A cada vez que desembarca no Brasil, Stanley Jordan é outro. Seja na forma de se vestir e se apresentar, transcendendo marcas de gênero, seja no pensamento. É como a música que faz, diferente a cada execução. E todo novo encontro, conta Dudu Lima, é por demais instigante. “É sempre muito bom revê-lo, e sempre com a sensação de que parece que foi ontem que nos vimos. São 17 anos tocando juntos, mais de 300 shows, muitas gravações, viagens e muita conversa e convivência, além do show, que é nosso ponto alto. A parte filosófica é muito intensa. Temos uma conexão muito especial”, comenta o contrabaixista Dudu, que com o seu trio formado pelo pianista Ricardo Itaborahy e pelo baterista Leandro Scio (bateria e percussão) convida o guitarrista natural de Chicago para show realizado pela Pró-reitoria de Cultura da UFJF nesta terça, 26, às 20h30, no Cine-Theatro Central.
Quando regressar a seu país, o norte-americano de 58 anos, nascido em Chicago, carregará na bagagem a experiência reunida nos palcos que dividiu com Dudu Lima e outros experientes nomes brasileiros, além do registro dos dias em que passou no Estúdio Versão Acústica, de Emmerson Nogueira, em São João Nepomuceno. “Estamos gravando. E músicas desse trabalho também entrarão nesse show. Surgiram muitas coisas novas em estúdio”, conta Dudu, convidado para produzir e arranjar o novo álbum do guitarrista, com lançamento ainda este ano.
“Desde a primeira vinda do Stanley, tivemos uma afinidade musical. E aí ele logo me chamou para fazer um disco”, recorda o contrabaixista sobre o projeto que acaba de ser finalizado. “Em 2005 ele participou do meu DVD ’20 anos de pura música’. Em 2007, participei do CD dele, ‘State of nature’. Gravamos a música ‘Insensatez’, eu e Ivan Conti ‘Mamão’ (baterista). Em 2009, fiz o show ‘Ao vivo no Cine-Theatro Central’ e ele participou. Em 2011, gravamos um disco que ainda não saiu, e no qual o Milton Nascimento participou, com a voz dele no meu estúdio”, enumera Dudu.
“A cereja do bolo, agora, é o trabalho que sempre sonhei em fazer com ele. É um trabalho dele e que fiz toda a concepção, da escolha do repertório até a coordenação das gravações. É um filho que estou cuidando desde o primeiro centímetro. Quando ele me convidou eu disse que esse trabalho seria o retrato de tudo o que já vivemos, de nossa afinidade. É a simbiose do que está presente nessas turnês, a amizade, a fraternidade e a música”, pontua Dudu, reafirmando o que destaca a crítica especializada, sobre a sintonia da dupla em cena.
No disco recém-gravado, Stanley interpreta “Regina”, composição de Dudu, e também canções que retratam Minas Gerais, Rio de Janeiro e o Nordeste, além de autorais, num retrato sonoro do Brasil que tão bem acolhe o guitarrista considerado um dos maiores expoentes do jazz fusion. “Ele chegou dia 17 de maio. Começaram nossas reuniões, fazendo a elaboração da pauta de gravação e as conversas. Mostrei o que estava pensando e pedi a ele que dissesse o que queria. Como produtor entendo que o trabalho tem que ser voltado para o que o artista espera”, afirma o contrabaixista.
Depois das reuniões de produção, Dudu e Stanley partiram para os ensaios. E depois caíram na estrada. Com tudo definido, entraram em estúdio na semana passada. Foram três dias intensos. Sábado retornaram para concluir participações que incluem os músicos Kim Ribeiro, Emmerson Nogueira, Ricardo Itaborahy, Ivan Conti “Mamão”, Leandro Scio, Hérmanes Abreu e Jorge Benjor. “O Jorge esteve num show nosso em São Paulo e surgiu uma amizade muito bonita. Fiz um arranjo para ‘Mais que nada’, e ele nos presenteou com a participação dele, que vamos gravar em São Paulo”, conta Dudu.
‘Tem que ver essa improvisação de perto’
A química que Dudu Lima e Stanley Jordan transbordam no palco envolve música e também conversa. O som é a consequência do diálogo, defende Dudu. “A música é uma consequência de tudo o que a gente pensa. Conversamos sobre tudo e, principalmente, sobre a positividade, seja no comportamento humano, seja na política ou na comida. É natural”, pontua o contrabaixista, que leva ao Central, nesta noite, a sinergia que se intensificou em estúdio, bem como o resultado dos exercícios das últimas semanas juntos.
“Esse show foi feito para essa turnê. Uma parte é feita com o Stanley Jordan Trio, que sou eu, o Stanley e o Ivan Conti. Outra parte é com o meu trio, convidando o Stanley. Já nos apresentamos com esse formato em Curitiba e Belo Horizonte”, explica o músico juiz-forano, referindo-se a duas apresentações do 4º Festival BB Seguros de Blues e Jazz.
Amigo, Stanley é também mestre, garante Dudu. “O Stanley é um músico genial, que traz na bagagem um estilo único de tocar, um conceito da genialidade americana da improvisação no jazz. Vê-lo fazendo isso foi a coisa mais maravilhosa. Sempre fui muito ligado no estudo da improvisação. E conhecê-lo foi uma aula. É como falar inglês: tem que ir ao Estados Unidos. O mesmo acontece com a música: tem que ver essa improvisação de perto”, sugere. “Para mim é como um mestrado e doutorado que não acaba. É um aprendizado muito grande. E tenho humildade de saber que todo dia é só o começo.”
Como todo amigo, Dudu também ofereceu, não é mesmo?! “Quis passar, principalmente, a forma de fazer. Trabalho como produtor e gravando, adoro entrar em estúdio, então, minha vontade sempre foi fazer o que faço para mim, para ele. E assim passei a ele a forma como penso a música, como entendo meus arranjos”, diz.
Dudu Lima Trio convida Stanley Jordan
Nesta terça, 26, às 20h30, no Cine-Theatro Central (Praça João Pessoa, s/n)