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”The Post – A guerra secreta” estreia nos cinemas de JF

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Com direção de Steven Spielberg (ao centro), mais Meryl Streep e Tom Hanks no elenco, ‘The Post – A guerra secreta’ mostra a luta da imprensa americana para publicar documentos secretos do governo dos EUA. (Foto: divulgação)
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Poucas foram as vezes, desde que foi, de fato, reconhecida como profissão, que o ofício do jornalista passou por momentos tão difíceis em termos de credibilidade. Afinal, desde que a internet se tornou popular, precisamos conviver com flagelos modernos como pós-verdade, fake news e a desconfiança generalizada a respeito da apuração dos fatos, com gente à direita e à esquerda acusando repórteres de produzir notícias falsas, tendenciosas, estar mancomunados com poderes superiores, todo tipo de acusação quando a notícia não agrada.

Políticos como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, utilizam as diversas ferramentas virtuais para acusar veículos e profissionais de propagarem notícias falsas, serem antipatriotas, e disparam a sua versão dos fatos – ou das fontes que mais lhes convém. Sites, blogs, perfis em redes sociais que se dizem jornalísticos e isentos publicam ou reproduzem notícias sem averiguar fontes, confiabilidade de dados, e que se espalham feito rastilho de pólvora. Na verdade, vivemos num mundo de “personalização jornalística”, em que se lê (e divulga) apenas a “verdade absoluta” que é conveniente para determinados grupos.

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Mas nem sempre foi assim – pelo menos, não com tamanho ódio e desprezo virulentos. Houve uma época em que o trabalho árduo, contínuo e paciente era recompensado, em muitas oportunidades, não apenas com a apuração e publicação dos fatos, mas com o reconhecimento e a devida repercussão do que ali estava escrito. É dessa época que trata o drama “The Post – A guerra secreta”, que estreia nesta quinta-feira trazendo como atrativos adicionais duas indicações ao Oscar, de melhor filme e atriz, a 21ª na carreira de Meryl Streep. O longa de Steven Spielberg, assim como “Spotlight” fez há poucos anos, mostra a relevância do jornalismo para colocar à luz aquilo que se queria deixar nas sombras – neste caso, ao retratar a luta dos jornais “New York Times” e “Washington Post” para publicar, em 1971, reportagens sobre documentos secretos do governo americano, que ficaram conhecidos como “Pentagon papers” (“Papéis do Pentágono”).

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Esses papeis, considerados confidenciais, mostravam como os últimos governos dos Estados Unidos – personificados na sinistra figura do então presidente Richard Nixon – mentiam descaradamente a respeito do desenrolar da Guerra do Vietnã e das decisões tomadas em relação ao conflito. As mais de 14 mil páginas chegaram primeiramente até as mãos dos repórteres do “Times”, que iniciaram a publicação das reportagens, mas logo foram impedidos pela Justiça após Nixon processar o periódico invocando a Lei de Espionagem – para ele, não importava (mentira, importava e muito) se a papelada comprovasse todos os embustes engendrados pelo governo, a segurança nacional estava acima de tudo. Ou seria a segurança dele em relação à confiança do povo, afinal?

Pela liberdade de informação

Enquanto o “Times” trava sua luta para fugir à censura, a redação do “Post” tem acesso a parte dos “Pentagon Papers” e precisa decidir se também vai encarar Nixon e sua gangue. Tudo isso acontece num momento delicado, em que a socialite Kay Graham (Meryl Streep) precisa mostrar ter pulso para comandar o jornal – um espaço então majoritariamente masculino e com todo o machismo típico dos anos 70 – que herdou do pai e que era administrado por seu marido até ele cometer suicídio. O seu principal aliado será o editor Ben Bradlee (Tom Hanks), que anos depois seria um dos personagens a revelar o escândalo de Watergate, que culminou na renúncia de Nixon. O caso vai parar nas mãos da Suprema Corte, que precisa decidir se é inconstitucional censurar a publicação dos documentos num país que tem na sua Constituição a garantia da liberdade de imprensa e expressão.

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Mesmo que não seja perfeita ou imparcial, a imprensa ainda é uma das ferramentas que garantem ao cidadão o acesso à informação – dizer acesso à verdade seria forçado demais. “The Post – A guerra secreta” pode ter seus defeitos, mas é válido por mostrar a importância do trabalho jornalístico para a formação de uma sociedade em tempos tão polarizados, marcados por notícias falsas, distorcidas, exageradas e sem a devida reflexão/apuração em que vivemos.

Steven Spielberg (ao centro) contou com os talentos de Meryl Streep e Tom Hanks para contar um dos momentos mais importantes da imprensa e da política dos Estados Unidos

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