A Recria Cine – Mostra de Cinema para Crianças e Adolescentes acontece em Ervália a partir desta quarta-feira (24), e oferece uma programação extensa e gratuita até sábado (27). O evento, que chega à sua 8ª edição com o tema “Caça ao tesouro”, fortalece e valoriza o protagonismo infantil, promovendo exibição de filmes, atividades recreativas, oficinas, exposições e apresentações culturais – tudo relacionando cinema, artes, meio ambiente e educação.
A cidade, que fica a cerca de 170 quilômetros de Juiz de Fora, com pouco mais de 20 mil habitantes, tinha uma lacuna considerável, principalmente em relação aos espaços de cultura. O cinema de Ervália, por exemplo, foi fechado ainda na década de 1970. Tobias Rezende, coordenador geral da Recria, conta que foi pensando nisso que surgiu a ideia de elaborar uma mostra, já com intenções de ser um espaço efervescente para as crianças. “Eu tinha acabado de produzir um filme infantil e queria exibir na cidade. Na falta de espaço, a gente acabou criando uma mostra.”
A primeira edição, em 2016, ainda foi tímida. “A gente não tinham nem a pretensão de ser, de fato, uma mostra”, comenta Tobias. Mas não havia outro jeito senão ocupar esse espaço e realizar um evento com pretensões de ficar e, realmente, mudar a cena da cidade. O público foi se formando. “Hoje, quando a gente vai nas escolas para falar da Recria e pergunta quem já participou da mostra, percebe que todo mundo, praticamente, levanta mão.”
No começo, a Recria ainda não contava com leis de incentivo para a sua realização. “Até a quinta edição o apoio foi mínimo”, afirma Tobias. Com a pandemia, no entanto, eles passaram a elaborar projetos e inscrever em editais de fomento. A partir disso, foi possível realizar a mostra on-line e ainda realizar uma edição itinerante, que percorreu os povoados de Ventania, Careço e Grama, na zona rural de Ervália. Agora, com recursos da Lei Paulo Gustavo de Incentivo à Cultura e do Ministério da Cultura, e com o apoio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Setur-MG), foi possível realizar uma mostra ainda maior.
Programação da Recria
Em cada ano, a Recria ocupa uma escola de Ervália. Neste ano, a abertura acontece na Praça da Igreja Matriz, nesta quarta-feira, a partir das 14h, com exibição do primeiro longa de animação do interior de Minas Gerais, “Placa-mãe”, de Igor Bastos. Já as outras ações estão centradas na Escola Municipal Professora Vivica Rocha. É lá o palco dos espetáculos culturais propostos pela mostra, como o “Na roda”, do Grupo Maria Cutia, o “Caixa de brincar”, da Estação Criativa, e a contação de histórias “Quem procura, acha. Quem caminha, desabrocha”, da Cia Benedita na Estrada.
É na escola também que acontecem as 11 oficinas da Recria. Como conta Tobias, a proposta é oferecer atividades das diversas áreas artísticas. “O evento tem essa perspectiva de que a arte é uma coisa muito ampla. Então, a gente abre um leque e as crianças vão ali nos seus interesses. Elas começam a ter um outro olhar e perceber que é possível trabalhar com arte. E isso utilizando essa ideia do cinema como arte que agrega as outras artes. A gente tem uma mostra de cinema que é também uma mostra de artes integradas, o cinema como um fio condutor, mas, ao redor, um monte de possibilidades. É um evento transversal.” Dentre as oficinas, estão a de palhaçaria, de teatro, de cinema, animação e desenho.
Vinte curtas-metragens vão ser exibidos na Recria, todos com tradução em Libras. Um edital é aberto previamente para todo o Brasil para a submissão das produções com foco nas infâncias. Foram 152 filmes inscritos, e a curadoria levou em consideração a qualidade técnica e artística das obras. “Mas a equipe de curadoria também pensa sempre nas pluralidades de infância. Fazer com que o cinema seja uma janela para um contato com outras infâncias, de outros lugares, valorizando o protagonismo infantil. A gente sempre coloca filmes feitos por crianças, em oficinas, também, por exemplo. É uma mostra para e por crianças.”
Com as crianças
Essa perspectiva de ser um festival feito para e por crianças faz com que a Recria tenha essa preocupação de incluí-las na equipe, de forma que elas, de fato, participem dos processos e se sintam pertencentes. “Tem crianças que participaram da primeira edição da mostra e agora, já praticamente adultas, trabalham com fotografia, por exemplo, têm interesse pelas artes e ajudam o evento. Muita gente que começou como público hoje faz parte da equipe, de alguma forma. A gente tem esse perspectiva não só de formação de público, mas também de colocar a câmera na mão das crianças, para elas experimentarem essa linguagem. Ainda mais que o audiovisual hoje em dia está presente em tudo. A gente colocando isso na mão delas, elas ganham outra visão do que elas assistem, do que é o mundo em volta delas.”
Sobretudo a partir da temática “Caça ao tesouro”, a Recria explora, ainda mais nesta edição, o lúdico e a brincadeira, presentes em toda a programação. É uma forma, como afirma Tobias, de realizar “uma grande brincadeira”. “É um evento, mas é também um jogo, uma brincadeira, para se divertir o máximo e já esperar pela próxima edição.” A ideia é ainda expandir a Recria cada vez mais, promovendo, inclusive, mais uma edição da versão itinerante, na zona rural de Ervália, que deve acontece ainda neste ano.