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Homenageados na Mostra de Cinema de Tiradentes refletem sobre suas trajetórias e contam os projetos futuros 

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Os homenageados André Novais e Bárbara Colen: dois mineiros que são exemplos do que é o cinema contemporâneo realizado em Minas e no Brasil (Foto: Leo Lara/Universo Produção)
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A Mostra de Cinema de Tiradentes tem apostado na homenagem a dois nomes, a cada ano. A justificativa é clara: “Um puxa o outro”, afirmou Francis Vogner, coordenador da curadoria do festival, no debate de abertura desta edição. Um nome surge e, ao se deparar com a obra, um outro aparece, que dialoga tão intimamente que é até difícil não associar: pelo espaço, pelo contexto, pela situação e, sobretudo, pelo território.  

O cinema mineiro vive em ascensão. Uma produção centenária que segue coerente e diversa, apostando nas beiras e nas formas do tempo – esse que é o tema da 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes. E é nesse contexto de celebração da mineiridade e sua expansão que surgem os nomes da atriz Bárbara Colen e do diretor André Novais: dois mineiros que são exemplos do que é o cinema contemporâneo presente no estado.  

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A territorialidade é marca que perpassa as duas carreiras que têm início, basicamente, no mesmo contexto: a Filme de Plástico, produtora que tem André como um de seus idealizadores e que ainda apresentou Bárbara ao mundo, a partir do curta-metragem “Contagem”, de 2010. André se destacou, inclusive, em Tiradentes, ainda em 2010, quando lançou o curta “Fantasmas” e, em seguida, conquistou mais uma série de premiações em outros festivais. Além dele, sua biografia conta com três longas, sendo o segundo “Temporada”, aquele que o destacou nas produções brasileiras, principalmente por causa dos prêmios no Festival de Brasília. Tem ainda dez curtas e dois médias, e vários deles fazem parte da Mostra Homenagem, com exibição on-line no site da mostra.  

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Já Bárbara, que começou com “Contagem”, teve uma virada de chave considerável em sua carreira quando participou de dois filmes dirigidos por Kleber Mendonça Filho: “Aquarius” e “Bacurau”. “Foram dois filmes que tiveram muita projeção. E o ‘Bacurau’ foi um ponto de virada na minha carreira. Foi quando as pessoas começaram a relacionar aquela atriz à Bárbara Colen. Foram filmes que me projetaram e abriram muitas portas para eu entrar em outras coisas”, afirma.  

Os dois filmes estrearam em Cannes e, ainda hoje, são aclamados pelo público. E, para Bárbara, muito disso vem da forma como Kleber comanda o set. “Ele é um cara que consegue trazer para um set uma coisa que é bonita demais quando acontece, que é um sentimento no qual todos se apaixonam pela história que ele está contando. Isso gera um desejo muito grande na equipe de fazer. E isso se reflete nos filmes.”  

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Territorialidade 

E da mesma forma que “Contagem”, seu filme de estreia, é carregado de territorialidade, tanto “Bacurau” quanto “Aquarius” têm essa mesma marca. E isso é construção contínua e de imersão, que precisa ser feito para que a personagem apareça. Em “Bacurau”, por exemplo, ela conta que ficou três meses no sertão, e isso foi fundamental para dar vida à sua personagem. Assim como no longa de Marcos Pimentel, que gravou no ano passado e que deve ser lançado neste ano, o “Silêncio das ostras”, um filme que fala sobre mineração e teve como locação a cidade de Matipó, em uma vila com 30 casas. “O cinema tem isso que é bonito e facilita demais que as coisas estão ali e você está na frente do mar e ele está na frente de você. No teatro você imagina o mar, a estação. No cinema, você está na frente de fato e isso traz para o corpo”, justifica.  

“Eu gosto de ler os roteiros tentando entender qual é o caminho que esse personagem está fazendo e dentro de cada cena como ele é também. Eu gosto de ir construindo personagem pouco a pouco, para que isso vá sendo construído no público, para ir trazendo e ter essa panela de pressão. Eu gosto de dentro, do rio subterrâneo, do que sai no olho. Isso abre para o espectador. Se você imprime demais o que precisa ser sentido, preenche demais. Deixar aberto é interessante e cada um preenche com o que estiver ali”, afirma Bárbara sobre seu processo.  

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Essa mesma sensação tão clara da territorialidade é a visão que André destaca nos filmes que roteiriza e dirige. Para exemplificar, ele fala de “Temporada”, que tem a atriz Grace Passô como protagonista. Ele foi gravado em Contagem, a cidade onde a Filmes de Plástico surgiu. “E a Grace, na época, disse que foi um exercício interessante para ela, porque ela mesma disse que morava em um lugar parecido com Contagem e, para ela, batia muito forte estar ali. Cada filme envolve essa questão dos personagens com o território.”  

Cinema na família 

E, puxando a carreira de André, ainda é visível perceber a presença de sua família. Seu pai, sua mãe e seu irmão são atores frequentes em suas produções. Isso começou com o filme “Ela volta na quinta”, que tem a presença dos três. A partir dele, seus familiares passaram a atuar, inclusive, em filmes de outros diretores.  

“Essa relação da família com o cinema virou tão forte que às vezes você quer fugir do cinema e não quer ficar falando toda hora, mas com minha família é difícil: os maiores papos que a gente tem são sobre o cinema. Ele impregnou-se na minha família de um jeito muito bonito.” Seu irmão, inclusive, disse que, desde que assistiu ao “Contagem” ficou com vontade de fazer parte das produções da Filme de Plástico. “De certa forma, eles estavam prontos para isso”, afirma o homenageado.  

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Futuro 

Os dois, em todas as oportunidades, reforçam que essa homenagem é ainda mais importante pelo fato de estarem juntos. É, além disso, uma forma de olhar para o que já foi feito e pensar no caminho que estão seguindo. André adianta que, após o carnaval começa a pré-produção de mais um longa, que tem como assunto o luto.  

Bárbara também adiantou que planeja, agora,uma  incursão na direção de um filme. “Estou jogando para o mundo”, brinca. O motivo? “Eu quero falar sobre mulheres e é uma das coisas que mais me mexem, e sobre mulheres negras. O que me instiga é o que a gente ainda não viu, as histórias que ainda não foram contadas, como o André falou. Eu acho que a gente precisa ter as nossas questões contadas, e, para isso acontecer, é preciso que a gente faça.” 

E ainda tem um outro motivo: “A direção também é sobre os atores. Eu sou apaixonada pelo que eu faço, sou apaixonada pelos atores, e tem o cuidado e o entender esse ser que está na frente ali, que é muito importante. São poucos os diretores que sabem dirigir um ator, como ativar, o que trazer em cada cena. Então, eu fico com vontade de fazer por isso também”, finaliza.

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