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Como pensar o financiamento da cultura? Produtora responde

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Perceba: a ausência do edital de 2018 da Lei Murilo Mendes refletiu-se no ano que agora chega ao fim. Para quantos lançamentos de livros foi chamado ou chamada? Quantos discos viu serem lançados por aqui? Os shows, filmes e peças a que assistiu foram em mesmo número dos anos anteriores? Sustentada principalmente pelas produções independentes e atrações vindas de fora da cidade, a agenda local foi diretamente afetada pela falta do incentivo público no ano anterior. Se isso não comprova a dependência do setor em relação ao Pode Público, ao menos aponta para a relevância do mecanismo para o fomento da cultura em Juiz de Fora. O mesmo fenômeno se repete nacionalmente, e já é aguardo um número bem menor de lançamentos cinematográficos no país em 2020, seguindo os reflexos do desmonte da Ancine e as novas diretrizes do Governo Federal para a área.

Na segunda pergunta da série “Cultura amanhã”, a Tribuna abre espaço para que a produtora cultural Eliza Granadeiro discuta a relação entre cultura e economia, questão onipresente na cidade, no estado e no país ao longo de 2019. E também no mundo. Este ano, o governo francês testou o programa “Passe cultural”, destinado a maiores de 18 anos, que passaram a receber um crédito de 500 euros para gastar com livros, DVDs e ingressos para cinemas, teatros e shows, além de inscrições em workshops e cursos ou assinaturas de plataformas de streaming. Promessa de campanha do presidente Emmanuel Macron, o programa que funciona por aplicativo para celulares e tablets, é mais um passo da França no subsídio da cultura.

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“É burrice econômica querer encurralar a cultura. Ela tem um valor tangível e que tem sido estudado e medido. Para além disso, há o valor intangível das manifestações artísticas na vida de qualquer sociedade. A censura nós a conhecemos na ditadura. Ela é estéril e estúpida”, avaliou a economista Míriam Leitão em sua coluna no jornal “O Globo”, defendendo a atenção do Estado para com o setor que, segundo dados do estudo “Rio de Janeiro a Janeiro”, organizado pelo Ministério da Cultura no governo Temer com apoio técnico da Fundação Getúlio Vargas, injetou R$ 2,8 bilhões na economia da Cidade Maravilhosa em 2018, R$ 179 milhões deles só no carnaval. Ironicamente, em 2019 o contigenciamento de incentivo municipal para os desfiles reduziu-se substancialmente, assim como prometido para 2020. É urgente discutir essa conta.

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Como ser propositivo quando o pensamento da cultura se descola do financiamento da cultura?

Eliza Granadeiro responde

Jornalista, é especialista em Gestão Cultural pelo Senac Minas e mestranda em comunicação social pela UFJF. É produtora cultural da Sinfônica Produções, que tem entre seus artistas o clarinetista Caetano Brasil. Assinou a produção de diferentes mostras, como “Múltiplos olhares”, do pintor Pedro Guedes, e a co-produção do Pólen – movimento de intercâmbio cultural, realizado pela Funalfa.

Entendo que nós, os mais variados profissionais da cultura, fazemos parte de um setor pulsante do mercado que é a economia criativa. Acredito que precisamos compreender esse mercado específico e analisar a nossa atuação profissional nele para encontrar soluções. Cada vez mais do que eu tenho visto de projetos artístico-culturais e ações de mercado de forma geral, um bom caminho é estabelecer parcerias. Unir forças e ações com outros profissionais para que juntos consigamos falar com outras pessoas e atingir públicos diversificados. Então, eu penso que, antes de tudo, o que precisa ser feito é um esforço de estudo e análise de como está o mercado criativo na sua área de atuação e na sua cidade. Quando a gente começa a entender por que motivo as coisas estão acontecendo de uma determinada maneira e tem consciência de como queremos nos inserir nisso, podemos pensar com mais clareza e criatividade de que forma podemos trabalhar. E eu acho que isso passa por agregar variados setores desde pequenos empreendedores, profissionais em início de carreira, empresários de diversos níveis de atuação e governo. Porque. apesar desse descolamento do financiamento, o governo precisa atuar na cultura. E quanto mais conscientes nós estivermos desse mercado, mais nós poderemos cobrar do governo (seja ele em que esfera for) uma atuação específica.

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“Acredito que precisamos compreender esse mercado específico e analisar a nossa atuação profissional nele para encontrar soluções” – Eliza Granadeiro

 

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