
Uma coisa acaba levando a outra e, quando vê, é realidade – ou quase. Um filme qualquer pode dar margem às invenções mais mirabolantes. Ao assistir ao filme “Expresso do amanhã”, do diretor Bong Joon-ho, Mário Esteves (Pros), prefeito da cidade de Barra do Piraí, no Sul do Estado do Rio de Janeiro, foi a imagem de um trem imerso no gelo que ficou na sua cabeça. A partir disso, ele teve uma ideia: “por que, então, a gente não faz um bar de gelo em um trem?”. O bar de gelo já é atração turística em diversas cidades mundo afora: aquele em que as pessoas precisam de roupas específicas para aguentar temperaturas negativas enquanto tomam uma bebida. Mas um bar de gelo em um trem seria novidade. Essa ideia passou a ser concretizada no dia 14 deste mês, quando, de Juiz de Fora, saiu um vagão do Trem de Prata em direção à cidade fluminense. Barra do Piraí, ainda neste ano, será, segundo os planos de Esteves, a primeira cidade do mundo a ter um bar de gelo em um trem.
Ao contar essa ideia ao secretário de Turismo, Cultura e Lazer da cidade, Rafael Couto, o prefeito, de primeira, não foi bem entendido, afinal, a proposta, mesmo que chamativa, precisava de muitos trâmites para sair do papel. Mas as coisas foram sendo encaminhadas. O Distrito de Ipiabas fica na rota da cidade turística de Conservatória e, por isso, é muitas vezes considerado pelos turistas como simples passagem, sem atenção às histórias que a comunidade guarda. A sugestão foi, então, tornar o distrito também um lugar turístico, para que as pessoas passassem a ficar também em Ipiabas. Com isso, surgiu o interesse em criar um complexo de atrações que facilitaria essa estadia.
Complexo turístico em Ipiabas
O bar de gelo em um trem é apenas uma das propostas, que também inclui a criação de um estação ferroviária, com Maria Fumaça, charretes elétricas e um Boeing 727 com “experiência de metaverso”, diz o prefeito. A previsão é de que a estação ferroviária seja inaugurada em junho e todo o resto fique pronto até o final do ano, para uma cerimônia próxima ao Natal. A aeronave, segundo Esteves, foi doada por uma companhia falida (não revelada por ele) e aguarda alguns trâmites para ser encaminhada a Barra do Piraí. O avião está estacionado no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Só o trem que, até agora, chegou à cidade. De acordo com Esteves, todas esses aparatos serão reformados para terem unicidade, fazendo referência a temperaturas mais amenas, que, inclusive, é uma das características de Ipiabas. “A gente vai fazer uma intervenção cinematográfica. O trem, por exemplo, será acoplado a um vagão, como se tivesse sido ‘engolido’ por um iceberg, para dar essa ideia de frio. Ele vai estar com temperaturas a 20 graus negativos. Tudo vai falar a mesma língua.” Com isso, o prefeito quer também movimentar a economia do distrito e de toda a região, com geração de emprego e renda.
O Trem de Prata
O Trem de Prata, cujo vagão será transformado em bar de gelo, foi um serviço ferroviário inaugurado em 1994, que, antes, tinha o nome de Trem Santa Cruz. O trem fazia a ligação entre Rio de Janeiro e São Paulo, saindo da Estação Barão de Mauá, no Rio de Janeiro, com direção à Estação Barra Funda, na Estrada de Ferro Santos – Jundiaí, em São Paulo. Ele funcionou por pouco tempo, até 1998, quando foi desativado por falta de lucro. A proposta, naquela época, era ser um transporte de luxo. O serviço era administrado por um consórcio, formado pela empresa de hotéis de Angra do Reis, Portobello, com a companhia de transporte rodoviários Útil.
Com sua desativação definitiva, o Trem de Prata foi colocado sob os cuidados da Rede Ferroviária Federal, extinta em 1999. A ferrovia entre Rio de Janeiro e São Paulo seria então concedida à MRS. Parte da estrutura do Trem de Ferro foi deixada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) na Estação Francisco Bernardino, em Juiz de Fora. Atualmente, esse espaço em específico é de responsabilidade da ONG Amigos do Trem, que tem sede em Juiz de Fora, e tem como objetivo a preservação dos patrimônios ferroviários. Assim como o Trem de Prata, outros carros que foram cedidos para a ONG ficam nesse espaço.
De acordo com o prefeito de Barra do Piraí, Mário Esteves, o vagão foi conseguido através de uma cessão de bens por parte do DNIT. Cyntia Nascimento, da ONG Amigos do Trem, explica que, “quando o bem é passado para a associação ou prefeitura, eles são responsáveis pela manutenção e segurança do vagão, que, por se tratar de um bem federal, não pode ser doado”. Um outro vagão do Trem de Prata se transformou em um restaurante em Santos Dumont. A MRS, em nota, deixou claro que não tem relação com esses projetos.