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Occa recebe exposição ‘O Eldorado de Boscone’

Eldorado
Exposição “O Eldorado de Boscone” surgiu na pandemia, como forma de propor um novo mundo naquele momento (Foto: Felipe Couri)
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Uma antiga lenda, do período de colonização das Américas, conta sobre Eldorado: um rei que se cobria com pó de ouro e mergulhava em um lago localizado nos Andes. Do homem dourado, foi fantasiado um lugar dourado, principalmente pela predominância do ouro nas áreas recém-descobertas pelas europeus. Muitos já foram em busca desse lugar, mas nada exatamente foi encontrado que comprove essa história, que fez parte do imaginário daquele período e perpassou.

Sem registros, cabe à imaginação dar conta de como havia sido esse lugar: quais eram as vestimentas, os hábitos, a arquitetura, os meios de locomoção e, inclusive, as pessoas. Se a cidade Eldorado existisse, como ela seria? Foi esse o mote de criação de uma série de pinturas feitas pelo artista visual e arquiteto Daniel Boscone, que deu origem a uma exposição. “O Eldorado de Boscone” fica disponível para visitação até o próximo sábado (30), no Occa, casa de cultura e entretenimento que funciona de quarta a domingo (de quarta a sexta, a partir das 19h, e, no fim de semana, a partir das 18h), na Rua Padre João Emílio 11 – Passos. A entrada é gratuita.

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Boscone nasceu em Cataguases e fez Arquitetura na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ele conta que desde muito novo tem interesse pelas artes visuais, desenhava desde quadrinhos àquilo que assistia nos desenhos animados. Na sua cidade natal, participou de projetos e teve contato com outros artistas que foram responsáveis por inflamar esse seu desejo pela arte. Tanto que, na Arquitetura, procurou, exatamente, desenvolver tudo o que tinha aprendido na área até então, buscando, inclusive, matérias em outros cursos similares na universidade. “Pequenas coisas em momentos diferentes da vida. Mas a pintura me marcou. Eu sempre gostei de tinta, eu lembro, pequeno ainda, o cheiro de tinta óleo e acrílica. Umas coisas que vão marcando.”

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Além das pinturas e dos desenhos, Boscone também tatua. E, de alguma forma, tudo está relacionado. “Eu direciono o que eu faço, porque tem mutações. A tatuagem é específica. O passo a passo, não tem muito a ver. Lógico que eu consigo tirar as obras, um desenho para a tatuagem, mas o processo de criação é muito diferente. A tatuagem até pode ter traço de pincel. Isso em uma época que eu estava estudando muito pintura. E eu comecei a gastar essa onda também na tatuagem. Elas se relacionam, mas é outra coisa”. Outra coisa que marca é sua passagem pelo Coletivo Bananal, uma casa coletiva e artística, lugar onde de desenvolveu boa parte de sua criação.

Imersão de Boscone em Eldorado

Foi lá que o mundo Eldorado começou a nascer em Boscone. Ou melhor: “A utopia Eldorado”, como diz. Na pandemia, aquele começo depressivo, o artista se viu imerso nessa realidade. “Mas eu comecei a pensar em Eldorado de forma artística, como uma arte-terapia para mim. E fui estudar. Porque a série nasce de um estudo de cultura e arquitetura também. Pensei como seria esse lugar sem as mazelas. Eu fui explorar como seria uma sociedade pré-colombiana se ela tivesse persistido até hoje. Fazer desse cenário utópico, esse lugar sem mazelas, que eu estava pensando, uma Eldorado que estivesse persistido até hoje.”

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“Pensei como seria esse lugar sem as mazelas. Eu fui explorar como seria uma sociedade pré-colombiana se ela tivesse persistido até hoje”, afirma Boscone (Foto: Felipe Couri)

Diariamente, Boscone ia pensando nessa Eldorado, nos ares do ouro. Mas sem colocar como principal a exuberância do ouro. Na “Eldorado de Boscone”, a exuberância está nas pessoas: a maioria caricata, com cores extravagantes e propostas que fogem daquilo que é considerado “normal”. “Para as cores, eu queria me opor ao cinza atual, à frieza do que eu estava sentindo. Eu comecei a criar coisas alegres e tropicais.” Não à toa, sua primeira criação foi uma mulher com cor magenta. E ela se difere, em certa medida, da última criação: um homem mais “realístico”.

“Em algumas pinturas, eu tentei mostrar como era a festa, vestimentas e hábitos. Comecei com peles coloridas e depois coloquei uma carnação mais realística. Era um processo e parou. Eu tive que parar para fazer outras coisas. Acaba que o processo vai mudando. Esse rosto é o último estágio de intimidade com a tinta que eu tive do que eu queria esteticamente passar. Que é bem diferente do primeiro, a moça magenta. Se eu continuasse ia mudar muito, porque eu ficava estudando o dia inteiro, vendo coisas que eu queria perseguir. Muda, mas tudo conversa.”

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Projeto segue

A Eldorado de Boscone, não a exposição, mas sua experiência imersiva de criação, segue. Apesar de ele achar que já deu, completa que “Eldorado dá pano para manga”. Ele só parou de produzir porque sentiu que, com o tempo, as pessoas iam mudando de rosto e isso poderia impactar na sua memória da cidade e das criaturas do ouro. A cartografia já começou a ser feita. E, enquanto conversa, assume: “Na minha cabeça Eldorado existe todo. Eldorado está pronto”. E não ter nenhum registro de Eldorado, para Boscone, foi bom. “Porque eu não queria representar a arquitetura maia como se ela tivesse chegado até hoje. Não é isso. Eu queria uma coisa sem registro, que eu pudesse criar em cima. Não tem. Mas e se tivesse, como seria?” Sua ideia, em alguma medida, é crescer Eldorado para outros sentidos: pensar nos carros, os celulares, a sociedade como um todo. “Eu queria montar um bairro inteiro com essas casinhas.”

Mesmo que não especificamente, Eldorado perdura em sua criação. Parte do que foi feito deu origem ao “Fruta corpo“, nome que deu aos acessórios que tem feito, ainda como parte daquela utopia, principalmente as iconografias e os símbolos presentes nos quadros. Ainda que confesse estar um pouco distante da produção artística, Boscone conta que qualquer coisa que fizer, agora, acaba, sim, tendo relação com Eldorado. “Tem relação com o que eu aprendi pintando os quadros. Porque foram aulas consecutivas. Então, qualquer coisa que eu for fazer eu vou lembrar. Conversa. E fica viva na produção. Por isso que é ruim ficar tanto tempo sem pintar, porque você perde a intimidade, saber exatamente o que vai acontecer na pincelada, a cor que vai ficar. É bom retornar para não perder.”

Festa Eldorado

Como grande parte das representações das pessoas de Eldorado são ligadas à festa, Boscone e a equipe do Occa está preparando uma festa Eldorado para o encerramento da exposição. A data ainda não foi confirmada, mas os dados vão ser divulgados no Instagram (@occaponto).

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