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Última semana para assistir mito grego em peça do Divulgação

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Peça baseada em mito grego inicia-se no jardim do Forum da Cultura e adentra a sala de ensaios do grupo, onde foi montado um tablado e foram dispostas 40 cadeiras. (Fotos: Millena Paiva/Divulgação)
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Ainda que palavra do campo subjetivo, urgência relaciona-se a pressa, rapidez, agilidade. O Divulgação tinha urgência. Queria, com pressa, rapidez e agilidade, responder ao presente no qual a cultura tem sido constantemente desprezada, responder no palco, fazendo arte. “Os filhos de Prometeu”, o mais novo espetáculo do grupo, em cartaz até o próximo sábado, 29, é a resposta que não pode esperar a liberação do teatro do Forum da Cultura. Interditado desde fevereiro, o espaço aguarda reparos no muro que faz a divisa entre o casarão centenário e a Escola Estadual Delfim Moreira. A restrição de uso estende-se a cinco salas no térreo do prédio e ao Museu de Cultura Popular. A intervenção, a ser feita pela UFJF, proprietária do imóvel, está prevista para ser iniciada em 1º de julho, quando o grupo, que tem o Forum como sede, já terá encerrado a temporada do espetáculo encenado na sala onde os 16 atores e atrizes ensaiam.

O formato intimista, num ambiente improvisado com tablados preenchidos por sacos pretos (simbolizando os descartes) e 40 lugares na plateia, favorece a compreensão de uma história que defende, sobretudo, a proximidade entre os seres. “Prometeu é o semideus que dá aos homens o segredo do fogo, que gera a ciência e as artes. No momento em que passamos por um grande problema com cortes de verbas para a cultura, com a cultura sendo vilipendiada, numa crise geral, teríamos a opção de aguardar que o teatro fosse reaberto, ou de nos apresentar em grandes espaços que nos foi oferecido, como o Cine-Theatro Central e o Paschoal Carlos Magno, mas isso foge ao nosso propósito, porque o interessante para os nossos atores é fazer mais apresentações”, explica o diretor e dramaturgo José Luiz Ribeiro.

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Segundo o mito grego, o titã Prometeu tornou-se uma figura de grande inteligência e fiel defensor da humanidade. Ao roubar o fogo de Héstia e entregá-lo aos mortais, Prometeu conhece a ira de Zeus, para quem o fogo daria um poder aos homens que os igualariam aos deuses. O Deus Supremo, então, pune o semideus amarrando-o numa rocha por toda a eternidade, deixando que uma enorme águia coma seu fígado, regenerado dia após dia. “Sendo filho de uma deusa e de um homem, ele é um semideus e tende para o lado dos homens”, indica Ribeiro, que para junto da narrativa levou músicas contemporâneas e textos de intelectuais como a atriz Fernanda Montenegro. É dela a frase que diz de um tempo em que o teatro abrangia uma grande cidade e caminha, agora, para ser feito por pequenos grupos, quase como que terrorista.

“Ela disse isso em 1973”, ressalta o diretor, apontando a lamentável atualidade da afirmação. Dessa forma, “Os filhos de Prometeu” caminha entre as discussões acerca do teatro como templo, o tempo real e o tempo mítico, a violência e o poder. “A humanidade está preparada para receber o dom das artes e ofícios?”, questiona o dramaturgo, sem dar respostas. Sua resposta é com arte. Logo no início, os atores declamam um trecho de “Romanceiro da Inconfidência”, célebre poema de Cecília Meireles. “Liberdade – essa palavra,/ que o sonho humano alimenta:/ que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!”, escreve ela e recita o grupo. “Com esse ideal de liberdade, começamos o espetáculo e terminamos fazendo uma homenagem a Mauricio Tapajós”, pontua Ribeiro, para logo parafrasear os versos de “Pesadelo”, uma das mais conhecidas músicas do compositor carioca. “Quando o muro separa uma ponte une/ se a vingança encara o remorso pune/ você vem me agarra, alguém vem me solta/ você vai na marra, ela um dia volta.”

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‘Teatro para evitar o psicanalista’

“Quando o muro separa, uma ponte une. Foi colocado um grande obstáculos e nós vencemos. O grupo teve uma força nova. Os meninos estão adorando fazer o espetáculo”, celebra José Luiz Ribeiro, que em “Os filhos de Prometeu”, mais uma vez, declara sua afinidade com a linguagem brechtiana. “O espetáculo tem um cunho didático”, observa. E não é difícil compreender a defesa de uma união num país partido pelo ódio. “Nesse discurso, mostramos dois lados e defendemos que as pessoas deem as mãos. O espetáculo não é panfletário. É muito investigativo, por sinal”, acrescenta o diretor e dramaturgo, compartilhando do gesto final de Prometeu. “A última palavra dele frente a Zeus é ‘Resisto!’. Nós precisamos resistir muito para que tudo o que está sendo tirado de nós possa ser recontado, remontado. O teatro é uma via para isso”, alerta o homem cuja vida foi escrita com e para o palco.

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“Acho que nesses 56 anos, sempre dependi da bondade humana. Foi uma luta muito grande, nada veio de mão beijada. Foi muita luta e, às vezes, muita incompreensão. Viver 56 anos fazendo teatro numa cidade como essa é um processo de luta. Confesso que, quando falaram que só em outubro teríamos o palco de novo, fiquei meio ‘deprê’, de acordar às 3h da manhã pensando naquilo. Mas, graças a Deus, fluiu a peça. O teatro é uma coisa maravilhosa para evitar o psicanalista”, brinca Ribeiro, que aguarda a liberação, no entanto, para apresentar os espetáculos da terceira idade e infantil. “O teatro infantil é sempre cheio de coreografias e movimentos, por isso precisa de espaço.”

‘Voltar às raízes para respirar melhor’

Não apenas o espaço é outro. “Resolvemos fazer uma mudança na programação, baixando o horário para as 20h e não fazendo mais aos domingos. Fazemos de terça a sábado. Domingo as pessoas gostam mesmo é de ver Faustão”, ri José Luiz Ribeiro, que desta vez também não se restringe ao formato plateia sentada diante da cena. “Os filhos de Prometeu” inicia-se no jardim e adentra o casarão da Santo Antônio, nomeado Vila Ceci e antiga sede da Faculdade de Direito. “Isso fez a gente relembrar o começo do Divulgação”, diz, referindo-se ao espetáculo “Amor em verso e canção”, encenado no Diretório Acadêmico Tristão de Ataíde da antiga Faculdade de Filosofia e Letras.

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A necessidade conversou com a realidade. “Agora voltamos a ter um contingenciamento de público. E diante do tamanho da sala, nosso projeto só recebe uma escola por noite. Temos casa lotada todos os dias”, comemora o diretor, que se esconde num velho armário, de onde opera a luz e o som do espetáculo. “Estou me aprimorando a ouvir a respiração dos atores”, observa. Como na peça dos primórdios do grupo, a nova montagem também dribla as dimensões espaciais muitos menores do que a de um palco italiano utilizando projeções. Os tempos, no entanto, são outros e o presente, com os avanços tecnológicos, proporciona resultados mais sofisticados. “‘Amor em verso e canção’ era feito com um projetor de slide e a dramaturgia tinha poemas de Drummond, Pablo Neruda. Foi muito bom reviver isso. Estamos num momento em que precisamos voltar às raízes para respirar melhor.”

OS FILHOS DE PROMETEU

De terça a sábado, às 20h, no Forum da Cultura (Rua Santo Antonio 1.112 – Centro). Até 29 de junho. Reservas pelo telefone (32) 3215-3850

 

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