O cenário do Ibitiblues, festival que já tem seus 18 anos, me parece o livro “Blues” do cartunista norte-americano Robert Crumb. A paisagem nostálgica, cheia de boas histórias, no mato e noite lunar, é contada em quadrinhos que resgatam a cultura do gênero de décadas atrás. “Um estrondo de libertação no chiqueiro da casa grande”, aparecem essas palavras no prólogo do livro, uma sucinta forma de descrever o surgimento do blues. Em tempos de busca por representatividade e discussões sobre a cultura negra na música, o blues talvez seja um dos principais símbolos, não brasileiro, mas universal. Os cantos de lamentação dos escravos afro-americanos, que carregavam de culturas tradicionais africanas passadas de pai para filho, foram se tornando mais melódicos com instrumentos, repetição de notas, temas, até se transformarem em uma sonoridade, que de tão característica, é fácil de ser identificada até mesmo por leigos da música. Está na memória musical de todos. Ali nasceu a cultura musical americana, sendo influência direta para o surgimento do jazz e do rock’n’roll e todos os seus ascendentes.
No Brasil, as guitarras semiacústicas e a viola caipira se tornam parceiras que conversam e garantem peculiaridades musicais que só se vê no país, não é à toa que muitas bandas de blues brasileiras estejam fazendo tanto ou mais sucesso no exterior. Blues Etílicos e Jefferson Gonçalves são apenas alguns dos exemplos dessa mistura de tradições musicais.
Blues de raiz direto do Mississippi
A grande atração do evento é Vasti Jackson (EUA), que subirá ao palco do festival ao lado do guitarrista brasileiro Décio Caetano na abertura do Ibitiblues, nesta sexta-feira, 25, no Camping Ibitilua. Os portões se abrem às 21h. No entanto, a essa altura, toda a pequena vila já estará compondo uma perfeita “mise-en-scène” de blues. Às 19h, haverá um cortejo passando pelas ruas, com a Banda Santa Jam. Às 22h, começam os shows principais: Álamo Leal e Blues Groovers, Jefferson Gonçalves e Banda com Laudir de Oliveira, Vasti Jackson e Décio Caetano, responsáveis por despertar o clima do festival.
Ale Ravanello fará show com seu quarteto, Ale Ravanello Blues Combo no sábado, 26, às 22h. Na noite, The Headcutters, Fernando Noronha e Black Soul encerram o festival. “Existem vários estúdios se especializando em blues no Brasil. Em São Paulo, o Netto Rockfeller é um renome, e ele faz conexão com selos americanos, conseguindo escoar a produção brasileira. Muitos artistas também gravam pelo selo Chico Blues. Os festival une os músicos do estilo. É uma concretização de tudo que está acontecendo. Além disso, nos unimos e formamos novas bandas, e é uma possibilidade para conhecer o trabalho de outros músicos”, afirma Ale Ravanello, que está em fase de produção do quarto disco da banda de blues completamente autoral e independente”.
Oficinas e show no parque
No sábado pela manhã, terá show acústico do Jefferson Gonçalves e Cleber Dias, dentro do Parque Estadual de Ibitipoca. Após mais uma apresentação do cortejo, às 14h30, começa a tarde cultural, que tem entrada gratuita. A proposta é unir música com experiências em oficinas. Haverá apresentações da banda Joe King e do Santana do Garambeu, grupo de Moçambique, além de show com Dudu Lima Trio. As oficinas acontecem paralelamente, entre elas estão as de papel machê, introdução musical e confecção de flauta e reciclagem. O evento tem essa preocupação ambiental, e, por isso, das 12h às 20h, estará acontecendo um programa de sensibilização ambiental oferecido por Kelly Antunes e Camila Nardy.
Às 15h, também serão oferecidos gratuitamente workshops com alguns dos músicos do festival. “Uma jornada pelo Blues” será ministrado por Vasti Jackson, com tradução de Décio Caetano. Falará sobre o espírito do ritmo e os diversos tipos de blues. Já o “Harmônica Blues”, por Ale Ravanello, propõe ensinar técnicas, conceitos e conhecimentos teóricos importantes do blues. Os encontros são na Escola Municipal Padre Carlos, com vagas limitadas para 25 pessoas. As inscrições são feitas pelo e-mail marketing@ibitipocablues.com.br.
Ibitiblues
Nesta sexta-feira, 25, e sábado, 26, no Camping Ibitilua, em Conceição do Ibitipoca