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Em parceria internacional, Festival de Música Antiga exibe concertos de evento português

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Ao longo de meia década, o Festival Internacional de Órgão de Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso, o FIO, atraiu mais de cinco mil espectadores para seus concertos em regiões históricas de Portugal. Por conta da pandemia, a última edição, ocorrida entre 16 e 25 de outubro, não poderia somar mais que 800 espectadores. Até o momento, foi assistida por cerca de 15 mil pessoas, o que equivale a quase 20 vezes a capacidade de todos os concertos somada. A ampliação exponencial se deu, e continua acontecendo, graças à veiculação das apresentações em plataformas de vídeo. Nesta terça (24), um dos espetáculos ganha exibição na programação do 31º Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, no canal do YouTube do Centro Cultural Pró-Música, integrando a programação do evento juiz-forano, pela primeira vez exclusivamente em formato virtual.

Italiano Giulio Mercati executa Händel, Cabanilles, Scarlatti em concerto apresentado ao vivo em igreja portuguesa. (Foto: Divulgação)

Utilizando dois órgãos, um histórico do século XIX e outro contemporâneo, de apenas dois anos de idade, o italiano Giulio Mercati executa Händel, Cabanilles, Scarlatti na Igreja Matriz de Ribeirão. No dia seguinte, na quarta (25), a soprano brasileira Rosana Orsini e o cravista ítalo-brasileiro Marco Brescia exibem concerto inédito gravado no interior da secular Igreja de Santa Eulália de Arnoso, em Vila Nova de Famalicão. A apresentação, que também terá exibição em Portugal, é resultado da parceria entre o evento juiz-forano e o português, realizado com grande limitação de público diante do início da segunda onda da Europa.

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“Se o festival fosse uma semana mais tarde acho que não teríamos conseguido realizá-lo, porque tudo se complicou no final de outubro”, conta Rosana Orsini, que por duas vezes se apresentou em Juiz de Fora, na programação do festival, em 2017 e em 2018. Segundo a soprano, que é uma das organizadoras do FIO, a interface virtual permitiu um alcance muito grande para o evento iniciado há seis anos por iniciativa de uma empresa de restauração de órgãos de tubos, que convidou Brescia e ela para desenvolverem o conceito artístico do festival. “Apesar de não serem cidades muito grandes, Santo Tirso e Famalicão concentram um interessantíssimo hub de empresas na área da organaria, responsáveis pela construção de peças para órgãos para alguns dos mais importantes auditórios e catedrais da Europa”, explica.

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Igreja de Santa Eulália de Arnoso foi erguida no período visigótico, destruída no século XI e reconstruída no século XVII. (Foto: Divulgação)

Compromisso com a memória
Quando o Festival Internacional de Órgão de Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso começou, existiam poucos instrumentos em funcionamento disponíveis para concertos, conta Rosana Orsini, que junto de Brescia colocou como objetivo a sensibilização da comunidade, das igrejas e das autarquias para a urgência da restauração das peças. Desde então, o festival recuperou oito órgãos. “Para nós, essa é uma vitória enorme”, celebra a soprano. “Para as igrejas que não têm um instrumento em funcionamento, o FIO dispõe de um órgão positivo que é levado para uma igreja em cada município a cada edição do festival, e assim levamos a música de órgão para lugares que nunca esperavam receber esse tipo de concerto.”

Se antes chamava atenção da Europa e da classe musical para importantes regiões históricas de Portugal, o festival que se conectou em 2020 ilumina, agora, para todo o globo, lugarejos pouco povoados e pouco conhecidos, mas repletos de preciosidades, como a igreja em que Rosana se apresenta com Brescia no concerto desta quarta. “É uma verdadeira viagem no tempo estar em uma igrejinha tão isolada e tão antiga, que não se parece com nada do que conhecemos no Brasil. Em um ano que não podemos sair de casa, é uma forma de viajarmos mais um pouquinho e conhecermos um patrimônio desconhecido por grande parte dos turistas que visitam Portugal”, diz sobre o templo erguido na época visigótica e destruído pelos mouros no século XI. Mais tarde a Igreja de Santa Eulália de Arnoso foi reconstruída pelo Rei Garcia II, da Galícia.

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Marco Brescia se apresenta ao cravo, com interpretações intercaladas da soprano Rosana Orsini. (Foto: Divulgação)

A gravação foi realizada pela manhã, quando era possível ouvir no vilarejo apenas os galos e as ovelhas. “Quanto à acústica, considero as igrejas dessa época grandes aliadas dos músicos. Tudo soa mais bonito em uma igreja histórica”, comenta Rosana, que intercala suas obras de canto às composições executadas num cravo A. Colzano, uma réplica de um instrumento do barroco italiano, por Marco Brescia. O repertório sacro traz peças pouco conhecidas do grande público. “Destaco o ‘Pianto della Madonna’, escrito por Tarquinio Merula. É uma canção de ninar cantada pela Virgem Maria para o Menino Jesus, mas ela, ao tentar acalmar o bebê, tem visões da crucificação e do destino daquele bebezinho indefeso que está no colo dela. Sinceramente, não consigo imaginar nada mais dramático do que isso”, aponta a soprano. “O compositor escreve de uma forma paradoxalmente simples e complexa. É das obras mais dramáticas do repertório, se não for a mais, e eu canto muito repertório romântico, mas ainda assim essa obra supera tudo o que conheço em termos de drama, verdade e beleza.”

Programação

31º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga – Edição Virtual

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Concertos transmitidos pelo canal do Centro Cultural Pró-Música no YouTube às 20h, precedidos por palestras diárias do professor de música da UFJF Rodolfo Valverde, às 19h

Dia 24 – Recital de Órgão, com Giulio Mercati (ITA/CHE)
Dia 25 – Concerto de Canto e Cravo “Il Pianto della Madonna”, com Rosana Orsini (PRT/BR) e Marco Brescia (IT/PRT/BR)
Dia 26 – Concerto do Grupo GReCo com Duo de Flautas Doces, com Cesar Villavicencio e Paula Callegari (Uberlândia/MG) e participação especial de María Martínez Ayerza (Londres) e Guilherme dos Anjos (Belém – PA)
Dia 27 – Apresentação Didática de Danças Barrocas: Passos do Barroco, com Clara Couto, Maíra Alves, Osny Fonseca e Raquel Aranha (SP)
Dia 28 – Concerto de Teorba, Viola da Gamba e Oboé Barroco “Las Danzas Ocurrentes”, com Cristián Gutiérrez, Luciano Taulis e Antonia Sanchez (Chile)
Dia 29 – Concerto de Flauta Doce/Fagote e Teorba, com Isabel Favilla e Giulio Quirici (Bélgica)
Dia 30 – Recital de Órgão e Quarteto de Cordas, com Marco Brescia (ITA/PRT) & Cuarteto Alicerce (ESP)

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