De setembro a dezembro de 2016, 20 bandas (de um total de 76 inscritas) de Juiz de Fora e região se apresentaram no Espaço Subsolo, do Cultural, dentro do Festival Sangue Novo, projeto tocado pela Show Música e pelo Cultural, pra dar visibilidade à produção autoral independente. Agora, as cinco finalistas do festival se apresentam nesta sexta-feira, às 23h, no mesmo espaço, para a gravação de um DVD que vai mesclar os artistas no exercício de seu ofício, depoimentos dos integrantes das bandas e imagens pinçadas durante as fases classificatórias do evento. O registro audiovisual deve ser lançado em junho, quando está previsto o lançamento oficial do segundo ano do Festival Sangue Novo.
Segundo um dos organizadores e integrante do Show Música, Felipe Panisset, cada banda realizará um show de 40 minutos de duração, do qual será selecionada uma canção para o DVD, a critério do artista. Será a oportunidade, então, de rever ou conhecer a diversidade musical que marca o trabalho dos finalistas de 2016: Me Gusta Xagusta (MPB experimental surgida em Rio Novo e migrada para JF, campeã do festival), Pathos (rock progressivo/psicodélico), Soute (folk/pop, de Ubá), Mauloa (reggae/ska/rock) e Blend 87 (MPB/pop-rock). Ainda de acordo com Panisset, o Sangue Novo surgiu como um projeto para o Cultural conhecer novos artistas e incluí-los em sua agenda, mas a ideia tomou tal forma que o Show Música foi convidado para ser parceiro na realização do festival.
“Foram dadas as oportunidades para que esses artistas novos, com propostas diferenciadas, tivessem a possibilidade de se apresentar na maior casa da cidade, mostrando aquilo que é a sua verdade musical. Demos a melhor estrutura possível e também oferecemos premiações que pudessem ajudar nas carreiras desses projetos musicais, pois Juiz de Fora tem muito potencial na sua produção autoral, desde que sejam dadas as devidas chances e haja uma sazonalidade frequente.”
Outra prova do sucesso, para os organizadores, foi a decisão de se realizar a gravação do DVD, que teve o apoio das bandas finalistas. Para dar corpo ao material, foi definida mais uma rodada de shows, que terá parte das apresentações unida ao material que já vinha sendo registrado nas fases eliminatórias, que inicialmente seria para documentação própria. “Além de documentar, as bandas passam a ter um material audiovisual de seu trabalho autoral”, destaca.
As inscrições para a segunda edição do Sangue Novo serão abertas no dia do lançamento do DVD, com dois meses de apuração e escolha das concorrentes. “Os shows da primeira etapa devem começar em agosto, e para o festival deste ano as bandas que apresentarem comprovante de doação de sangue terão 50% de desconto no valor da inscrição.”
Mostrando (de novo) o (novo) trabalho
A reedição da final é mais uma oportunidade para os artistas reforçarem a visibilidade de suas produções. Campeão do Sangue Novo de 2016, o Me Gusta Xagusta vai apresentar oito músicas do CD (ainda sem nome definido) que deve sair do forno entre maio e junho, além de uma versão de “Mistério do planeta”, dos Novos Baianos. Segundo o idealizador do projeto musical, Gustavo Xavier Agostinho (o Xagusta), a música que vai para o DVD ainda não foi definida, ficando entre uma instrumental sem nome e “Calos”, que já pode ser conferida na página da banda no SoundCloud. “O CD foi gravado em meados do ano passado com o Aldo Torres, na sala da casa dele em São João Nepomuceno, de forma independente. A ideia é fazer o lançamento quando a banda estiver pronta. Estamos ensaiando as canções do álbum, e a hora do show de lançamento será quando estiver tudo certo.”
Já o Pathos vai mostrar o que o guitarrista Ricardo Marliere considera os “momentos mais marcantes” de “Elixir”, trabalho de estreia da banda, e uma nova: “Eve’s dropping apples”, uma interpretação livre da história de Eva e a Serpente. “A escolhida para o DVD foi um consenso entre todos da banda e será a queridinha ‘Untitled (formerly known as The God)’, que integrará o trabalho em grande estilo!”, garante Ricardo, lembrando que o Pathos segue com seus experimentos musicais em estúdio. “Vamos aproveitar o que ficar legal. A ideia é intensificar o processo de composição do novo disco e deixá-lo pronto para gravarmos ainda este ano.”
Frontman e idealizador do Soute, João Almada adianta que a banda vai apresentar no Cultural o material novo que estará no EP “Nada é igual”, cuja canção-título foi a escolhida para o DVD. A ideia para a banda veio em 2014, quando ainda integrava o Casa Roots e tocou em Belém do Pará. “A variedade de instrumentos e músicas chamou minha atenção. Veio também a inspiração de tocar mais instrumentos, e fiquei na dúvida entre continuar no Casa Roots ou criar um novo projeto. Fiquei com a segunda opção”, diz João Almada, que iniciou o Soute em 2015 como uma “one man band” e gravou o single “Nada é igual”, lançado em fevereiro de 2016. “Ele foi executado em dez estados e três países (Canadá, México e Finlândia). Teve uma menina, participante do ‘The Voice’ local, que mandou mensagem dizendo que havia escutado a música.” Agora, além de ser o vocalista e tocar violão, viola caipira, gaita, bumbo, meia-lua, kazoo e escaleta, João é acompanhado no palco por Giovane Schiavon (baixo), Dode (violoncelo, pandeiro, gaita e voz) e Tiago Glomer (bateria, washboard, violão).
Próximos passos
Outra finalista do Sangue Novo, a Blend 87 vai tocar essencialmente as canções que vão entrar no seu primeiro CD, “Concebido por acaso na Terra”, financiado por meio da Lei Murilo Mendes e que deve ser lançado em maio. Segundo a produtora executiva do grupo, Lara Daibert, o repertório terá releituras de artistas que influenciaram a banda, como Gilberto Gil, Belchior e Lô Borges. A canção que vai entrar no DVD é “De vagar”. “O álbum foi gravado em outubro no estúdio Versão Acústica, do Emmerson Nogueira, que tocou viola caipira em uma das faixas. Ele está no processo final de mixagem e masterização”, diz Lara, acrescentando que a Blend 87 já tem alguns shows agendados na região, os primeiros além dos limites de Juiz de Fora. “Fizemos também uma parceria com a banda Playmobille, finalista do ‘Superstar’, que vai tocar na cidade em junho e para quem vamos fazer o show de abertura.”
Por fim, a Mauloa vai apresentar um trabalho autoral, com duas covers no máximo, que refletem o novo momento musical da banda, que selecionou “Mantra” para o DVD. “Ela reúne as novas ideias musicais do grupo, que iniciou as gravações de um EP com a formação antiga mas reformulou sua ideia musical desde então. A ideia é gravar para lançar até o final do ano”, conta o produtor Lipe Furtado.
Incentivo e novos amigos
A reedição da final do Sangue Novo serve ainda para os artistas lembrarem de um momento especial em suas carreiras, que serviu de incentivo, aprendizado e oportunidade de conhecerem nomes da produção local que, muitas vezes, passariam ao largo por serem de tribos musicais diferentes.
“Foi uma jornada incrível, com muitos frutos a serem colhidos. Coincidiu com o retorno da banda aos palcos, e terminar o trajeto dentre os finalistas após quase termos ficado de fora da primeira seleção foi muito gratificante e nos motiva a seguir viagem” diz Ricardo Marliere, da Pathos. “Conhecemos pessoas de outros estilos musicais, e isso ajuda a não ficar apenas na mesma tribo”, pontua Lipe Furtado. “E o festival foi uma grande porta para a gente, para sabermos como estamos no meio musical. Estávamos reformulando a banda e tivemos que correr, quando vimos que conseguimos o quarto lugar foi uma sensação muito boa.”
Lara Daibert salienta que o Sangue Novo se tornou um espaço importante para a produção musical da cidade, que considera rica, mas carente de espaço para o trabalho autoral. “Ainda estamos conquistando nosso público, e o Sangue Novo aconteceu num período importante para nós, com o aumento do número de apresentações. E agora teremos a oportunidade de tocar no mesmo palco que o Lô Borges se apresentou na semana passada.”
Vencedor do festival em 2016, Gustavo diz que a honraria é uma faca de dois gumes. “É sinal de que você está direcionando sua potencialidade num caminho que consegue enxergar como o certo; mas tem o outro lado, que é o alimento para o ego, mas você não pode tê-lo se o efeito for de comparação com outros artistas”, alerta. “Ao mesmo tempo, o fato de ter vencido a competição não quer dizer que alguém perdeu. O baterista da Pathos (Hugo Moutinho) disse na ocasião que ninguém saiu perdendo, pois foi uma competição que privilegiou as pessoas, todo mundo ganhou a oportunidade de se apresentar. É você direcionar sua energia para algo que é relevante.”