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Valeu, Tremendão!

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“Tremendão” fez história na música brasileira como cantor e compositor, tendo ao lado ícones como Roberto Carlos e Wanderléa. Ele deixa um legado de sucessos, como a música “Mesmo que seja eu” (Foto: Divulgação)
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Nos anos 80, Juiz de Fora era tomada pelo movimento punk, que ocupava as ruas, as casas de shows e, inclusive, os estádios da cidade – onde, naquela época, era comum acontecer os shows com nomes nacionais. A amostra talvez mais clara nessa mistura da década é o Primeiro Festival de Rock, que aconteceu precisamente em 13 de agosto de 1983, no campo do Sport, com cerca de 10 mil pessoas no gramado. O evento propunha, ainda, uma mescla entre os rocks: o mais histórico, o brasileiro e, então, propriamente, o punk. Além de nomes que decolavam em todo Brasil, estavam outros no começo de carreira, da cidade e da região. Para citar nomes: Rogério Skylab, de Palma, acabava de começar na carreira; Barão Vermelho já tinha prestígio nacional; Beatles Forever representava a cidade com o rock clássico. Mas eram Raul Seixas e Erasmo Carlos as grandes estrelas da noite.

Neste Dia dos Músicos (22), morreu Erasmo Carlos, aos 81 anos, após ser intubado na noite anterior. Ele vinha tratando de uma síndrome edemigênica, que o fez ser internado outras vezes no Rio de Janeiro. O rosto da Jovem Guarda, que escreveu mais de 600 músicas, e incluiu a guitarra elétrica como elemento essencial na música, estava em Juiz de Fora naquela noite histórica de 13 de agosto de 1983. Na reportagem que a Tribuna publicou dias depois do show, o jornalista Walter Sebastião descreveu: “Por volta da manhã, cantou Erasmo Carlos, mostrando alguns de seus sucessos, e oscilando entre o romantismo de suas canções mais recentes e uma antologia de velhos rocks”. Foi uma noite que se estendeu pela madrugada, e marcou uma geração que viu o tremendão em um show inesquecível, apesar de pouco emocionante.

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Aqueles que viram Erasmo

Por trás da organização do Festival de Rock estava a Revista Bizzu, lançada também naquele dia, que se destacou por centralizar as ideias mais alternativas na cidade, além de shows como esse que trouxe Erasmo e Raul (esse, na única vez que esteve em Juiz de Fora). Toninho Buda, fã e amigo de Raul Seixas, tendo escrito vários livros sobre o músico, fez parte da Sociedade Alternativa, e, por isso, foi o elo entre a organização e o cantor. De acordo com ele, trazê-lo, juntamente com o Erasmo Carlos, foi um trabalho em conjunto, inclusive, com pessoas do Rio de Janeiro, como a Maria Juçá, uma das idealizadoras do Circo Voador. “Eles vieram e foi um fuzuê danado na cidade. Foi um negócio doido. Eles chegaram em uma limousine branca”, relembra. Aquele dia, inclusive, foi a primeira vez que Toninho cantou com Raul. Foi, também, a primeira vez que o “Maluco Beleza” dividiu o palco com Erasmo – o que se tornou comum graças aos projetos do Baú do Raul, que reúne nomes da música brasileira relembrando os clássicos de Raul. Erasmo sempre estava lá. Toninho também.

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Beatles Forever era uma das atrações. Chico Forever, apesar dos quase 40 anos de distância, lembra bem das apresentações. O que chamou atenção dele foi o atraso: responsável por fazer com que o show de Erasmo fosse às 2h e o de Raul quase no amanhecer. “Para a entrada do Erasmo, ficou uma lacuna de quase uma hora. A gente (Beatles Forever) tinha se apresentado antes, por volta de 22h, e já era uma, duas ou três da manhã e nada dele. Começaram os rumores de que ele não tinha recebido, ou estava passando mal.”

Toninho lembra do atraso e explica: “Foi um problema danado para eles subirem ao palco. Porque não tinha dinheiro para pagar os dois. Os empresários não queriam deixá-los subirem ao palco antes de pagar o cachê. Não tinha dinheiro”. Com a insistência da organização, eles, por fim, se apresentaram. Toninho conta que a iniciativa de tocar partiu principalmente do Raul, que convenceu o amigo. “Foi um show um pouco quieto, uma música atrás da outra. Ele não falou muito. Não sei se ele estava muito bem naquela noite, mas ele foi profissional”, comenta Chico. Isso explica a legenda da foto tirada por Humberto Nicoline no show, que saiu nas páginas da Tribuna: “Erasmo Carlos – Cantando o trivial, sem emocionar o público”.

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É inegável a importância dessa noite àqueles jovens atentos ao mundo do rock. Erasmo Carlos, naquela ocasião, um ano depois de lançar o disco “Amar para viver ou morrer de amor”, se firmava como um nome para além da Jovem Guarda, apostando em novos formatos para sua música, ora fazendo um som mais pesado, ora uma canção romântica. Oseir Cassola foi a assessora de comunicação do festival. “Ele representou uma ligação entre a jovem guarda e as juventudes que vieram logo em seguida. A juventude sempre olhava para ele com muito respeito. São inúmeras as participações que ele fez com a juventude pós-Jovem Guarda. É um legado imenso.”

De volta à Jovem Guarda

Aos 81 anos, Erasmo não negou, em momento algum, sua origem e o começo de toda a carreira. Exemplo disso é seu último disco, o “O futuro pertence à… Jovem Guarda”. Nele, ele recorda os sucessos da Jovem Guarda que, apesar disso, ainda não tinham sido cantadas por ele. No último dia 17, inclusive, o álbum ganhou o Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa”.

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