estados do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e da Paraíba. Luiz foi transferido para o 22º Batalhão de Caçadores, em João Pessoa, para combater os revoltosos na cidade de Sousa (PB) e, em seguida, movimentado para o 25º Batalhão de Caçadores, em Teresina, para lutar na revolução no interior do Ceará e Teresina.
No Piauí, conseguiu engajamento e foi para o Centro-sul do País: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande e, finalmente, Juiz de Fora, no então 10º Regimento de Infantaria, onde ganhou fama no Exército e o apelido de “bico de aço”, pela habilidade como corneteiro. “Eu fui soldado durante nove anos e eu sentia naquele meio um engrandecimento muito grande para com a minha pessoa. Eles me chamavam para cantar para eles e eu me apresentava diante de vinte, trinta generais, cantando coisas do sertão, porque militar gosta muito de música que decanta o trabalho, a força, a coragem, a capacidade de desenvolver a terra, tudo que minha música cantava. Uma vez eu cantei para Castello Branco numa festa grande que houve em Fortaleza. No final, ele me cumprimentou e disse: ‘gosto muito de você, Luiz'”, narrou Luiz Gonzaga, no livro da jornalista Regina Echeverria, “Gonzaguinha e Gonzagão, Uma história brasileira”.
10º Batalhão
Visitação às terças e quintas-feiras por meio de agendamento: 3215-8489. Rua General Gomes Carneiro s/n, Bairro Fábrica.