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‘Cidade de Deus’ será restaurado com Inteligência Artificial

Cidade de Deus
(Foto: Leo Fontes/ Universo Produção)
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A Mostra de Cinema de Ouro Preto é a primeira do Brasil a tratar o cinema como patrimônio. Em 18 edições, tem reafirmado o compromisso com a preservação das obras brasileiras, principais marcadores da memória nacional. Nesta edição, a Inteligência Artificial foi tema de duas mesas de discussão. Em uma delas, Paulo Barcellos, CEO da produtora O2 Filmes, de São Paulo, afirmou que o filme “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, de 2002, está passando por um processo de restauração. A proposta, de acordo com ele, é apresentar, inclusive, uma versão inédita da obra, a partir da implementação de novos detalhes com o uso da IA.

A necessidade de olhar para a ferramenta de forma apurada, entendendo os caminhos que ela oferece para que seja aliada na salvaguarda das produções nacionais, apresentando o que existe na lei brasileira e o que é permitido fazer, além da apresentação de casos em que a IA está sendo utilizada para a preservação, foi o tema do debate. Na ocasião, Barcellos afirmou que a O2 tem feito uma espécie “limpeza” nos frames do filme Cidade de Deus, detectando algumas imperfeições, sejam de imagem ou de som. “A IA nos dá a opção de escolhermos como ajustar da maneira que decidirmos.” É, no entanto, um processo longo e que começou há anos. Parte da restauração, inclusive, está sendo feita em um laboratório em Los Angeles.

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Duas versões de “Cidade de Deus”

Mais de 18 horas do material bruto do filme foi enviado à cidade dos Estados Unidos para passar por esse processo, que ele chama de “lavagem”. Depois da digitalização, as imagens poderão ser vistas em alta resolução, com tecnologias 4k e, ainda, 6k.

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O interessante, como afirma Barcellos, é que duas versões poderão ser visualizadas a partir dessa restauração, já que, com a IA, sons e imagens inéditos serão incluídos em “Cidade de Deus”. Já a outra será mais fiel à original, de 2002, com imagens com mais resoluções. O filme, no entanto, ainda não tem data para ser lançado, nem previsão, já que o processo, como afirma, está sendo a passos lentos.

Restauração e Inteligência Artificial

Essa possibilidade do uso da IA na restauração coloca em voga, ainda, os direitos autorais da obra. É por isso que, na mesa do CineOP, Marcos Alves Souza, secretário de direitos autorais e intelectuais do Ministério da Cultura (MinC), estava presente. A primeiro questão é o plágio, que pode surgir a partir do uso da ferramenta. Ele, no entanto, alerta: “Nenhuma lei de direitos autorais no mundo define o que é plágio. Plágio é definido, judicialmente, caso a caso, com a avaliação de peritos. É caso a caso. E isso vai fatalmente vir com a discussão da IA”. O método encontrado, por enquanto, é avaliar o seu uso e entender se, no caso, não atinge algumas das proibições previstas por lei.

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Marcos completa que a lei de direitos autorais brasileiras é “uma das mais rígidas do mundo em relação ao que se pode fazer com as obras”. Isso, então, pode atrapalhar no processo de restauração, sobretudo daqueles que ainda não entraram em domínio público. Mas os esforços do MinC, de acordo com ele, estão concentrados, ainda, em mudar esse cenário, para que as obras não acabem se perdendo.

“O acesso ao patrimônio audiovisual pode, sim, usar os direitos autorais. E, para dar segurança jurídica, nós estamos elaborando um decreto, porque o MinC tem competências regulatórias no campo do Direito Autoral, que, no caso de preservação de acervos, pode copiar, sim, porque, se não, perde o acervo. Nesse sentido, a gente tem que definir quando usar a IA para fazer a preservação audiovisual, ainda que se queira preencher as lacunas, mas tem que ter também a versão com lacuna. Porque a tecnologia evolui e talvez venha outra que faça uma coisa melhor.” Ele defende, então, que é preciso, além de restaurar, manter uma cópia original, caso novas formas de restauro sejam encontradas.

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Armazenamento e identificação

Em outro sentido, Renan Porto, head do Acervo Globo e gerente de tecnologia, aponta outros caminhos em que a IA tem sido facilitadora no processo de identificação das obras a partir das pesquisas, sobretudo dentro de uma empresa com tantos conteúdos e de diferentes áreas. De acordo com ele, a Globo tem o equivalente a 18 quilômetros de fitas empilhadas horizontalmente. Além da pesquisa, a empresa também implementou a indexação automática, que permite o armazenamento de maneira mais facilitada. Tudo isso está, ainda, em processo de melhorias. Mas desde a implementação, de acordo com ele, o acervo tem se encontrado em melhores condições de preservação.

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