Todos os olhos do mundo do cinema e dos cinéfilos em geral estarão voltados neste domingo (24) para o Teatro Dolby, em Los Angeles (Estados Unidos), onde acontece a 91ª edição do Oscar, a premiação mais famosa da sétima arte. No Brasil, a transmissão fica por conta do canal fechado TNT, que a partir das 20h30 mostrará artistas e celebridades passando pelo tapete vermelho e acompanha a cerimônia desde o início; já a TV Globo, como nos anos anteriores, deve iniciar a transmissão por volta das 23h, assim que acabar o “Big Brother Brasil”.
Tudo começou em agosto de 2018, quando a Academia anunciou a criação do prêmio de “melhor filme popular”. Sim… “Filme popular”. A organização do Oscar nunca explicou muito bem do que se tratava, mas ficou a impressão de que estava se criando uma espécie de “segunda divisão”, um “cala-boca” para quem reclama que blockbusters como “Batman: O Cavaleiro das Trevas” ou de franquias clássicas como “Star Wars” são esquecidos na categoria melhor filme em detrimento de produções “de arte”, aquelas de pouca bilheteria, sempre lançadas no final do ano para o Oscar e que logo são esquecidos.
A revolta foi geral, com acusações de que a Academia estava deixando claro seu desprezo pelos filmes populares. A organização do evento voltou atrás, declarou que a categoria não seria para este ano e depois enterrou o assunto.
Na sequência, foi anunciado que o comediante Kevin Hart seria o apresentador da cerimônia, assumindo o posto que já teve – para o bem ou para o mal – Billy Cristal, Seth MacFarlane, Jimmy Kimmel, Chris Rock, Steve Martin, Jon Stewart, James Franco, Ellen DeGeneres, Chevy Chase, David Letterman, Hugh Jackman, Anne Hathaway e Whoopi Goldberg, entre tantos outros. Porém, uma série de antigas postagens homofóbicas do artista no Tweeter fez com que a Academia exigisse que ele pedisse desculpas. O ator se recusou, dizendo que já havia se desculpado anteriormente, e desistiu de ser o mestre de cerimônias. A Academia, então, decidiu não ter um apresentador oficial, mas rumores nos últimos dias indicavam que Whoopi Goldberg poderia aceitar o posto.
E a última trapalhada aconteceu no início do mês, ao anunciar que quatro categorias teriam os vencedores anunciados durante os intervalos comerciais: montagem, fotografia, curta-metragem e maquiagem. A desculpa para isso foi a de encurtar o tempo da premiação, um dos motivos para a perda de audiência. Aí foi a vez dos profissionais da área, cineastas e atores e atrizes em geral protestarem por considerarem “um absurdo” a premiação máxima do cinema desprezar os profissionais da sétima arte por conta de audiência televisiva. Após protestos, ameaças de boicote, cartas abertas e afins, a organização do evento voltou atrás.
E quem vai levar o Oscar
Ainda que a polêmica e perda de prestígio estejam na ordem do dia da Academia, ainda vai ter o Oscar como nós conhecemos, e as apostas correm soltas sobre quem vai levar os prêmios principais. Na categoria de melhor filme, produções como “Nasce uma estrela” e “Green Book: O guia”, já estiveram em alta e agora são considerados azarões. Muitos apostam em “Roma”, de Alfonso Cuarón, mas a produção da Netflix pode ter como “consolação” a estatueta de filme estrangeiro.
Entre os motivos, o fato de longas com diretores mexicanos terem vencido de forma constante na década e de ser uma produção da Netflix, originalmente feita para os assinantes da plataforma de streaming. Isso aumentaria as chances de filmes como “Infiltrado na Klan”, de Spike Lee, ou “A favorita”, do grego Yórgos Lánthimos. “Vice”, de Adam McKay, é visto como um azarão; “Bohemian Rapsody”, apesar do sucesso de bilheteria, seria uma grande surpresa.
Mas quem aparece como o longa com menores chances e que ainda pode ser a surpresa da década é “Pantera Negra”. O longa da Marvel é o primeiro do gênero de super-heróis a disputar a principal categoria do Oscar e muitos já vêm o feito como prêmio de consolação, até por não ter indicações a categorias como diretor, ator, ator coadjuvante e roteiro adaptado. Porém, o Oscar de melhor filme tem suas peculiaridades: os votantes precisam elencar os oito filmes do melhor para o pior, e o vencedor é aquele que estiver no topo em mais da metade das listas; caso isso não aconteça, o nome é obtido após uma série de descartes, cálculos matemáticos, até que algum filme ultrapasse os 50%.
Isso quer dizer que se um filme dividir os votantes, ficando igualmente no topo e na rabeira das listas, ele pode ser descartado nas rodadas seguintes, e produções com votações expressivas em segundo e terceiro lugar acabem tirando vantagem disso e subindo ao palco para levar o careca dourado para casa. Como “Pantera Negra” é cotado para estar no top 3 das listas dos eleitores da Academia, na linha “não coloco em primeiro lugar, mas reconheço sua relevância”, ele pode surpreender pela média. Aí, a questão é saber se os favoritos darão essa brecha no domingo.