
A arte não é apenas passatempo, é linguagem cotidiana, forma de diálogo e ferramenta de construção de mundo. Foi nesse ambiente que cresceram Jennifer Carvalho, 18 anos, Diogo Carvalho, 17, e Jullia Carvalho, 8. Filhos da juiz-forana Sheila Carvalho, fotógrafa, os três irmãos tiveram contato com a cultura desde pequenos. Entre livros, música e desenhos, transformaram esse incentivo em expressão, consciência e reconhecimento.
Colhendo frutos
Esse percurso começou dentro de casa, mas ganhou projeção para além do ambiente familiar. Em 2025, Jennifer conquistou o primeiro lugar no concurso nacional de redação da Defensoria Pública da União (DPU), abordando o tema “Os desafios da
saúde dos povos indígenas no Brasil”; Diogo foi premiado em um concurso de desenho promovido pela SILEMG, em que fez uma reinterpretação da Via Láctea mineira; e Jullia venceu o concurso infantil “Eletricidade com Segurança”, que representou, por meio do desenho, a importância do uso seguro da energia elétrica. Premiações distintas, em áreas diferentes, mas conectadas por um mesmo ponto de partida: o acesso à cultura desde a infância.
Mais do que conquistas individuais, os prêmios refletem um processo contínuo de estímulo à criatividade, ao pensamento crítico e à expressão. O contato constante com a arte moldou o olhar dos irmãos sobre questões sociais e humanas, fazendo com que a cultura deixasse de ser apenas linguagem estética e passasse a ser também ferramenta de escuta, reflexão e questionamento da realidade.
Quando a cultura faz parte da formação
Essa vivência dialoga com o que defendem especialistas e documentos oficiais. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhece a educação cultural como parte essencial da formação integral de crianças e adolescentes, ao garantir o acesso às diferentes formas de expressão artística e valorizar a diversidade cultural brasileira.
O documento destaca que a educação deve promover não apenas o contato com produções culturais, mas também o respeito às identidades locais, regionais e nacionais, estimulando criatividade, pensamento crítico, empatia e diálogo entre culturas. Nesse sentido, a educação cultural contribui diretamente para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional, fortalecendo a cidadania e a inclusão social.
Embora a escola tenha papel central nesse processo, a formação cultural não se restringe à sala de aula. O incentivo familiar, o acesso cotidiano à arte e a valorização das experiências culturais desde a infância ampliam repertórios e tornam a aprendizagem mais significativa. Como defendia Paulo Freire, a educação cultural é essencial e libertadora justamente por integrar os saberes, as experiências e o contexto de vida dos educandos ao processo educativo, transformando a aprendizagem em um espaço de diálogo e produção de conhecimento.
De volta ao cotidiano da família, a relação com a arte nunca foi uma obrigação. Ela surgiu de forma natural, incorporada à rotina e às trocas familiares. Jennifer começou ainda criança a frequentar apresentações culturais e musicais, ao mesmo tempo em que desenvolvia o gosto pela leitura e pela escrita. Hoje, além de escritora, também atua como compositora e musicista, encarando a arte não como uma escolha pontual, mas como parte constitutiva de sua trajetória.
Diogo, que desenha desde os quatro anos de idade, encontrou nas histórias em quadrinhos seu primeiro impulso criativo. Ao tentar reproduzir os traços que via nos gibis, passou a desenvolver técnica e interesse pelos processos artísticos, até compreender o desenho como uma forma de observar, interpretar e dialogar com o mundo ao redor.
A caçula, Jullia, cresceu acompanhando de perto esse processo criativo. Inspirada pelos irmãos, começou a desenhar ainda pequena, estimulada pelo exemplo, pelo apoio e pelo incentivo constante. Dentro de casa, a troca segue intensa, cada um atua em uma linguagem artística diferente, o que transforma o convívio em um espaço de aprendizado mútuo, confiança e criação compartilhada.

