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Alquimista da imagem

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A notícia inesperada que chegava de Belo Horizonte, nos idos de 1983, sobre o fim do “Diário Mercantil” interrompia uma carreira de 35 anos. Foi a serviço do veículo e do “Diário da Tarde”, ambos do grupo Diários Associados, que Jorge Couri aguçou seu olhar para o jornalismo diário. Os equipamentos eram grandes e pesados e não dispensavam um tripé para que as imagens não ficassem tremidas. “Por ser artesanal, a fotografia tinha um outro gosto”, revelou o fotógrafo em depoimento, em 2008, ao projeto “Diálogos abertos”, da Universidade Federal de Juiz de Fora. Jorge Couri morreu na última terça-feira, aos 85 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória.

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A equipe de fotógrafos da Tribuna faz reverência ao homem que fez escola e ao seu legado. Amigo de Couri da época em que ele atuou por quatro anos na Tribuna, o editor de fotografia Roberto Fulgêncio não se esquece das inúmeras vezes em que viu o “mestre” preparar as soluções utilizadas nas revelações das fotos.

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Curador da exposição “Um tributo a Jorge Couri: Uma homenagem a Juiz de Fora”, que integrou o projeto Foto 11, o superintendente da Funalfa, Toninho Dutra, voltou, na última semana, às mesmas sensações do dia em que recebeu o ilustre fotógrafo para um café. “Conheci o senhor Jorge Couri e, mais uma vez, me encantei e me emocionei com suas histórias, antes narradas pelas suas eficientes fotos, agora embaladas por sua voz de sabedoria, construída com trabalho e temperada pelo tempo. Dona Marilda, sua esposa, companheira de longa data, também ajudou a lembrar”, escreveu o superintendente no texto da exposição.

O acervo do “Diário Mercantil”, contendo os trabalhos de Couri, está acondicionado no Arquivo Histórico Municipal, que faz a digitalização em parceria com a Funalfa. A dimensão exata da coleção ainda é desconhecida.

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Para o jornalista Wilson Cid, a palavra humildade descreve bem aquele que dividiu com ele não só a redação do “Diário Mercantil”, mas também as atividades em um programa jornalístico diário para a TV Tupi, em 1980. Enquanto Wilson fazia os textos, Couri ficava por conta das produções das filmagens. O material era embarcado todos os dias, em um ônibus, para o Rio de Janeiro. “Era uma pessoa sem vaidades, não obstante o fato de ele exercer um cargo de chefia. O trabalho dele se sobrepunha à maioria dos trabalhos nessa área em Juiz de Fora. Fui a entrevistas com nomes como Luiz Carlos Prestes, Pedro Simon, e o Jorge sempre comigo, participando, entrando na conversa, sugerindo coisas. Ele estava sempre ligado. Sem nenhuma tentativa de fazer frase feita, com ele, foi enterrado um pedaço de cada um de nós profissionais que viveram sob sua competência.”

 

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“Além de um grande amigo, Jorge Couri foi meu mestre. A singularidade do seu clique sempre captou elementos que faziam as suas imagens falarem por si. Suas fotografias eram o reflexo de uma capacidade profissional diferenciada: antes de apertar o botão, suas fotos já tinham sido registradas nos mínimos detalhes pelo seus olhos, e assim foi por seis décadas. Uma frase dele, que sempre carrego comigo: ‘Uma boa fotografia não precisa de legenda’.”

Roberto Fulgêncio

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“Tio Jorge, era assim que me dirigia a ele, que sempre alegre vinha logo com um elogio em relação a alguma foto minha publicada. Não fui cria dele, mas fui do meu tio Tuninho Maria, “aluno” dele nos “Diários Associados”. Vai com Deus. Na minha memória, você está vivo, sempre. Minha gratidão e respeito.”

Olavo Prazeres

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“Sr. Jorge Couri fotografou em uma época trágica da nossa história. Grandes transformações mudaram a face da cidade e do Brasil em um período de aceleração do militarismo e do processo histórico. Em meio ao turbilhão da ditadura, ele escreve sua trajetória nas páginas do jornal, deixa-nos um legado histórico incalculável e revelador. Um mestre na forma de retratar a história, criou com tal veemência que deixou atrás de si imagens fantásticas, que serão estudadas por seus seguidores e admiradores. Ele tinha o dom de recortar o tempo e guardá-lo para o futuro. Se me perguntarem qual homenagem faço ao sr. Jorge, digo o seguinte: Infelizmente não consegui trabalhar com ele, mas observem com atenção minhas fotografias na Tribuna, elas contêm um pouco do que aprendi observando seu trabalho.”

‘O olho do homem serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio.’ Machado de Assis

Fernando Priamo

 

“A primeira vez que vi e conversei com Jorge Couri foi durante um evento de fotografia em 2011, no qual ele fora o grande homenageado. Ele era diferente da imagem que construí, baseada em várias histórias, contadas por diversos fotógrafos que o apontavam como um grande mestre da fotografia. Não me frustrei. Sei que até os heróis mais combativos também envelhecem. Eu tinha muitas perguntas, mas achei que aquele não era o momento. Tempos depois, a Tribuna lançava um livro de fotos comemorando os 30 anos do jornal. Na ocasião, pedi a todos os fotojornalistas presentes que assinassem o meu exemplar. Infelizmente, seu Jorge não pôde ir ao evento. “Depois eu pego, essa assinatura não pode faltar”, pensei. Jorge Couri partiu deixando um espaço vazio não apenas na primeira página do meu livro, mas na história do fotojornalismo, me lembrando que a vida, às vezes, é como a fotografia e que algumas oportunidades não se repetem.”

Marcelo Ribeiro    

“Falar de Jorge Couri é contar a história de Juiz de Fora. Sr. Couri fez escola. Marcou época. Criou um padrão e virou referência para diferentes gerações. Um exemplo a ser seguido. Minha grande inspiração.”

Felipe Couri

 

“O pioneiro, o professor, o alquimista da fotografia, o mágico que coloria com seu talento as imagens em ‘preto e branco’. Direta ou indiretamente, todo fotojornalista de Juiz de Fora herdou a genética de Jorge Couri no seu olhar.”

Leonardo Costa

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