“Já fiz várias exposições na minha vida, mas constatei que a arte tem que estar inserida nos espaços urbanos, onde as pessoas possam ver quando estão caminhando, quando vão para o trabalho… Se estão tristes, contemplam aquela obra e ficam mais felizes, fazem contato com a arte. O povo mais carente da sociedade não vai a galerias de arte.” Desta forma, o artista plástico juiz-forano Ricardo Barcellos faz valer a velha máxima de Milton Nascimento, que diz que “Todo artista tem de ir aonde o povo está”.
Presente no cotidiano da cidade, Ricardo tem diversas obras, como telas, painéis de grandes dimensões, mosaicos, esculturas de pedra ou ferro, espalhadas pelas ruas de Juiz de Fora. Releituras, feitas em mosaicos, de trabalhos como “Mulher e cachorro diante da lua”, de Joan Miró, “Blue nude IV”, de Henri Matisse, e “Abapuru”, de Tarsila do Amaral, transformam os ambientes de praças de bairros como Bom Pastor, São Mateus, Santa Luzia, entre outros.
O artista, que trabalhou dois anos no Projac, da Rede Globo, como produtor de cenário, ainda tem obras expostas no Rio de Janeiro, Belo Horizonte São Paulo e Salvador. Sua arte também já habitou as ruas e exposições em outros países. Ricardo já teve obras expostas na Avenida Champs Elysées, em Paris, no Bairro Caminito, em Buenos Aires, e em várias cidades de Portugal.
Além das intervenções urbanas, o artista plástico produziu fundos de palco para artistas consagrados da música brasileira como Erasmo Carlos e Hebert Viana.
A intrínseca relação da família com a arte
Ricardo pertence à quinta geração de uma família ligada às artes. O avô, desenhista, e o pai, restaurador de igreja, função que também desempenha. Há cerca de dois anos, ele restaurou o altar da capela Senhor dos Passos, da Santa Casa de Misericórdia. Autodidata, ele deu os primeiros passos no universos das criações ainda menino, quando construía seus próprios brinquedos.
Já mais velho, Ricardo serviu ao Exército, onde era desenhista. Paralelamente ao tempo dedicado às artes, foi bancário. “Com o tempo, eu resolvi sair do banco para trabalhar com o que gostava, e ganhava muito mais com arte do que no banco”, conta.
Ações que saem da obviedade
Há quase três anos, Ricardo fez um trabalho com os detentos da penitenciária José Edson Cavalieri, no Bairro Linhares. Lá, desenvolveu trabalhos artísticos de tema livre com cerca de 30 presos. “Ensinei como pegar no pincel, fazer pigmentação… foi um trabalho muito bonito. Fiquei muito grato por poder fazer este trabalho porque são pessoas excluídas da sociedade. No primeiro dia, eu senti um clima muito pesado, mas depois as coisas foram se adaptando, e foram quatro dias de oficinas de arte. No final, eles gostaram muito, vieram me agradecer, foi muito gratificante”, conta o artistas plástico.
Ricardo também é dá palestras em escolas, não só em instituições especializadas em arte, mas também em colégios públicos e particulares, onde tem contato com crianças e adolescentes. “Os jovens curtem arte, eu deixo eles pintarem comigo, é bonito e divertido”.
Planos para o futuro
O artista tem como projeto futuro realizar intervenções nas laterais de prédios da cidade. Grandes painéis que podem romper com a repetição da paisagem urbana. Além disso, ele se prepara para ir a Roma no final do ano. “Vou tentar entregar uma tela para o Papa Francisco. Se tanta gente consegue, por que não tentar?”, conta Ricardo.