
Um dos principais autores e pesquisadores da chamada nona arte no país, Gazy Andraus vai ministrar, nesta quarta-feira, no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), a palestra “A arte e a poética das histórias em quadrinhos”, em que vai fazer um levantamento histórico e falar do desenvolvimento das HQs, tratando ainda de autores que marcaram o gênero, entre eles os brasileiros Edgar Franco e Laudo Ferreiro e o inglês Alan Moore. Na quinta-feira, no mesmo local, ele realiza a oficina “HQ e zine e sua poética autoral artística”, em que vai dar orientações sobre como os artistas podem criar histórias poéticas dentro do formato dos quadrinhos e fanzines.
Gazy Andraus não apenas trabalha com quadrinhos, sendo também um dos principais pesquisadores acadêmicos do país sobre o tema. Ele é criador da disciplina de HQ e zine no curso de design gráfico da FIG-Unimesp, além de outras atividades na área, e destaca a valorização da nona arte nas últimas décadas. “Os quadrinhos iam bem desde o século retrasado, mas na década de 1950 um psiquiatra acusou as HQs de causarem delinquência. O mundo todo começou a perseguir, e as histórias em quadrinhos ficaram malvistas”, explica. “Isso começou a mudar com as pesquisas da área acadêmica nos anos 1970, graças a nomes como Umberto Eco, que viam o gênero como uma forma de linguagem rica e não descoberta.
Passaram a pipocar pesquisadores no mundo todo, entre eles brasileiros como o Antônio Luiz Cagnin e, depois, Paulo Ramos. Mas os quadrinhos já haviam iniciado a guinada nos anos 60, com um movimento forte no underground dos Estados Unidos e, principalmente, na Europa, por meio de Moebius, Gosciny, que tomaram um rumo artístico muito forte.”
Para ele, a força desses autores que viam as histórias em quadrinhos com outra perspectiva aumentou ainda mais com a “invasão britânica” nos quadrinhos americanos, em especial a partir da década de 1990, com nomes como Alan Moore e Neil Gaiman, que já nos anos 1980 mostravam talento em obras como “Monstro do pântano”, “Watchmen” e “Sandman”. “O mercado americano se salvou por causa dos ingleses, que têm uma maior tradição cultural, com roteiros mais fortes, reflexivos e usando personagens já conhecidos ou reinventando outros, como o Sandman”, diz ele, que considera mais positiva que negativa a transposição dos quadrinhos para a TV e cinema. “É bom para trazer outro público, bem maior, pois muitas vezes temos adaptações benfeitas, tornando os personagens mais acessíveis para quem não acompanha as HQs, que vê que há produção para um público adulto, como ‘Watchmen.”
Quanto à oficina, ele diz que seu principal objetivo é mostrar que pode haver conteúdo poético tanto para as HQs quanto fanzines. “Os dois podem ser um produto autoral poético, como uma obra de arte, com potencial de criatividade imenso. É possível mostrar sua criatividade e capacidade artística em uma revista ou zine”, sentencia o autor.