“Para nós, dia 25 de julho tem três grandes referências”, afirma Lucimar Reis, sobre a data que celebra o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, a homenagem nacional à Tereza de Benguela e o Dia Municipal da Mulher Negra Cirene Candanda. Cada um desses marcos tem seu próprio sentido e história, mas convergem no sentido de dar enfoque às vivências de mulheres negras, possibilitando a discussão de políticas públicas que tragam melhorias futuras para essa população. Em Juiz de Fora, militantes de coletivos feministas explicam a importância de marcos como este, a partir de um mês inteiro guiado pela frase da escritora afro-brasileira Conceição Evaristo: “Na voz da minha filha se fará ouvir a ressonância, o eco da vida-liberdade”.
O Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi criado em 1992, em um encontro na República Dominicana que trouxe uma agenda destinada a dar visibilidade às lutas que as mulheres negras travam contra a opressão de raça e gênero. Já a homenagem à Tereza de Benguela surgiu para dar mais visibilidade à líder quilombola que se tornou rainha e resistiu à escravidão por duas décadas ao liderar o Quilombo do Piolho. Já no que diz respeito ao Dia Municipal da Mulher Negra Cirene Candanda, a homenagem se volta para a referência local, que integrou a Juventude Operária Católica e a Pastoral do Negro Kaiode, entre outros grupos. “O 25 de julho é dia de luta, é dia de colocarmos em evidência a luta por moradia, emprego, igualdade racial, acesso às universidades, salários iguais, fim da violência contra a mulher e tantas outras pautas relacionadas à vida das mulheres negras”, explica Leiliane Germano, integrante do Fórum Feminista 8M-JF e do Movimento Negro Unificado (MNU) de Juiz de Fora.
A vivência da escravidão e da colonização são aspectos em comum que entrelaçam as mulheres latino-americanas e caribenhas, e por isso a ideia de falar de forma comum. “A importância desse dia é exatamente refletirmos o quanto a vida das mulheres negras, pardas, indígenas e de povos originários são atravessadas por essa questão da diáspora forçada. Existem especificidades em cada sociedade, mas aqui na América Latina e no Caribe é possível ver como a colonização e a escravidão impactaram. (…) Temos que pensar de forma conjunta, não só no Brasil, mas também em outros países que passaram por esses processos, como enfrentar o que nos é comum”, afirma Lucimara Reis, mãe, mitante do Fórum feminista 8M, do coletivo Pretxs em Movimento e doutoranda em Serviço Social pela UFJF. Para ela, “é preciso um dia para pensarmos políticas que reparem o que a história nos retirou, e que pensem um futuro com mais equidade”. Em Juiz de Fora, ela ressalta que os coletivos estão trabalhando com pautas relacionadas à saúde mental das mulheres negras.
De acordo com as entrevistadas, Juiz de Fora ainda precisa avançar no que tange ao debate acerca da vida e das políticas para a mulher negra. Um exemplo, conforme destaca Leilane, é o fato de a cidade nunca ter elegido uma vereadora negra, mesmo com diferentes nomes tendo disputado eleições. Para ela, ainda é preciso avançar em políticas públicas que atendam a realidade das mulheres negras como maternidade, segurança pública, ampliação de locais para denúncia de violência doméstica, ampliação do debate acerca da saúde da mulher negra, violência obstétrica, segurança alimentar, geração de emprego, moradia digna, mobilidade e outros assuntos que, segundo ela, são “vivenciados de forma diferente pelas mulheres negras porque esbarram no racismo estrutural”.
‘Julho das pretas’
Para sintetizar o movimento, portanto, o Julho das Pretas abre espaço para o debate local sobre como é a vida da mulher negra em Juiz de Fora e o que precisamos avançar em políticas públicas. “Refletir sobre os territórios e o cotidiano em que as mulheres negras juiz-foranas estão imersas é também jogar luz sobre questões que precisam ser debatidas no que tange às ações e políticas de reparação histórica e antirracismo”, diz Leiliane.
Através desse marco, o objetivo é levantar debates acerca da vida da mulher negra em Juiz de Fora. “Isso a partir do que os territórios demandam, o que temos produzido e o que precisamos avançar pra que tenhamos uma sociedade com mais igualdade racial”, analisa. O mês foi construído através de várias reuniões coletivas que congregaram mulheres de vários setores e locais da cidade.
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Atividades
Nesse ensejo, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) realiza nesta terça-feira (25), às 15h, a roda de conversa “Mulheres Pretas nos espaços de poder”. O debate, segundo a PJF, busca abordar questões como representatividade, tomada de decisões e desafios diários dessa população. O evento acontece no Auditório Cirene Candanda, na Casa dos Conselhos.
No mesmo dia, às 17h, acontece a marcha do “Julho das Pretas”, quando serão feitas manifestações culturais, reuniões e reivindicações. A concentração ocorre na Praça da Estação, e o cortejo segue até o Cine-Theatro Central.
Já o Fórum 8M-JF realiza a “Feira Preta” no próximo sábado (29), das 9h às 21h, na Praça Antônio Carlos. No mesmo dia e local, acontece o show inédito das irmãs Alessandra e Aline Crispim, às 18h, “Duafe”. Toda a programação é gratuita e aberta à comunidade.